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Desbravando o continente

Ele está cruzando a América em cima de um cavalo e ainda apoia uma boa causa 

Conhecido como "Cavaleiro das Américas", Filipe Masetti Leite deu contornos humanitários à aventura que inclui o Rio Grande do Sul

11/08/2016 - 15h37min

Atualizada em: 12/08/2016 - 16h51min


Diário Gaúcho
Diário Gaúcho
Filipe arrecada doações para o Hospital de Câncer Infantil de Barretos, em São Paulo

É de um posto de combustível na BR-158, estrada que liga Rosário do Sul a Santana do Livramento, que o paulista Filipe Masetti Leite, 29 anos, grava mensagens de áudio pelo WhatsApp contando sua história.

Acompanhado das éguas Life e Doll, ele partiu de Barretos em abril para empreender a segunda maior jornada de sua vida: cruzar São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul em direção ao Ushuaia, na Argentina, cidade conhecida como o "Fim do Mundo", onde espera chegar em abril de 2017.

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A primeira aventura à cavalo foi feita em 2012, quando cruzou o Canadá até o Brasil. Ao chegar ao país de origem, se deu conta que havia outras porções do continente americano para desbravar.

– Abri o mapa e vi que faltavam oito mil quilômetros para terminar as Américas, chegando ao ponto mais ao sul, o Ushuaia, na Patagônia, conhecido como o "Fim do Mundo". Então falei "é pra lá que eu vou"– diz.

Não bastasse a singularidade de explorar quilômetros de terra à cavalo, decidiu dar motivações superiores à segunda parte da aventura: com uma latinha à tiracolo, arrecada doações para o Hospital de Câncer Infantil de Barretos.

– Quando fui conhecer o hospital, aprendi um número alarmante. Nos Estados Unidos, de cem crianças com câncer, eles conseguem salvar 95. No Brasil, de cem crianças com câncer, a gente perde 50. É uma coisa assustadora. Aqui no Brasil, as crianças chegam muito tarde ao hospital – observa.

Quem o encontra no caminho de Barretos ao Ushuaia se encanta com sua coragem e faz contribuições. Mas foi com a doação de uma cela e o leilão de um potro que fez arrecadações mais enxutas. Ao todo, já conseguiu cerca de R$ 20 mil.

Em sua mais recebente aventura, Filipe conheceu as Cataratas do Iguaçu (PR)

Inspirado no ídolo

O espírito aventureiro foi construído pouco a pouco na personalidade do rapaz de Espírito Santo do Pinhal, interior de São Paulo. O nome dado pelos pais, com origem no grego Philippus, o amigo dos cavalos, seria ainda mais determinante quando o pai passou a contar, todas as noites antes de o menino dormir, as aventuras de Aymé Tschiffely, o suíço que na década de 20 viajou da Argentina até os Estados Unidos em cima de um cavalo.

Quando a família já morava há mais de uma década no Canadá, Filipe, aos 25 anos e recém graduado em jornalismo, criou coragem e fez a primeira viagem inspirada no herói da infância. Saiu de Toronto rumo ao Brasil revezando, tal qual o ídolo, no lombo de dois animais.

A façanha de superar a galope 16 mil quilômetros de estrada foi retratada em episódios do Fantástico, e o jovem que simboliza a vida sem rédeas de um personagem de faroeste ganhou um apelido: o Cavaleiro das Américas.

De balsa, cruzou o Rio Uruguai, que divide Santa Catarina e Rio Grande do Sul

Vida "bagual" no Rio Grande do Sul

Foi nas regiões Noroeste, Centro-Oeste e Oeste do Rio Grande do Sul que Filipe passou mais de 30 dias. Ganhou poncho, bombacha, cuia, erva-mate, cachaça e vinho de famílias que lhe deram abrigo. Entre o povo que construiu sua história em cima de um cavalo, praticou os hábitos da vida campestre e recebeu tratamento de um igual.

– Passei a maio parte dos meus dias dentro de um galpão, com meu cabelo cheirando a fogo de chão, comendo costela, vivendo uma vivência bem "bagual" mesmo. Os gaúchos amam o cavalo. O cavalo crioulo é um deus nessa terra, e isso ajuda muito a minha viagem – comenta.

Estendendo a bandeira do Rio Grande do Sul em Guarani das Missões

É em terras gaúchas que o aventureiro amarga uma perda. O galo Cluck Norris, presente dado por uma família de Tenente Portela, no Noroeste do Estado, morreu na madrugada de quarta-feira, dia 10, quando Filipe se preparava para sair de Rosário do Sul.

Ao acordar, viu as penas de Cluck espalhadas ao redor da gaiola onde o galo dormia junto à baia dos cavalos. A suspeita é que um cachorro tenha conseguido abrir a cela e abocanhado a ave de estimação.

– Fazia um mês que ele estava viajando com a gente. Ele me acordava todo o dia às três e meia da manhã. Às vezes eu queria esganar ele, mas eu amava o galinho, e agora ele se foi. Triste, triste, triste. Mas faz parte da vida, né?

O galo Cluck Norris, lembrança e luto que marcou a passagem por Tenente Portela (RS)

A pausa na aventura será dada assim que chegar à fronteira do Brasil e Uruguai. Por quinze dias, deixará as éguas descansando e retornará a Barretos para participar de um rodeio. De volta aos pampas em setembro, deve seguir viagem para explorar o Uruguai, o Chile e a Argentina, ponto final de sua jornada.

Histórias que merecem registro

Seguindo os trilhos do trem em Jaguari, no Centro-Oeste do Rio Grande do Sul

A viagem de Barretos até o Ushuaia está registrada em imagens para uma série de televisão. O programa será exibido nos Estados Unidos e, de acordo com Filipe, posteriormente no Brasil.

Já aventura do Canadá ao Brasil rendeu registros em palavras. O livro Longa Jornada, escrito em um ano, está previsto para ser lançado em dezembro.

– O livro conta a história da minha vida, o meu sonho, as dificuldades que tive pelo caminho, e as aventuras. Espero que ajude a motivar as pessoas a correr atrás dos seus sonhos. Seja o que for o sonho – diz.

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