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Conheça a campeã no ranking de cidades da Região Metropolitana com mais devedores do IPTU 

Na lista das 12 cidades pesquisadas, Porto Alegre é a que menos tem devedores do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU)

09/02/2017 - 07h00min

Atualizada em: 09/02/2017 - 07h00min


Aline Custódio
Aline Custódio
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Rua Estocolmo, no Bairro Nova Americana, é uma das que poderia ter sido asfaltada

Mais de 60% dos 82 mil contribuintes de Alvorada que deveriam pagar o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) penduraram a dívida em 2016. É a maior taxa de inadimplência entre 12 municípios, incluindo a Capital, da Região Metropolitana, segundo levantamento do Diário Gaúcho.

Só no ano passado, a cidade deixou de arrecadar R$ 29 milhões com este imposto, valor que poderia ter sido revertido em pagamento de toda a dívida da gestão anterior (R$ 22 milhões) ou 20km de novas ruas pavimentadas ou refazer o parque rodoviário da prefeitura (comprando três motoniveladoras, três retroescavadeiras, caminhões e outros equipamentos) ou, inclusive, ampliar em 30 vezes a compra de medicamentos para distribuição na farmácia municipal - a prefeitura gastou R$ 1,6 milhão em remédios em 2016.

– Nos últimos dez anos, a taxa de inadimplência variou entre 60% e 70%. Este dinheiro seria fundamental para fazer a cidade crescer – sustenta Marcelo dos Santos, secretário da Fazenda de Alvorada.

Secretário da Fazenda de Alvorada, Marcelo dos Santos

Fim da anistia fiscal em Alvorada

Um dos problemas apontados por Marcelo para uma adesão tão baixa nos pagamentos seria a política de anistia fiscal, adotada nas gestões anteriores. Na prática, para tentar reaver os valores pendentes, a prefeitura liberava os devedores de juros e multas, independente de quando seria pago o imposto anual.

– Vamos acabar com a anistia. Ela ofende o bom pagador, aquele que não atrasa ou que se importa em negociar a dívida. Como todos os anos havia esta liberação, a taxa de devedores só aumentou, prejudicando o recolhimento do imposto e, consequentemente, atrasando o desenvolvimento da cidade – explica Marcelo.

Cláudia quer pagar, mas está sem condições financeiras

Nem mesmo as sucessivas propostas de descontos e parcelamentos em até dez vezes têm atraído os contribuintes, como a prefeitura deseja. É o caso da auxiliar de serviços gerais desempregada Cláudia Krammes, 44 anos, moradora há 20 anos da Rua Estocolmo, no Bairro Nova Americana. Desde que abandonou o emprego para cuidar do pai doente, há quatro anos, ela deixou de pagar o IPTU. E nem tem ideia de quanto está devendo.

– Foi por necessidade, pois nunca tinha atrasado. Mas acho que paguei em vão. Até hoje, espero por pavimentação na nossa rua. Nem isso, o dinheiro que contribuí ajudou a trazer – se defende.

Maria Elaine precisa pagar IPTU de dois imóveis por morar numa esquina

A vizinha de Cláudia, Maria Elaine da Silva, 58 anos, também desistiu de pagar há cerca de três anos quando perdeu a isenção do imposto. Maria é líder comunitária e mantém uma ong no bairro que distribui comida a carentes. Para piorar a situação, por morar numa esquina, ela deveria pagar dois IPTUs.

Maria calcula que o valor estaria em cerca de R$ 500 anuais. Como está em tratamento contra um tumor maligno no rim, ela não tem ideia de quando poderá colocar a dívida em dia.

– A gente sabe que deve, mas tem que optar por coisas mais urgentes. Neste caso, tive que deixar o Iptu em terceiro plano. Se, ao menos, eu visse estas ruas sem poeira, me animaria a tentar negociar – conta.

Marta de Cássia foi à prefeitura de Alvorada para negociar a dívida

Educação tributária
Para tentar reverter o quadro, a Secretaria da Fazenda de Alvorada tem chegado até à penhora online com as empresas devedoras do imposto e já começa a fazer o mesmo com pessoas físicas. Segundo o secretário, a prefeitura estuda três táticas para atrair mais pagadores. Uma delas é oferecer descontos no IPTU para moradores que emplacarem os veículos na própria cidade. Hoje, 40% da frota de Alvorada, segundo cálculos da prefeitura, é emplacada em municípios vizinhos, consequentemente, o Imposto Sobre a Propriedade de Veículos (IPVA) acaba indo para eles. Outra iniciativa é enviar os boletos de pagamento já em dezembro - hoje, apenas parte dos contribuintes recebem em casa e já em janeiro.
– Estamos, também, elaborando um projeto de educação tributária nas escolas. A meta é ensinar às crianças a importância deste imposto e que elas sejam um agente motivador para a família – acredita Marcelo.

Apesar de a maioria dos contribuintes ainda se negar a colocar em dia as dívidas com o IPTU, a manicure Marta de Cássia Ribeiro, 38 anos, do Condomínio Moradas Club, optou por negociar na prefeitura os valores em atraso desde 2015. Até aquele ano, a construtora do condomínio foi quem pagou o imposto. Agora, Marta pretende quitar os últimos três anos.
– É um dinheiro que deve ser revertido para a população. Infelizmente, ainda me sinto esquecida pelo poder público porque nos falta transporte e os Correios não chegam naquela região. Mas vou fazer a minha parte e pagar o que eu puder – explicou.

Ranking
Viamão ficou em segundo lugar na Região Metropolitana. Segundo a assessoria de imprensa da prefeitura, 53% dos 74.174 contribuintes não pagaram o Iptu em 2016, fazendo com que a prefeitura deixasse de arrecadar R$ 15.571.183,73 dos R$ 24.080.642,97 previstos inicialmente. Em Gravataí, quinto lugar no ranking, o secretário municipal da Fazenda, Davi Keller Servegnini, constatou que 40% dos R$ 84.619 cadastros imobiliários seguem inadimplentes. A maior incidência de inadimplentes está na região das Moradas do Vale I, II e III. Dos R$ 45,4 milhões que deveriam ser arrecadados, Gravataí só recolheu R$ 18,1 milhões.
– Os recursos do Iptu e da taxa de limpeza pública são destinados especialmente para ações de limpeza urbana (roçada, varrição e pinturas), coleta de lixo, pavimentação e manutenção de vias (tapa-buracos) e de espaços públicos (praças, varrição e pinturas) – explica.

Protesto em cartório foi alternativa na Capital
Porto Alegre ficou em último na lista dos devedores do Iptu, entre as cidades pesquisadas pelo Diário Gaúcho. Em 2016, 22% das 605 mil guias expedidas não foram pagas, o que fez a cidade deixar de arrecadar R$ 108 milhões dos R$ 492 milhões esperados.

Nos últimos anos, Porto Alegre se mantém com um dos melhores índices de recuperação da dívida ativa entre as capitais brasileiras, com 8% de recuperação. Conforme o superintendente da Receita Municipal de Porto Alegre, Fabricio Dameda, a média de outras capitais é de 4%. Ele acredita que incentivos como desconto nos primeiros meses, parcelamento em dez vezes com débito em conta e o encaminhamento da guia em casa.

Outro fator que ajudou a aumentar a quantidade de cadastros em dia é o protesto em cartório, adotado ainda na administração anterior e que poderá ser ampliado. Segundo Fabricio, a medida ajudou a recuperar R$ 150 milhões em 2015 e R$ 160 milhões em 2016.
– Estamos estudando a possibilidade de iniciarmos campanhas específicas nos bairros mais inadimplentes, como Centro Histórico, Lomba do Pinheiro e Floresta – revela.

O ranking de devedores do IPTU/2016 na Região Metropolitana
Alvorada - 62% de inadimplentes, deixando de arrecadar R$ 29 milhões
Viamão - 53% de inadimplentes, deixando de arrecadar R$ 15,5 milhões
Eldorado do Sul - 45% de inadimplentes, deixando de arrecadar R$ 291,5 mil
Guaíba - 44,36% de inadimplentes, deixando de arrecadar R$ 2,9 milhões
Gravataí - 40,87% de inadimplentes, deixando de arrecadar R$ 18,1 milhões
Canoas - 34% de inadimplentes, deixando de arrecadar R$ 34,2 milhões
Cachoeirinha - 30% de inadimplentes, deixando de arrecadar R$ 22 milhões
Esteio - 30% de inadimplentes, deixando de arrecadar R$ 3,3 milhões
São Leopoldo - 30% de inadimplentes, deixando de arrecadar R$ 16 milhões
Novo Hamburgo - 26,74% de inadimplentes, deixando de arrecadar R$ 15,3 milhões
Sapucaia do Sul - 25% de inadimplentes, deixando de arrecadar R$ 2 milhões
Porto Alegre - 22% de inadimplentes, deixando de arrecadar R$ 108,8 milhões

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