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Alunos que lideraram ocupações em 2016 falam sobre as expectativas para o novo ano letivo

Reportagem ouviu líderes de duas escolas de Porto Alegre

06/03/2017 - 07h00min

Atualizada em: 06/03/2017 - 07h01min


Roberta Schuler
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Depois de um ano letivo tenso e que demorou a terminar, devido às ocupações estudantis e à paralisação mais longa dos professores estaduais em 25 anos, 2017 promete ser mais um ano atribulado na educação pública. Previsão de greve e colégios em obras são algumas das dificuldades que terão de ser enfrentadas.

A Secretaria Estadual da Educação (Seduc) afirma que está "na expectativa" para os obstáculos que terá de enfrentar, mas se prepara como pode diante das dificuldades financeiras do Estado.
– Nós temos feito uma série de ajustes para que se façam as contratações necessárias – diz o secretário Luis Antônio Alcoba de Freitas.
Já sindicatos prometem novos protestos e paralisações.
– Este ano vai ser uma continuidade das lut as de 2016, com mais intensidade – avisa a vice-presidente do Cpers/Sindicato, Solange Carvalho.

Para ouvir as expectativas dos alunos, o DG retornou a duas escolas estaduais de Porto Alegre que tiveram ocupações estudantis: o Colégio Estadual Coronel Afonso Emílio Massot e a Escola Estadual Araguaia. Além das 2.517 escolas estaduais, o ano letivo começa hoje também nas 99 escolas municipais.


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Emílio Massot: luta por melhores condições
Este deve ser o último ano da vida escolar de Marcos Anderson da Silva Mano, 19 anos, no Colégio Emílio Massot, no Bairro Azenha, na Capital. Embora esteja focado na preparação para garantir uma vaga na Ufrgs – no curso de Matemática ou Sociologia –, o aluno do terceiro ano do ensino médio mantém no horizonte a vontade de melhorar as condições da instituição na qual estuda há 11 anos e que o motivou, em 2016, a participar da primeira ocupação estudantil de escola pública de Porto Alegre.
– É o meu último ano e sou muito apegado à escola. Temos que fazer a nossa parte – conta o morador da Restinga que, nas férias, ajudou a pintar os banheiros e a sala dos professores com tintas doadas e a organizar o depósito de livros didáticos.

Entre as demandas apontadas pelos alunos em maio de 2016, que levaram à ocupação, estava o atraso no repasse da verba da autonomia financeira, falta de docentes e funcionários, parcelamento dos salários dos professores, entre outros problemas. Na época, o dinheiro foi depositado na conta da escola e os recursos humanos chegaram, mas, novamente hoje a Emílio Massot enfrenta o atraso da verba da autonomia.

Conforme a equipe diretiva, o mês de fevereiro foi pago, mas faltam repasses desde outubro de 2016. Com isso, a manutenção da escola, que atende 1.050 estudantes, fica prejudicada.

Marcos (à esquerda) e Douglas são alunos do Colégio Emílio Massot

Mesmo sabendo das dificuldades, Marcos se sente motivado a seguir envolvido com a escola. No ano passado, foi presidente do grêmio estudantil e pretende candidatar-se novamente. No futuro, sonha em lecionar na Emílio Massot.
– Vou focar nos estudos para ir para uma universidade pública. Teve um tempo em que eu perdi a esperança (de melhoria na educação). Mas eu aprendi muita coisa no ano passado, mudou meu jeito de pensar – complementa o colega Douglas da Silva Silveira, 17 anos, do terceiro ano.

A Seduc informa que os repasses não ocorreram no prazo, como nas demais escolas do Estado, em função de atraso na prestação de contas, que é feita pelo próprio estabelecimento de ensino. A escola, porém, teria recebido a totalidade dos repasses ainda em fevereiro.

Araguaia: alunos mais críticos
Os 800 alunos da Escola Estadual de Ensino Fundamental Araguaia, no Bairro Aberta dos Morros, na Capital, vão encontrar novidades no retorno às aulas. As salas foram pintadas de amarelo vibrante _ com recursos da escola e doações de pais _ e passaram a ser salas ambiente, uma para cada disciplina. A quadra poliesportiva, porém, continua a mesma: piso de cimento e brita, sem cobertura, muito distante do espaço com o qual os estudantes que participaram da ocupação da escola no ano passado sonhavam.
– Eu espero que as condições melhorem, porque ano passado estava precário _ disse Lorran Fernandes, 16 anos, aluno do oitavo ano, lembrando, por exemplo.

Em 2016, Lorran era vice-presidente do grêmio estudantil e fez parte do grupo de alunos que decidiu participar do movimento, como Paulo Roberto Costa, 16 anos, que já concluiu o ensino fundamental, Lucas da Silva Paranhos, 16 anos, do oitavo ano, e Diógenes Fagundes Bernardes, 16 anos, do oitavo ano.

Alunos do Araguaia na expectativa pelo retorno às aulas

Na época, o fato de os protagonistas serem estudantes do ensino fundamental surpreendeu a diretora Márcia Chiaramonte Pahim _ e também foi motivo de orgulho. Eles não chegaram a pernoitar no local, apenas cumpriam jornadas de 12 horas em atividades como faxina nas salas, oficinas e aulas de filosofia.
– Eles conheceram a realidade da escola, a dificuldade de verba. Os alunos ficaram mais politizados, ficaram mais críticos e entenderam que é preciso batalhar – comentou Márcia.

A dificuldade de verba a que a diretora se refere era o atraso no repasse da autonomia financeira. Atualmente, os pagamentos estão regularizados e o quadro de professores completo. Para Lorran, a melhoria na estrutura da escola é algo que virá com o tempo. O ano ano letivo vai começar diferente para os alunos da Araguaia depois da experiência vivida na ocupação:
– Passamos a ver os professores como trabalhadores, como pessoas, como amigos. Durante a ocupação, tivemos o entrosamento com os professores, mas mantivemos a nossa autonomia – explicou Lorran.


Fórum foi criado após ocupações

Durante as ocupações, o governo do Estado criou o Fórum Farol do Futuro com o objetivo de discutir as reivindicações das comunidades escolares e os temas gerais da Educação. As reuniões passaram a ocorrer com estudantes secundaristas, instituições e sociedade civil. Com isso, somente no mês de julho, foram depositados R$ 40,8 milhões de uma só vez na conta de 353 estabelecimentos de ensino. O recurso foi destinado para reformas e obras definidas como prioridades pelas comunidades escolares.
A expectativa é realizar a próxima reunião no início do mês de abril para discutir a construção do novo currículo do Ensino Médio e apresentar um relato das obras escolares.



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