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Aleitamento materno

Conheça mitos e verdades sobre a amamentação

Enfermeira e obstetra ajudam a esclarecer dúvidas sobre o aleitamento materno

05/08/2016 - 08h01min

Atualizada em: 05/08/2016 - 09h15min


Roberta Schuler
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Com Giovanna no colo, Deise diz que viveu todas as experiências da amamentação

Na Semana Mundial da Amamentação, o Diário Gaúcho aproveita a oportunidade para esclarecer o que é mito e o que é verdade em relação ao aleitamento materno _ a Organização Mundial da Saúde recomenda que os bebês recebam leite materno exclusivamente até o sexto mês de vida.

Quem responde questões que misturam desconhecimento, crendices populares e até algumas verdades é a coordenadora do Grupo de Aleitamento Materno dos hospitais Conceição e Criança Conceição, a enfermeira Dinara Dornfeld, e a obstetra do Hospital Fêmina Sandra Canali Ferreira.

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Apesar da experiência de quatro gestações anteriores, nas quais amamentou seus quatro meninos (que hoje têm idades entre cinco e 21 anos), a pedagoga Deise Santos Rodriguez, 44 anos, do Bairro Sarandi, descobriu agora, com o nascimento da caçula, Giovanna, a importância do leite materno para a saúde do bebê. A menina nasceu há dois meses, com 30 semanas de gestação. Deise teve pré-eclampsia (pressão arterial elevada) e precisou fazer uma cesárea. Quando a menina completou 40 dias, os médicos autorizaram a mãe a dar o leite materno. Giovanna nasceu com 845g e 32cm. Agora, mede 40cm e pesa 1,660kg.

– Fiquei com medo que meu leite secasse. Mas fui ao Banco de Leite (do Hospital Fêmina, onde a menina nasceu e está internada) buscar ajuda. Amamentar a minha filha é a melhor emoção da minha vida, é como se fosse a primeira vez que amamento.

Afeto

Deise conta que o primeiro filho só foi amamentado até os dois meses porque ela teve uma infecção que a impediu de continuar o aleitamento.

– Eu vivi todas as experiências relacionadas à amamentação e foram mais negativas do que positivas, mas eu não desisti – revela.

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Entre os problemas enfrentados por ela foram rachaduras nas mamas, sangramento, o leite empedrado e até mesmo as dicas sem fundamento que recebeu ao longo das gestações – como colocar casca de mamão no peito para cicatrizar fissuras.

– Antes, eu não tinha tanta informação, perdia a calma. Agora, sei a importância do leite e recebi orientação. E a melhor parte é a afetiva. Enquanto ela está mamando, converso com ela, gosto do olho no olho. Amamentar é o melhor que eu posso fazer por ela – finaliza.

Mitos e verdades

1. O colostro é como água, não tem nutrientes.
Mito. Quem diz isso está errado. O colostro é o primeiro líquido produzido pela mama (do primeiro ao quinto dia depois do parto). É um leite mais transparente, pode ser branco, amarelado. É a primeira vacina que o bebê recebe. Tem nutrientes e glicose. São anticorpos da mãe passando para o bebê e isso significa proteção.

2. O leite da mãe deixa o bebê mais forte.
Verdade. Quem mama no peito tem menos infecções respiratórias, menos otites, menos alergias.

3. Mãe muito magra tem leite fraco.
Mito! Não existe leite fraco. E mesmo que a mãe seja magra, ou não se alimente bem, ela produz leite suficiente para sustentar o bebê, para que ele fique satisfeito, ganhe peso e se desenvolva bem.

4. A produção do leite depende dos alimentos que a mãe come.
Isso é indiferente. A produção do leite depende, na verdade, da sucção do bebê. Quanto mais vezes o bebê mamar, mais leite a mãe vai produzir. A mãe deve ter uma alimentação variada, de acordo com seu gosto e com aquilo que puder comprar.

5. Quanto mais líquido a mãe ingerir, mais leite terá.
Mito. A mãe vai produzir leite independente da quantidade de líquido que ingerir. O que ocorre com a maioria das mulheres é que, amamentando, sente mais sede e aí o líquido ingerido será importante para repor o que a mãe está perdendo.

6. Chá de funcho, erva-doce e camomila aumentam a produção de leite.
Verdade. Esses chás são bons porque acalmam a mãe. E estando calma, a mãe libera oxitocina, componente importante para descer o leite.

7. Bebê que mamou há uma hora não pode estar com fome.
Não é verdade. O bebê deve mamar conforme a vontade dele. Toda vez que demonstrar que está com fome (a mãe deve ficar atenta a sinais como resmungos, quando ele chupa a língua, leva a mão à boca, tenta abocanhar tudo o que vê e mesmo procura o peito), deve ser colocado no seio da mãe. A livre demanda é a melhor recomendação.

8. A mãe deve evitar estimulantes durante o período de amamentação.
Verdade. As mães devem ingerir com moderação café, chá preto, chimarrão, chocolate e refrigerante de cola. Se utilizar em excesso, pode passar pelo leite e deixar o bebê agitado.

9. Casca de banana e mamão ajudam a cicatrizar feridas nas mamas.
Não é verdade. Por mais que as cascas sejam higienizadas, restam microrganismos no alimento e, como a mama está ferida, pode ser uma porta aberta para uma infecção. Não há comprovação de que atue na cicatrização. O que ajuda a curar ferimento nas mamas é o próprio leite materno (hidrata e cicatriza) e a correção da pega (se o bebê pegar só no mamilo, e não na aréola, vai machucar mesmo). Também são utilizadas pomadas à base de lanolina. A automedicação é perigosa porque há pomadas que, se não forem retiradas completamente da mama poderão ser ingeridas pelo bebê durante a mamada.

10. Canjica e cerveja preta aumentam a produção do leite.
Mentira! A canjica é um alimento bom para fortalecer a mãe, não necessariamente para estimular a produção de leite materno. E a cerveja preta nem deve ser considerada como bebida para quem amamenta porque contém álcool e pode passar para o leite. Tudo aquilo com o qual a criança tiver contato até os dois anos pode influenciar nos hábitos no futuro.

11. O bebê que mama no peito não precisa tomar água.
Verdade. Logo que o bebê começa a mamada, o primeiro leite que vem é 80% líquido, já mata a sede da criança e tem anticorpos. Depois, conforme ele vai sugando, vêm as gorduras e os outros nutrientes responsáveis por saciar a fome e ajudar o bebê a ganhar peso. Portanto, até os seis meses a amamentação deve ser exclusiva.

12. A mãe precisa cortar alimentos fortes porque dão cólicas no bebê.
Não existem evidências científicas que comprovem que os alimentos que a mãe ingere alteram o leite e causam cólicas.

13. Usar prótese de silicone interfere na amamentação.
Em geral, é um mito. Hoje, as cirurgias para colocação de silicone são feitas de modo a preservar a possibilidade de amamentação. Mesmo quem faz a cirurgia para redução das mamas não tem a capacidade de amamentar prejudicada.

14. O leite materno pode ser congelado e oferecido ao bebê posteriormente.
Verdade. O leite ordenhado pode ficar no freezer por até 15 dias. O leite deve ser colocado em um frasco de vidro com tampa de plástico (do tipo maionese ou café solúvel), retirando o rótulo e o papel de dentro da tampa. Antes de colocar o leite no frasco, o recipiente deve ser fervido por 15 minutos e deve ser colocado para escorrer sobre um pano limpo até secar naturalmente. A mãe deve encher o frasco com o leite materno sem tocar com a mão na parte interna da tampa. É importante anotar na tampa do frasco a data e a hora em que realizou a coleta. Para oferecer ao bebê, o leite congelado deve ser aquecido em banho-maria. É importante não ferver, apenas tirar o gelo. Depois de descongelado, o leite não pode ser congelado novamente. Se for conservado apenas em geladeira, tem validade de 12 horas.

15. O estresse faz secar o leite.
Em parte. Uma mãe que sofreu uma grave perda, por exemplo, pode vir a sofrer um estresse muito forte e ter prejudicada a sua produção de leite, bem como a mãe que tem depressão pós-parto muito profunda. Mas, em geral, o estresse (como o gerado a partir da falta de sono e do cansaço, comuns à mãe nos primeiros tempos com o bebê) não costuma fazer o leite secar.

16. Pegar sol na mama ajuda a produzir mais leite.
Pegar sol nas mamas (em torno de 20 minutos ao dia) ajuda a formar uma boa pele em cima do mamilo, para que fique mais resistente à pega do bebê. Se não for o sol, a mulher poderá fazer um banho de luz usando um abajur (tirando a cúpula), distante um palmo e meio das mamas, durante cinco a dez minutos por dia.

17. Amamentação é um anticoncepcional.
Em partes. Enquanto a mulher amamenta exclusivamente, o ovário fica sem ovular, o que evita a gravidez. Mas há o risco de falhas neste processo e a mulher pode vir a engravidar novamente. Há anticoncepcionais próprios para serem utilizados na amamentação (que não interferem no processo de aleitamento) e oferecem mais segurança.

18. O tipo de parto interfere na amamentação.
Mito. Quando a mulher faz uma cesárea, o leite demora um pouco mais a descer, mas todas as mulheres podem amamentar independentemente do tipo de parto que tenham. O que ocorre é que o trabalho de parto é importante porque libera a ocitocina, que faz o leite descer e ajuda o útero a parar de sangrar e voltar ao normal.

19. Amamentar acelera a perda de peso.
Amamentar acelera o metabolismo da mãe. E, em geral, a mãe passa a ter uma rotina agitada com o bebê e isso ajuda a reduzir o peso com mais rapidez do que quem não amamenta. É importante ter uma alimentação saudável e ingerir bastante água.

20. Dar bico interfere na amamentação.
Verdade. As pessoas acham que o bebê é agitado e dão bico, mas ele só prejudica a amamentação porque, para o bebê pegar o peito, ele precisa abrir a boca de uma forma e, usando o bico, ele posiciona a boca de outra maneira e isso atrapalha a forma de ele mamar.


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