Opinião
Felipe Bortolanza fala sobre a contratação do goleiro Bruno por clube mineiro
Varginha, 20 de janeiro de 1996.
Na pacata cidade de 100 mil habitantes, ao sul de Minas Gerais, três meninas relatam ter visto um ser estranho, baixinho e de olhos vermelhos. Do dia para a noite, pesquisadores e inúmeras testemunhas começaram a falar sobre o "ET de Varginha". A partir daí, surgiram mais relatos sobre criaturas, objetos não identificados e até mortes misteriosas. Varginha saiu em dezenas de revistas especializadas e ganhou fama mundial.
Varginha, 14 de março de 2017.
Passados 21 anos, a cidade volta a ser centro das atenções. Agora, não mais nas páginas de mistérios/ufologia, mas no tema esportivo/policial. Diferentemente da visão das meninas, o ET da vez tem rosto, nome, profissão. Bruno Fernandes de Souza, 32 anos, goleiro, foi apresentado ontem pelo Boa Esporte, clube da Série B do Campeonato Brasileiro. Vai ganhar cerca de R$ 12 mil por mês.
Briga até dentro de casa
De semelhante entre ele e o ET o fato que ambos provocam medo, tensão e discórdia. Afinal, Bruno foi preso pela morte de Eliza Samúdio, ex-amante que alegava ter um filho com ele.
Desde que a negociação com o jogador se tornou pública, há uma semana, parte da torcida se revoltou e patrocinadores rescindiram contrato com o clube, não querendo associar a marca com a figura de Bruno, que está em liberdade condicional. Ou seja: a qualquer momento ele pode voltar à cadeia. Mas o presidente do Boa, Rone Moraes, diz que o atleta tem direito a retomar a vida. Justificativa que já gerou racha na direção do clube. Pai de duas filhas, até dentro de casa o presidente arrumou briga. Por que será, então, que ele abraçou esta contratação? Ele não é claro, e insiste em dizer que "gosta de um desafio" e que o "Boa não está fazendo nada de errado, não é um Tribunal de Justiça, é um clube".
Nem se vestisse a camisa 10
Fato é que a crueldade do crime está muito presente. Eu não gostaria de ver Bruno defendendo o meu time. Muito menos ele tendo cumprido apenas sete dos 22 anos de condenação.Tens coisas que só acontecem no Brasil. Se oET de 1996 chegasse hoje a Varginha, ele não seria a principal notícia. Nem se vestisse acamisa 10 do Boa.