Ministério Público
Mediadores comunitários resolvem conflitos no Bairro Restinga
Grupo de moradores do Bairro Restinga, em Porto Alegre, fez curso promovido pelo Ministério Público
Dois colegas passaram quatro anos trocando farpas no trabalho, envolvendo inclusive outros funcionários da empresa, e levando o caso a um processo por difamação no Fórum do Bairro Restinga, em Porto Alegre. A situação, que parecia sem solução, acabou sendo resolvida numa conversa de duas horas e meia entre as partes e auxiliada por dois mediadores comunitários do bairro, formados na primeira turma do Núcleo de Mediação Comunitária.
– Eles só precisavam olhar nos olhos um do outro e conversar de verdade. No final, se desculparam e teve choro e abraços. Foi emocionante – recorda, satisfeita, a mediadora Marciane Luíza Taparelo, 36 anos, moradora da Estrada Barro Vermelho e estudante de Pedagogia.
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Marciane faz parte da primeira turma de mediadores da Restinga, que entre maio e agosto deste ano participou do curso promovido pelo Ministério Público, em parceria com o Centro Social Padre Leonardi. Até agora, cinco casos passaram pelas mãos dos 15 voluntários. que atuam conforme o chamado do Fórum local. Nesta quarta-feira, as duas salas do Núcleo serão inauguradas no Centro Social. Até agora, os mediadores atendiam numa área improvisada da instituição.
– Precisamos apenas de uma mesa, quatro cadeiras e pessoas dispostas a ouvirem e outras dispostas a serem ouvidas. Facilitamos o diálogo, não damos a solução – explica Marciane.
Nova turma
Um dos criadores do curso, o promotor de Justiça Eduardo Coral Viegas, explica que o curso pretende facilitar os casos que se estenderiam em processos até as salas do Fórum. As mediações ocorrem em situações como pensão alimentícia, separação consensual, conflito de vizinhança, relações de trabalho e defesa do consumidor. Segundo ele, podem ocorrer quantas sessões de mediação forem necessárias para solucionar a questão.
Até o próximo dia 20, estão abertas as inscrições para mais 50 vagas no Bairro Restinga no Curso de Capacitação em Mediação Comunitária. Eduardo destaca que a alternativa poderá ser ampliada, se a comunidade aprová-la.
– Futuramente, a intenção é estender o núcleo de mediação comunitária da Restinga para as escolas estaduais e municipais, com a criação de centros de mediação, não somente escolar, mas também em outros ambientes – reforça Eduardo.
Padre "desarma" os conflitos
Foi para facilitar o diálogo entre os moradores que o padre Paulo José Dalla Rosa, 48 anos, da paróquia Nossa Senhora Aparecida, decidiu refazer o curso. Há quase dez anos, ele participou de uma iniciativa parecida no Bairro Lomba do Pinheiro – encerrada depois de oito anos de existência. Atuando como padre no Bairro Restinga há quatro anos, Paulo, como prefere ser chamado durante as mediações, conta que as partes costumam chegar "armadas" na mesa de conversa.
– Eles começam olhando cada um para uma parede e, aos poucos, vão virando os rostos até se olharem. É quando, geralmente, ocorre a negociação – conta.
Para Paulo, a sociedade não conversa e, por isso, os conflitos acabam se sobressaindo. Como mediador, o padre quer ser um canal de auxílio.
– Não somos juízes e não cabe a nós opinarmos sobre as situações ou induzirmos a um desfecho. Nosso papel na mesa de diálogo é ser a ponte para a solução – finaliza.