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Direto da Redação

Felipe Bortolanza: a pizza e a eleição

05/10/2016 - 10h21min

Atualizada em: 05/10/2016 - 10h22min


Felipe Bortolanza
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Se imagine com fome. E, diante de seus olhos, aparece uma pizza com nove fatias, cada uma de um sabor. À primeira vista, um prato perfeito para agradar qualquer pessoa, afinal se coligam ingredientes dos mais variados tipos, do doce ao salgado, do vegano à calabresa, do light ao apimentado. Mesa posta, o cardápio e o garçom fazem propaganda do prato e revelam:

– Só pode escolher um sabor. Mas pode pegar que é de graça!

Mesmo assim, um em cada três "clientes" fez cara de nojo e voltou para casa de barriga vazia.

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"Vitória" no primeiro turno

Qualquer semelhança da situação descrita acima com a eleição para prefeito em Porto Alegre não é mera coincidência. Com a metáfora da pizza, concluo que, embora esfomeada por uma sociedade mais justa, menos violenta e com melhor distribuição de renda, a população da Capital não conseguiu confiar em nenhum dos nove candidatos. Preferiu o prato (voto) vazio.

No domingo, em Porto Alegre, 382,5 mil eleitores abriram mão de escolher um candidato – 34,8% se absteve, teclou "Branco" ou anulou o voto. Isto é, um terço! É um número mais elevado do que os votos obtidos pelo vencedor no primeiro turno, Marchezan (213,6 mil). Na verdade, a vitória foi dos esfomeados, que disseram "não" à "pizza".

O mais grave é que o menu era variado: havia político de direita, de centro-direita, centro-esquerda, esquerda, extrema-esquerda. Ainda assim, os nomes não foram capazes de atrair a confiança de uma população que encheria cinco vezes a Arena ou o Beira-Rio. Claro que, alguns dos que não votaram, estavam viajando, doentes ou dormiram até mais tarde.

A minha tese

As teses sobre o fato (verificado também em outras capitais) se proliferam mais do que as propinas nos bastidores do poder. A minha conclusão é: a classe política colheu nas urnas o descrédito adubado pelos sucessivos escândalos de corrupção, atingindo todos os partidos.

Anular o voto resolve? Até acho que não. Afinal, alguém sempre se elege. Mas admito que o recado pode servir para alguma coisa.

Torço por isto. Para que cada vez menos as trampas políticas acabem em pizza.



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