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Assistência em Porto Alegre

Ocupação acolhe mulheres vítimas de violência doméstica 

Prédio particular está servindo de abrigo para vítimas de violência doméstica ou em situação de vulnerabilidade. Autoridades reconhecem importância do trabalho

22/02/2017 - 11h04min

Atualizada em: 22/02/2017 - 11h09min


Aline Custódio
Aline Custódio
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Prédio particular está ocupado desde novembro de 2016

Disposto a lutar pelos direitos das mulheres, um grupo ocupa há quase três meses o prédio onde antes funcionou o Lar Dom Bosco, da Congregação dos Irmãos Salesianos, no Centro de Porto Alegre. A justificativa para a ocupação identificada como Mulheres Mirabal está na falta de serviços públicos direcionados para mulheres vítimas de violência doméstica ou em situação de vulnerabilidade. Hoje, segundo a Secretaria de Desenvolvimento Social, Porto Alegre oferece 14 vagas de abrigagem, que são apenas utilizadas por quem está sob ameaça de morte.
– A Casa de Referência Mulheres Mirabal surgiu a partir de uma ação direta do Movimento de Mulheres Olga Benário para ocupar um prédio que estava há anos abandonado. Viemos para fortalecer esta rede de enfrentamento e de acolhida às vítimas – explica a nutricionista Priscila Voigt, 25 anos, integrante da coordenação estadual do Movimento.

A partir da ocupação do imóvel de três andares, o grupo passou a divulgar o trabalho nas redes sociais e nas ruas. Em poucos dias, o trabalho desenvolvido voluntariamente por psicólogas, assistentes sociais, advogadas e profissionais da área da saúde passou a ser reconhecido por entidades sociais e pelo próprio poder público.

Mulheres em situação de risco começaram a ser encaminhadas pela ong Themis – Gênero e Justiça, que apoia a ocupação, pela Delegacia da Mulher e pela Defensoria Pública do Estado. Por uma questão de segurança, o Movimento não revela a quantidade de mulheres que estão acolhidas no local.

Priscila mostra o brechó que a ocupação criou para arrecadar fundos

Em carta aberta, a Themis afirma que a ocupação é “um espaço já constituído”. Para a ong, a Mirabal não pode “ser impedida de dar continuidade aos seus trabalhos”.
– Nossa estrutura de acolhimento em albergues ainda está longe de suprir a demanda. O serviço se torna essencial – reconhece a assistente social e integrante da diretoria da Themis, Maria Guaneci de Ávila.

Prefeitura busca solução
Com regras de convivências estabelecidas – como horários de entrada e saída do prédio – e a intenção de dar a primeira acolhida a mulheres que precisam de ajuda para se livrarem do agressor, o grupo também passou a ter apoio da própria secretária municipal de Desenvolvimento Social, Maria de Fátima Záchia Paludo.

Na semana passada, Maria de Fátima visitou o prédio e reuniu-se com o movimento. A promessa é de que a prefeitura encontre uma solução para que o trabalho pretendido pela ocupação possa ser desenvolvido no prédio ou em outra área da cidade.
– O trabalho delas é espetacular, pois estão atuando no vácuo deixado pelo Estado. E esta legitimação aparece quando os próprios órgãos responsáveis encaminham mulheres para serem acolhidas pela ocupação. Precisamos encontrar uma solução e apoiar esta causa – reconhece a secretária.

Cartazes com mensagens estão espalhados pelo prédio

Situação do imóvel está na Justiça
Apesar da intenção positiva da ocupação, o Movimento enfrenta na Justiça a Congregação dos Irmãos Salesianos, proprietária do imóvel. Uma liminar de reintegração de posse está suspensa. Para a defensora pública Luciana Artus Schneider, do Núcleo de Defesa Agrária e Moradia, que acompanha o caso, a proposta de utilização do prédio precisa ser analisada com seriedade.
– Se não for possível se fazer convênio entre a prefeitura e o proprietário do imóvel, talvez um outro local onde se possa se desenvolver o trabalho em parceria – sugere.

Reconhecendo a importância da iniciativa, o Núcleo da Mulher da Defensoria Pública do Estado escreveu uma carta apoiando o trabalho desenvolvido pela ocupação.
– Os órgãos responsáveis estão de mãos atadas. A proposta deste movimento é muito séria – ressalta a defensora pública Luciana.
Procurado pela reportagem, o proprietário do imóvel não se manifestou.

Quem foram as Mirabal
Patria, Minerva e Antonia María Teresa Mirabal eram irmãs que viviam na República Dominicana e que foram assassinadas por se oporem à ditadura de Rafael Leónidas Trujillo. Conhecidas como irmãs Mirabal, formaram um grupo de oposição conhecido como Las Mariposas.

As três foram presas e torturadas, mas continuaram lutando. Em 25 de novembro de 1960, ao comando de Trujillo, foram interceptadas quando seguiam para visitar os maridos na prisão, sendo estranguladas e apunhaladas até a morte. As mortes causaram comoção na República Dominicana, levando o povo a se levantar contra o regime de Trujillo, que acabou assassinado em maio de 1961.

Em 1999, a Assembleia Geral das Nações Unidas declarou que 25 de novembro é o Dia Internacional da Eliminação da Violência Contra a Mulher, em homenagem ao sacrifício de Las Mariposas.

PARA AJUDAR
* A Ocupação Mulheres Mirabal aceita doações de alimentos, de colchões, de roupas de cama e de materiais de higiene.
* Contatos pelo WhatsApp 98260-3869.



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