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Menino que morreu afogado em Imbé gostava de ajudar os outros e se preparava para ser escoteiro

Investigação dirá se o caso tem alguma relação com o jogo de smartphone Pokémon Go. Conforme rumores que circularam entre moradores, Artur e um amigo teriam entrado na água para caçar os bichinhos

08/08/2016 - 23h00min

Atualizada em: 10/08/2016 - 09h07min


Larissa Roso
Larissa Roso
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Artur (D), nove anos, se afogou ao tentar salvar o amigo João Pedro (E), da mesma idade

Uma perícia no celular do amigo que acompanhava Artur Bobsin Ferreira, nove anos, que morreu afogado em Imbé, na segunda-feira, deverá esclarecer se o caso tem qualquer ligação com o jogo de realidade aumentada Pokémon Go, sucesso mundial lançado no Brasil na semana passada. Os rumores, negados pelas famílias das duas crianças, surgiram entre os populares que se aglomeraram às margens de um canal ligado ao Rio Tramandaí, no bairro Courhasa, local do acidente, enquanto eram realizadas as buscas por Artur. O smartphone de João Pedro Azzi, também de nove anos, com acesso à internet e plano de dados, não continha o aplicativo no momento em que foi recolhido pela Polícia Civil. Artur não tinha celular.

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Segundo o delegado Antonio Carlos Ractz, da Delegacia de Imbé, a avaliação do aparelho Alcatel One Touch vai determinar se o aplicativo chegou a ser instalado no aparelho anteriormente.

– Agora (na manhã de terça) o celular não tem o aplicativo do Pokémon Go, o que não descarta a hipótese de que eles pudessem estar jogando. De qualquer forma, não vou responsabilizar ninguém, não tem crime algum. Foi um acidente, uma brincadeira de criança – afirma Ractz.

Caso a investigação confirme a relação entre o uso do aplicativo e a morte de Artur, o delegado pretende entrar com uma medida judicial para que o jogo seja proibido.

– O meu temor é que, se o jogo foi mesmo utilizado nesse caso, venha a causar outras mortes. Se eles estavam jogando e o jogo levou à morte, isso é gravíssimo. É um aplicativo gratuito, a as crianças não têm discernimento – acrescenta.

Por volta das 15h de segunda, os garotos jogavam bola e pulavam corda na Rua Torres quando resolveram levar dois barcos de fibra, de propriedade de pescadores locais, até a água, algo que nunca haviam feito antes. João Pedro contou que tentava saltar para o caíque de Artur quando se desequilibrou e caiu.

– Socorro! Me ajuda, Artur! – gritou.

Mesmo sem saber nadar, Artur pulou na água para tentar resgatar o amigo. Conseguiu se manter na superfície por poucos segundos e submergiu. João Pedro, com poucas noções de nado, conseguiu dar algumas braçadas de costas, segurando uma garrafa pet e uma de suas chuteiras como boias improvisadas, até alcançar a margem.

Acionados, os bombeiros encerraram as buscas no final da tarde, com a intenção de retomá-las na manhã seguinte. O corpo foi localizado em torno das 20h, por mergulhadores profissionais de uma empresa que presta serviços à Transpetro – um deles é amigo da família e se prontificou a ajudar quando soube do ocorrido. Em meio à multidão que assistia aos esforços de resgate, o padrasto de Artur, o funcionário público Edvandro Zambarda, 46 anos, ouviu comentários sobre o jogo de celular.

– Alguém disse: "No mínimo estavam pegando Pokémon" – recorda Zambarda. – Um tempo depois, começou a aparecer notícia associando a fatalidade com o jogo.

Durante o velório, na tarde desta terça, a mãe de Artur, a estudante Marcia Bobsin, 28 anos, relembrou a disposição constante do caçula para ajudar idosos, moradores de rua e animais abandonados – às vezes, na ânsia de prestar algum auxílio, recolhia até cães e gatos que tinham dono. Como “lobinho” de um grupo de escoteiros da cidade, Artur vivia repetindo o lema de todo dia fazer uma boa ação. No caixão, ele vestia a farda azul que ficara pronta havia poucos dias e seria usada pela primeira vez em uma cerimônia prevista para este mês – "sempre alerta", dizia a inscrição no lenço verde e vermelho. O desejo do menino era um dia se tornar astronauta, bombeiro ou policial.

– Não é porque é meu filho, mas ele seria um grande homem – diz Marcia. - O que me confortou foi saber que ele tentou salvar o amigo.

João Pedro, chorando, compareceu ao velório do colega de aula da 3ª série da Escola Municipal de Ensino Fundamental Manoel Mendes, que teve as atividades suspensas nesta terça-feira em sinal de luto. À mãe, a vendedora Márcia Azzi, 37 anos, o menino, sentindo-se culpado, questionou várias vezes:

– E se eu não tivesse ido lá na casa dele?

Pai de João Pedro, Márcio Fernandes, 33 anos, consultor de vendas, conta que a família trocou Porto Alegre por Imbé no início deste ano, procurando fugir dos altos índices de criminalidade e querendo realizar o sonho de morar na praia. Agora, com a situação traumática vivenciada pelo filho, a ideia é se transferir para Charqueadas, onde residem familiares.

Pokémon Go

O Pokémon Go é um jogo de realidade aumentada feito para smartphones. Por meio dele, os jogadores apontam a câmera do telefone para diversos locais e, na tela, aparecem os "monstrinhos".

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O objetivo é caçar o maior número de bichos, que ficam espalhados por diversos locais de cidades.

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