Saúde na Região Metropolitana
Maternidade do Hospital Viamão poderá fechar
Única instituição pública da cidade avalia medida devido à baixa procura pelo serviço. Gestantes seriam encaminhadas a Alvorada
O baixo número de partos diários realizados no Instituto de Cardiologia Hospital Viamão, única maternidade da cidade, abriu a discussão para o possível fechamento do serviço. Dos 3,6 mil nascimentos anuais de moradores de Viamão, apenas 16% deles ocorrem na instituição. O restante acaba sendo feito em hospitais de Porto Alegre e de Alvorada. Hoje, segundo o diretor técnico da instituição, João Almir Camargo Jorge, o Hospital Viamão realiza dois partos diários, quando poderia fazer mais do que o dobro de atendimentos.
– É uma proposta que ainda está em fase inicial, mas o objetivo é racionalizar os recursos regionalizando o atendimento. Na regionalização, as gestantes seriam encaminhadas ao hospital de Alvorada, que já é voltado à área materno-infantil – salienta João Almir.
Pré-natal
Uma das explicações para a baixa procura estaria no processo inicial de pré-natal na rede de atendimento nos postos de saúde de Viamão. Hoje, a rede municipal conta com seis ginecologistas obstetras para as 16 unidades de saúde. Por mês, a prefeitura garante que são ofertadas às gestantes em pré-natal 300 consultas com ginecologista, 450 com enfermeiro e 450 com médico da atenção básica. O município afirma seguir as orientações do Ministério da Saúde. Consultas do pré-natal de baixo risco (em média 85% das gestações) são com atendimentos intercalados entre médicos da atenção básica e enfermeiros. As gestantes que possuem gestação de risco são atendidas por médicos especialistas (ginecologistas) e seguem acompanhadas pelos médicos da Atenção Básica.
Mas nem as explicações da prefeitura são suficientes para convencer as moradoras de Viamão a optarem pelo hospital local. Prestes a dar à luz os gêmeos Hyago Dominick e Thallys William, a dona de casa Rita de Cássia Marques Falcão, 31 anos, moradora da Vila Orieta, optou por ganhar os filhos na Capital. Diabética, Rita de Cássia enfrenta uma gravidez de risco e, por isso, precisa de atendimento especializado – algo que afirma não ter encontrado nos postos de saúde da cidade. Aos três meses e aos oito meses de gestação, quando passou por dificuldades na gravidez, a dona de casa chegou a ser medicada no hospital de Viamão.
– Eu estava com muitas dores e sangrando. Me deram um remédio e me deixaram numa cadeira por horas. O soro já tinha acabado e eu segui lá sem ser vista por um médico. Considerei um descaso. Prometi que não voltaria lá – conta.
Morando a menos de 15 minutos do hospital, Rita de Cássia prefere seguir até a Capital por mais de 30 minutos para ter os filhos no Hospital São Lucas da Puc-RS.
Encaminhamento de ambulância
A peregrinação que Rita fará é comum entre as gestantes de Viamão. Segundo uma funcionária do hospital que atua na parte de obstetrícia, apenas as moradoras mais carentes e as da zona rural de Viamão costumam buscar o atendimento no hospital da cidade.
– Só vem aqui quem não tem condições financeiras de se deslocar até Porto Alegre ou quem já mora muito longe do hospital mais próximo. Se estas mulheres tiverem que ir a outro hospital, em outra cidade, poderão ganhar os bebês na rua – teme.
O diretor técnico ressalta que o projeto prevê a aquisição de uma nova ambulância para ser utilizada no deslocamento das gestantes até Alvorada. O trajeto, garante João Almir, levaria cerca de 15 minutos – os hospitais ficam a 11km de distância um do outro. Apenas casos urgentes seriam realizados em Viamão. A proposta feita pelo Instituto vem sendo analisada em conjunto por representantes do hospital, do Conselho Municipal de Saúde, do Departamento de Saúde da Mulher e pela 2ª Coordenadoria Regional de Saúde.
Simers e prefeito são contra
Contra o projeto, o Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers) destaca que a adição de mais partos em Alvorada sobrecarregará a cidade vizinha e deixará a população de Viamão desassistida. Também contrário à proposta da instituição, o prefeito de Viamão, André Pacheco (PSDB), afirma que a logística de levar as gestantes para outra cidade não foi explicada. Ele se disponibilizou a encontrar junto com o hospital outra alternativa que não suspensa o serviço na cidade de 260 mil habitantes.
André lembrou também que o serviço na rede básica de saúde às grávidas de Viamão está em condições. Este não seria o problema que faz com que a maioria prefira ter os filhos em cidades vizinhas. Para o prefeito, as gestantes que optam pela Capital têm convênio e preferem ganhar nos hospitais indicados.
– Sou filho de Viamão e posso garantir que o hospital sempre teve condições de atendimento. Investimos mais de R$ 5 milhões em saúde pública e estamos inaugurando mais três postos na cidade. Temos um bom atendimento e queremos continuar tendo também com o hospital – finalizou.
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