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Papo Reto

Manoel Soares: "Ainda tenho muito a aprender sobre direitos humanos"

Colunista relata sua experiência em um evento sobre a redução da maioridade penal

10/12/2016 - 10h03min

Atualizada em: 10/12/2016 - 10h04min


Quando o assunto é compreender os direitos humanos e seus efeitos na sociedade, sempre me achei um cara acima da média. Arrogância minha, pois, essa semana, vi que a vida tem muito a me ensinar.

Fui chamado para um evento cujo tema era a redução da maioridade penal –aquele papo de colocar jovens de 16 na cadeia como adultos. Sempre fui contra essa redução, mas confesso que balancei. Depois de ouvir especialistas da área, conheci jovens infratores.

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Um, em especial, me chamou atenção por conta do carisma. Seu jeito afetuoso conquistou a todos no local. Ao ver pessoas emocionadas com ele, pensei: ainda bem que não colocamos ele em um presídio, senão seria mais um sem possibilidade de retorno à sociedade.

Pouco depois, fiquei sabendo que o menino que tanto gostei cometeu um dos maiores crimes que o ser humano poderia cometer. É complicado até escrever: aquele menino matou a própria mãe. Quando eu soube, meu sentimento mudou, era como se um monstro tomasse conta de mim. Mal conseguia olhar para ele. Foi aí que me dei conta que não sou evoluído na temática dos direitos humanos. Sou tão primitivo como as pessoas que volta e meia eu critico, pois o ódio que gritava em mim era real.

Missão

Meu olhar de raiva via o carisma dele como fingimento, o esforço dele para se redimir como uma tentativa inútil de voltar atrás em seu pecado. Vendo os monitores dedicados e professores felizes com a conquista do rapaz, fiquei constrangido com meu sentimento.

E aí, aos poucos, fui me convencendo novamente de que ele foi um monstro, mas que alguém precisava ajudá-lo a deixar de ser. Essa é a missão dos projetos com menores infratores. E mantive meu pensamento: ainda bem que não colocamos ele em um presídio, senão, seria mais um sem possibilidade de retorno à sociedade. Se ele foi um monstro ao matar a própria mãe, eu não quero ser contaminado com essa monstruosidade. Quero que ele seja melhor, e eu também.



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