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Mais de 1,9 mil famílias de Porto Alegre convivem com a incerteza do aluguel social

Benefício garante R$ 420 mensais a quem se encontra sem moradia. Troca de governo, porém, preocupa usuários do programa.

01/12/2016 - 08h17min

Atualizada em: 01/12/2016 - 08h18min


Aline Custódio
Aline Custódio
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Kellen e Giliard já se mudaram oito vezes em três anos

À espera de uma casa para chamar de própria, 1.920 famílias moradoras de Porto Alegre recebem aluguel social mensal pago pelo Demhab, um recurso temporário para famílias sem moradia. Mas a apreensão passou a rondar a vizinhança dos beneficiados com a mudança de governo na Capital.

Por mês, a administração gasta cerca de R$ 800 mil com ex-moradores de áreas de risco e projetos estruturantes da cidade, moradores de rua e famílias em situação de vulnerabilidade social ainda não contemplados com uma casa.

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– Muita gente tem medo do que pode vir. Será que o novo prefeito sabe o quanto esse benefício é importante para nós? Porque falam tanto em cortar gastos. Se a atual administração já atrasa o aluguel, o que esperar da nova? – diz o vigilante Giliard Martins Rodrigues da Silva, 29 anos.

Com a esposa, a também vigilante Kellen Robeiro Rodrigues, 32 anos, ele se viu num círculo de mudanças nos últimos três anos. Ex-moradores da Vila Liberdade, na Zona Norte, eles trocaram de casa oito vezes desde a remoção da comunidade, com a promessa de ter uma propriedade em menos de dois anos. Hoje, recebem R$ 420 mensais da prefeitura para ajudar no pagamento.

– Quando incendiou parte da vila, o Demhab nos propôs o aluguel antes de um novo imóvel. Com medo de sermos expulsos, e acreditando na prefeitura, aceitamos. Só que até agora a situação segue a mesma – explica Kellen.

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Prejuízos

As constantes mudanças trazem transtornos e prejuízos à família, que perdeu móveis em casas em áreas de alagamento. Por isso mesmo, a mais recente mudança, na semana passada, foi para a Vila Orfanotrófio, na Grande Cruzeiro, uma região alta. Foram quatro meses vivendo num apartamento de seis peças no Bairro Humaitá. Agora, o deslocamento pesa na rotina.

– A minha enteada tem de atravessar a cidade, ela ainda estuda lá no Humaitá, não conseguimos ainda escola para cá. Ela já perdeu uns dois anos com essas mudanças – conta Giliard.

O aluguel de R$ 1 mil pesou no orçamento. Agora, os dois e os filhos Thauny, 14 anos, e Thiago, sete meses, se transferiram para uma casa de cinco peças pelo valor de R$ 600 por mês.

– O pior é ouvir palavras de desconfiança de quem vai nos alugar. Como o governo já atrasou até três meses o aluguel, há proprietários que preferem não fazer negócio. Fico triste quando lembro que já tive a minha casa de alvenaria, onde vivi mais de 20 anos. Temo nunca mais ter outra – desabafa Kellen.

Espera de três anos por nova moradia

Erlon no local onde deveria ser sua nova casa

Na definição encontrada no site do Demhab, o "aluguel social é um recurso assistencial mensal destinado a atender, em caráter de urgência, famílias que se encontram sem moradia. É um subsídio concedido por seis meses. A família beneficiada recebe uma quantia equivalente ao custo de um aluguel popular".

Em 2014, o Demhab investiu R$ 5,156 milhões em aluguel social. No ano passado, foram R$ 6,221 milhões. Para 2016, a previsão era destinar, pelo menos, R$ 5,756 milhões.

Entre as famílias contempladas pelo benefício estão ex-moradores das vilas Asa Branca, Tronco, Liberdade e da Mata. Destes, cerca de 450 viviam na Vila Liberdade, antes de aceitarem a proposta de remoção com a perspectiva de receberem novas casas na mesma região.

Foi o que ocorreu com o professor Erlon Nogueira de Lima, 40 anos, presidente da associação de moradores, um dos primeiros a deixar a Liberdade.

– Fui iludido pelo Demhab de que deveria servir de exemplo para as demais famílias. Aceitei o aluguel, mas não imaginava que demorariam tanto para resolverem a questão _ comenta Erlon.

Há três anos, ele recebe o aluguel social mensal de R$ 420 e aguarda por uma nova moradia. Vivendo com a mulher no Bairro Humaitá e pagando R$ 800 de aluguel, Erlon procura ser otimista e acredita que a troca de governo não afetará as negociações das casas das cerca de 700 famílias da Liberdade.

– Não quero nem pensar na hipótese de não ter uma nova moradia construída pela prefeitura. Seguimos pressionando, com a ajuda da defensoria pública, para não sermos esquecidos – afirma.

Prefeitura não informa prazos

Por meio da assessoria de imprensa, a diretora-geral do Demhab, Luciane Skrebsky de Freitas, informou que os benefícios de aluguel social continuarão sendo honrados pela prefeitura no próximo governo. Porém, não soube dizer quando estas famílias receberão novas casas.

Na resposta enviada por e-mail, a assessoria informou apenas que "as famílias com benefício de aluguel social concedido para viabilizar obras estruturais da cidade ou reassentamentos têm previsão de unidades habitacionais em empreendimentos de interesse social".

Já o próximo prefeito de Porto Alegre, Nelson Marchezan, preferiu não emitir opinião sobre o assunto.



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