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Queda de marquise: "Área não precisava estar isolada", diz dono de empresa que realiza obra

Estrutura desabou na quinta-feira causando a morte de duas mulheres

22/07/2016 - 14h24min

Atualizada em: 22/07/2016 - 14h25min


Jaqueline Sordi
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Dono da empresa responsável pela obra que estava sendo realizada na fachada do prédio cuja marquise desabou e matou duas pessoas na manhã de quinta-feira, o empresário Bento Ramos, da Empreiteira Concreto, afirmou que estavam sendo adotadas todas as medidas de segurança necessárias para a realização da reforma.

Conforme Ramos, não era necessário colocar uma faixa de isolamento na calçada, já que a bandeja instalada sobre a marquise do prédio servia para proteger quem passava pela rua.

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Ainda abalado com o acidente, ele destacou que a estrutura que desabou estava visivelmente em boas condições, e não havia como prever se internamente estava danificada. Ao conversar com Zero Hora, destacou ainda que pretende fazer "o que for preciso" para auxiliar os familiares das vítimas do acidente.

Confira os principais trechos da entrevista:

Há quanto tempo existe a empresa?
A empresa existe há 20 anos, sempre neste ramo, e nunca houve nenhum acidente.

Vocês são especializados em reforma de fachada?
Sim, a vida inteira fizemos reformas de fachadas. Não tenho ideia de quantas, mas já fizemos muitas obras, sendo a maioria desse tipo de reforma, e sempre dentro das técnicas de segurança que são necessárias.

Neste caso, quais foram adotadas?
No prédio fizemos as bandejas de proteção (estruturas que servem para impedir que objetos cheguem ao chão em caso de queda, para proteger quem passa no térreo), além de colocarmos todas as outras proteções que eram necessárias. A fatalidade ocorreu porque a viga que havia abaixo, e que não se enquadra nos critérios de uma marquise, rompeu. A bandeja continua lá, intacta. Caiu a viga, que estava abaixo dela.

Especialistas que foram ao local falam que a bandeja pode ter feito um sobrepeso na marquise, ou viga...
Se a viga estava boa ou não, é a perícia que deverá avaliar. Visualmente, ela estava em perfeitas condições.

Mas vocês não deveriam fazer uma análise das condições dela antes de apoiar a bandeja?
Não tem como ver como está a ferragem internamente. Como eu disse, visualmente estava bem. E não recebemos nenhum documento falando do estado dessa viga. Aparentemente estava em condições.

Muitos prédios do centro da cidade possuem estruturas mais antigas. Vocês já haviam feito obras naquela região da cidade?
Sim, muitas obras foram realizadas no Centro, sempre adotando os mesmos procedimentos de segurança, todos aqueles que a lei exige. E, para salientar, nosso andaime, que também estava montado no local, não caiu sobre a viga, como alguns disseram. Ele ficou suspenso. Não houve esse impacto do andaime com a viga. O que caiu foi só a viga.

Por que o entorno da obra não estava isolado para evitar que as pessoas passassem sob a marquise?
A bandeja é justamente para as pessoas poderem transitar e o comércio poder funcionar. A bandeja estava feita de forma correta, era robusta e bem-feita. A área não precisava estar isolada. A bandeja é para a segurança das pessoas.

Quantos funcionários estavam no local no momento do acidente? Eles estavam trabalhando?
Dois funcionários, que já trabalham com a gente há muito tempo. Um obreiro e um ajudante. Eles estão aptos a trabalhar com fachadas e usavam todos os EPIs (equipamentos de proteção individual). Tanto que não sofreram arranhão nenhum. Eles não estavam trabalhando ainda, iam começar naquele momento.

Somente dois funcionários seria o suficiente para uma obra de um prédio?
Naquela fase da obra, é o que era necessário. E eles são supervisionados por nós e fazem tudo aquilo que orientamos.

Pessoas que estavam no local relataram que eles foram embora logo depois do acidente, sem socorrer as vítimas. Você sabe o que houve?
Eles me ligaram logo depois, um deles passou mal quando viu o que estava acontecendo, e por isso achamos melhor recolher eles. Eles não tinham condições de ajudar em nada. Foram para o meu escritório, não tinham condições de trabalhar, estavam muito mal, ficaram assim quando viram que as pessoas haviam sido atingidas. Como o prédio fica na frente de um hospital, havia médicos do outro lado da rua. Não eram eles, meus funcionários, que iriam ajudar. Para socorrê-los, mandei buscar eles.

O Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (CREA-RS) está encaminhado internamente um processo ético-administrativo para investigar os procedimentos adotados pela engenheira responsável pela obra. Ela trabalha há quanto tempo com vocês?
Ela é habilitada, trabalha há tempo com a gente e é uma profissional excelente. Não tem, na sua história, nenhum problema, nenhum registro de acidentes. Esta foi a primeira vez. Quando chegar o laudo da perícia, vai se comprovar o que eu estou dizendo.

O que você acredita que ocorreu?
Eu vou deixar isso para a perícia dizer, pois, como sou parte do processo e também estou muito envolvido emocionalmente, prefiro não me manifestar.

A empresa vai dar algum tipo de assistência à família das vítimas?
Olha, eu ainda não consegui nem chegar no meu escritório. Só sei que tudo o que for preciso, vamos fazer. Por enquanto, eu preciso ter condições de continuar. Eu sinto muito pelo que aconteceu com aquelas pessoas, não consigo nem falar direito. No momento, não tenho condições.



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