Notícias



Racismo

Médica que rebateu deboche de colega a paciente sofre ataques racistas

Júlia Rocha, que trabalha no Rio de Janeiro, promete denunciar o caso ao Ministério Público Federal (MPF). As ofensas foram publicadas no perfil de um médico de Porto Alegre

01/08/2016 - 21h16min

Atualizada em: 01/08/2016 - 21h43min


Diário Gaúcho
Diário Gaúcho
Médica foi chamada de aberração

Uma confusão iniciada no Facebook envolvendo três médicos de diferentes regiões do Brasil pode acabar na Justiça. No fim de semana, pela rede social, um profissional de Porto Alegre (RS) fez ataques considerados racistas pela vítima, uma médica negra do Rio de Janeiro (RJ). Isso porque ela criticou, na internet, um colega de Serra Negra (SP), demitido após debochar de um paciente que falou "peleumonia" em vez de pneumonia.

O capítulo mais recente desta história é a promessa de Júlia Rocha, 33 anos, de denunciar o caso ao Ministério Público Federal (MPF).

Nos comentários do post, havia ofensas como "Muito top esse cabelo ecológico, deve ter até mico leão dourado", "Um sanduba de mortandela por dia basta para alimentar seu único neurônio quadrúpede" e "Com vergonha da cor, essa tribufu oxigena a juba para parecer menos negra".

Leia mais
16 profissionais do Mais Médicos deixam o programa em Porto Alegre e não há previsão para a chegada de novos
Com uniforme e estetoscópio, homem se passa por médico do Samu para conquistar garota
"Ela tem que se orgulhar disso", diz presidente do Simers sobre pediatra que negou atendimento a filho de vereadora

Júlia foi acusada de querer parecer "menos negra" por pintar o cabelo

Tudo foi comentado na publicação de Milton Simon Pires, de Porto Alegre. Ele chamou Júlia de "aberração" e disse que ela havia atacado o médico de Serra Negra. "Esse é o tipo de gente que sai escrevendo que 'agora é a vez da senzala' e 'a casa grande não admite'", escreveu.

O médico de São Paulo é Guilherme Capel Pasqua. Na quarta-feira (27), ele postou uma imagem em que mostra um receituário no qual estava escrito "Não existe peleumonia e nem raôxis". A foto foi publicada vinte minutos depois de ele atender o mecânico José Mauro de Oliveira Lima, 42 anos, que estudou até o segundo ano do Ensino Fundamental.

– Eu não consegui compactuar com esse linchamento virtual que foi feito a ele. Senti que, talvez, fosse um pouco de imaturidade, por ser muito jovem na profissão. Achei que podia ser rebatido de maneira doce – contou Júlia, que está grávida, em entrevista ao Diário Gaúcho.

Ela chegou a denunciar, em seu Facebook, os ataques racistas sofridos, com as capturas de tela da publicação. Mas, na manhã desta segunda-feira, não conseguiu acessar seu perfil – achou que tivesse sido hackeada.

Milton Simon Pires é registrado no Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul. Por meio de sua assessoria de imprensa, o Cremers disse ter recebido reclamações sobre o médico em relação ao episódio. Porém, nenhuma denúncia foi formalizada. Em caso de formalização, uma sindicância pode ser aberta para apurar a conduta do profissional.

Ele não é associado ao Sindicato Médico do Rio Grande do Sul. Em nota, o Simers declarou repudiar manifestações de qualquer profissional que afrontem o código de ética médica e o respeito ao ser humano, bem como aquelas flagrantemente racistas".

Até o fechamento desta reportagem, a secretaria da Saúde da Capital não havia confirmado se Milton é servidor municipal nem onde o médico trabalha. O Diário Gaúcho tentou contatá-lo, mas não teve retorno.

Leia mais notícias



MAIS SOBRE

Últimas Notícias