Vida e Estilo



Nas mãos da Justiça

Decisão do STF sobre remédios de alto custo deve afetar mais de 50 mil processos no Rio Grande do Sul

Acompanhado de perto por familiares de pacientes com doenças graves, julgamento sobre acesso a medicamentos caros foi suspenso novamente

28/09/2016 - 18h36min

Atualizada em: 03/10/2016 - 16h39min


Guilherme Justino
Guilherme Justino
Enviar E-mail
Entidades que representam pacientes com doenças raras defendem a distribuição gratuita de medicamentos que não estão na lista do SUS e não têm registros na Anvisa

A aguardada decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre o fornecimento de remédios de alto custo à população pelo governo, mediante decisão judicial, deve afetar mais de 50 mil processos no Estado. Em todo o Brasil, a estimativa do Ministério da Saúde é de que as decisões judiciais sobre o tema custem aos cofres públicos cerca de R$ 7 bilhões somente neste ano.

A Procuradoria Geral do Estado (PGE) estima em cerca de 90 mil o número de processos ativos contra o Rio Grande do Sul solicitando que o governo banque tratamentos de saúde. Desses, 60% envolveriam a compra de medicamentos pelo poder público. A estimativa não inclui os processos em que pacientes gaúchos ingressaram contra a União com o mesmo pedido. Em 2014, o Rio Grande do Sul gastou R$ 235 milhões com tratamentos obtidos pela Justiça.

Leia mais:
"Vão decidir se o João vive ou morre", diz mãe sobre tratamento
Pacientes com doenças raras fazem vigília em frente ao STF

O STF julga dois processos: o primeiro é sobre a responsabilidade do governo de arcar com medicamentos de alto custo não disponíveis na lista do Sistema Único de Saúde (SUS), e o segundo sobre a possibilidade de fornecer fármacos sem registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O julgamento, que teve sua segunda sessão interrompida nesta quarta-feira por um pedido de vista, vai analisar dois casos específicos, mas que vão valer para todos os outros processos no país envolvendo pedidos sobre esses remédios.

O ministro da Saúde, Ricardo Barros, disse que o julgamento tem de levar em conta não apenas o cidadão que precisa de medicamentos, mas aquele que paga impostos.

– As decisões que atingem os R$ 7 bilhões em decisões judiciais contra Estados, municípios e União, que estão previstos pra este ano, não geram dinheiro novo. Eles deslocam um recurso de uma atividade programada, de vacinação, de atenção básica ou de média e alta complexidade, para uma outra atividade, que foi priorizada pelo judiciário e que tem que ser atendida.

Para familiares e pacientes que sofrem com doenças graves e raras, porém, a decisão é uma questão de vida ou morte para milhões de brasileiros. Alguns deles começaram vigília na noite de terça-feira em frente ao STF, na Praça dos Três Poderes, chamando atenção para a realidade desses pacientes e pedindo que os ministros "não interrompam os tratamentos", defendendo que uma vida não tem preço.

Delegada da Associação dos Familiares, Amigos e Portadores de Doenças Graves (Afag) no Rio Grande do Sul e portadora de mucopolissacaridose, Deise Zanin conta que o medicamento usado para seu tratamento já é registrado, mas é caro e não consta na lista do SUS.

– É um medicamento de alto custo produzido fora do Brasil. Para cada tipo específico da doença, o remédio é produzido em um país e só se consegue por via judicial. São medicamentos já registrados na Anvisa, mas que ainda não fazem parte da lista do SUS, nem para medicamento excepcionais. Só conseguimos o tratamento por via judicial.

Para Deise, que estima o custo de seu tratamento entre R$ 100 a R$ 150 mil por mês, a expectativa é que no julgamento os ministros levem em conta não o valor do medicamento, mas os pacientes.

* Zero Hora, com agências

Últimas Notícias