Saúde
Samu de Alvorada atua há mais de dois anos com apenas uma médica na escala de plantão
Nos dias em que ela não trabalha, os técnicos de enfermagem recorrem aos plantonistas do hospital para fazer a transferência de pacientes graves.
Em quatro dias da semana, os moradores de Alvorada e Viamão – juntas, as duas cidades têm 450 mil habitantes – ficam descobertos de atendimento médico na UTI móvel do Serviço de Atendimento Movél de Urgência (Samu). A ambulância avançada, administrada por Alvorada e que presta ajuda ao município vizinho, deveria contar com sete médicos (um para cada dia da semana), mas possui apenas uma profissional cedida pela rede municipal que cumpre escala de 24 horas de trabalho por 48 horas de folga.
O serviço funciona desta forma desde 2014, quando os funcionários concursados começaram a trabalhar. Até então, o serviço seria terceirizado. O concurso ofereceu seis vagas para médicos, mas o único aprovado não quis assumir. Funcionários do Samu ouvidos pela reportagem disseram que o socorro de pacientes graves não deixa de ser prestado pela equipe básica. Porém, os técnicos precisam recorrer ao plantonista do Hospital de Alvorada toda vez que há necessidade de transferir o paciente para uma unidade referência na Capital.
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Apesar disso, o secretário municipal de saúde de Alvorada, Paulo Manenti, argumenta que a falta de médicos não causou prejuízo aos pacientes atendidos.
– Às vezes, o serviço precisa transportar o paciente e socorre ao hospital, mas não é rotineiro – explicou.
Sobrecarga
No Hospital de Alvorada, que tem portas abertas ao Samu, o médico faz o primeiro atendimento para estabilizar o paciente. Quando há necessidade de encaminhá-lo à outra unidade, o médico abandona o plantão e o acompanha no trajeto. A reportagem do Diário Gaúcho flagrou caso semelhante na noite de 8 de julho, quando um médico chegou ao Hospital Cristo Redentor, em Porto Alegre, acompanhando a transferência de um paciente de Alvorada que havia sido baleado. Em Viamão, a situação é a mesma, mas o médico plantonista da Upa é quem normalmente cumpre o papel.
– Ele (o serviço) cria um problema para o atendimento no hospital. Se eu tiro um clínico (da emergência), fico com a metade do atendimento prejudicado. Não está certo, mas tem que transferir _ avaliou a diretora técnica do Hospital de Alvorada, Soraia Colares.
Prejuízo
Para o presidente do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul, Paulo de Argollo Mendes, a falta de médico na unidade avançada prejudica o atendimento à população. Para ele, existem situações em que a presença do médico no atendimento é indispensável.
– Tem impacto de vida ou morte. O paciente que precisa de remoção especializada não pode ser removido com a ambulância comum. Paciente entubado, que está tendo oscilação grande de pressão e tem que ser medicado toda hora ou um baleado são alguns exemplos – destaca.
Perda de repasse por falta de equipe completa
Em abril deste ano, o governo estadual cancelou o pagamento mensal de R$ 90 mil para cobrir os custos que envolvem a ambulância avançada. O repasse é feito a partir do monitoramento da presença de equipe completa de socorristas (médico, enfermeiro e condutor). Para receber o valor máximo, a efetividade deve ser superior a 85%. Quando a frequência é menor do que 49% por três meses consecutivos, o Estado suspende o pagamento até que a escala seja regularizada.
Nos últimos dois anos, o Samu recebeu o dinheiro mesmo com a equipe incompleta.
Falta
A Secretaria Municipal de Saúde de Alvorada confirma o recebimento do dinheiro e afirma que o Estado estava ciente da situação. Segundo o secretário Paulo Manenti, o montante foi utilizado para cobrir os custos de manutenção das ambulâncias e dos salários dos quase 30 funcionários envolvidos no serviço. Segundo ele, os R$ 61 mil pagos pelo Estado e pelo Ministério da Saúde para este atendimento não seriam suficientes. A cobertura que estava sendo feita até março com o repasse de R$ 90 mil, normalmente, é efetuada com recursos próprios da prefeitura.
Contrato emergencial
Secretário de saúde de Alvorada, Paulo Manenti explica que os funcionários do Samu devem ser concursados. Por isso, informa que a pasta está providenciando um concurso para 2017. O processo deve abrir sete vagas para 40 horas semanais, com salários de R$ 12,2 mil. Paulo destaca que está tentando negociar com o Ministério Público a possibilidade de fazer um contrato emergencial de médicos com uma empresa terceirizada para suprir a escala até a abertura do concurso.