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Saiba por que o Salto do Yucumã, maior queda d'água longitudinal do mundo, pode desaparecer

Patrimônio mundial localizado em Derrubadas, no Noroeste do Estado, corre o risco de ficar submerso pra sempre. Local terá vazão testada

28/04/2017 - 07h01min

Atualizada em: 18/07/2018 - 18h40min


Aline Custódio
Aline Custódio
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Mateus Bruxel / Agencia RBS

Considerado a maior queda d'água longitudinal do mundo, com 1,8km de extensão, o Salto do Yucumã, em Derrubadas, no Noroeste do Estado, terá a sua vazão testada de hoje até a próxima segunda-feira. A medida, autorizada pelo Conselho Nacional de Recursos Hídricos, atende a reivindicações de lideranças da região. O motivo: o salto corre o risco de ficar submerso para sempre no Rio Uruguai.

A constatação vem de um estudo da Secretaria Estadual de Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Sema), iniciado em junho de 2016. Segundo o diretor do Departamento de Recursos Hídricos da Sema, Fernando Meirelles, hidrelétricas instaladas acima do Salto estão fazendo com que ele fique submerso, praticamente, o tempo inteiro, reaparecendo apenas por poucas horas e à noite. Ainda em 2015, a Sema enviou ofício ao Conselho Nacional de Recursos Hídricos solicitando avaliação da situação do Yucumã. Em abril de 2016, durante uma reunião envolvendo diferentes órgãos estaduais e federais, o Operador Nacional do Sistema Elétrico negou que as usinas fossem responsáveis por qualquer alteração no leito do Rio Uruguai.

Para comprovar o problema, o Estado optou pela instalação de uma estação de medição de nível nas margens do rio na cidade de Itapiranga, em Santa Catarina. A explicação para o Salto ser engolido pelas águas foi constatada nos dados fornecidos a cada 15 minutos pelo equipamento.
– A usina Foz do Chapecó, situada a cerca de 160km do Salto, também tem responsabilidade pelo enchimento do Yucumã. A usina opera com maior vazão turbinada entre 9h e 22h, nos dias úteis e nos sábados. O tempo de viagem entre a Usina e o Salto é estimado em 12 horas. Os dados mostram que, de terça a sábado, o nível do Rio Uruguai sobe a partir das 21h, atingindo o máximo por volta das 6h30min da manhã do dia seguinte, ou seja, nove horas e meia de subida. Depois, desce até atingir um mínimo às 21h. Ou seja, o Salto seria mais visível entre 18h e 1h do dia seguinte – explica Fernando.

Além da Foz do Chapecó Energia, outras nove usinas atuam na bacia do Rio Uruguai e acima do Yucumã. Todas estão integradas ao sistema elétrico brasileiro.

Incentivo ao turismo

Mateus Bruxel / Agencia RBS

Durante o período de testes, será alterado o horário de funcionamento da usina Foz do Chapecó. A partir do resultado verificado, ou seja, se comprovado o aumento da visibilidade do Salto do Yucumã, deverá ser autorizada a mudança de horário do funcionamento da usina, a fim de não mais permitir que o local fique embaixo d'água.

Mateus Bruxel / Agencia RBS
Em março, grupo de ciclistas da região fez mobilização no Salto pedindo que o local seja recuperado
Mateus Bruxel / Agencia RBS
Com o desaparecimento do Yucumã, Márcia viu o hotel esvaziar. Hoje, o Salto como era só é visto em fotografias antigas

A mudança pode voltar a movimentar o turismo na Rota do Yucumã, formada pelos 33 municípios do Celeiro e do Planalto Médio, que viu despencar a procura pela região nos últimos sete anos. As prefeituras culpam a instalação da usina de Chapecó, em funcionamento desde 2010. Em Tenente Portela, por exemplo, os 285 leitos da rede hoteleira praticamente se mantêm vazios aos finais de semana. Representante da Associação Turística Caminhos do Interior e proprietária de um hotel no Centro da cidade, Márcia Mueller relata que os últimos turistas estrangeiros estiveram na cidade em 2014. Conforme o secretário da Indústria, Comércio e Turismo de Tenente Portela, Nilson Luiz Rosa Lopes, houve épocas em que se chegou a ter 20 ônibus de turistas alemães numa única visita.
– Recebíamos muitos argentinos e europeus, principalmente suíços e alemães, que vinham para ver a beleza natural, mas não a enxergavam (devido ao Salto estar submerso). Podíamos apresentar ao mundo esta natureza única, mas estão nos tirando esta possibilidade – desabafa Márcia.

Ex-moradora de Derrubadas, a biomédica Lidiane de Almeida, 27 anos, hoje vivendo em Encantado, no Vale do Taquari, aproveitou a folga para levar o namorado, o engenheiro de manutenção Flávio Santos, 36 anos, ao Salto. Ele não conhecia o lugar e ficou impressionado com a beleza, apesar de parte do Yucumã estar submersa no dia em que o casal foi ao local.
– Uma beleza quem nem todos os gaúchos sabem da existência – disse Flávio.
– Este lugar é um paraíso, não pode sumir – ressaltou a biomédica, que fez questão de levar ao passeio a prima Bruna Simão, 11 anos, que, mesmo morando no interior de Derrubadas, jamais havia visitado o Salto.

Mateus Bruxel / Agencia RBS
Lidiane fotografa o namorado e a prima no que resta do Yucumã

Questão está na Justiça
Uma ação na Comarca da Justiça Estadual de Tenente Portela, transferida para a Justiça Federal, foi ajuizada pela prefeitura de Derrubadas. No processo, ainda em fase de instrução, o município exige indenização por danos ambientais causados pela usina e pede a paralisação da operação da hidrelétrica até o controle do fluxo de água no Salto. Segundo a prefeitura, desde o início da operação da usina, em 2010, Derrubadas acumula prejuízos no turismo, principal atividade econômica no município de 3,1 mil habitantes.

Atual presidente da Rota do Yucumã, o prefeito de Tenente Portela, Clairton Carboni, afirma que a região está mobilizada para tentar um acordo com o regulador das hidrelétricas que funcionam ao longo do Rio Uruguai:
– Se o Salto ficasse visível durante o dia, nosso turismo poderia ser ampliado em mais de 50%. Sem contar que o impacto ambiental tem sido cruel, acabando com a fauna do rio.

Por meio da assessoria de imprensa, a Foz do Chapecó Energia informou que "em seu entendimento, não há correlação entre a operação da Usina e a visibilidade do Salto do Yucumã. A Usina Foz do Chapecó é uma usina a fio d'água, um tipo de usina caracterizado por reservatórios de pequenas proporções. Assim, toda água que chega à hidrelétrica deve ser vertida ou turbinada, não havendo acúmulo de volume significativo de água. Desta forma, a existência da Usina não altera as vazões de água a sua jusante e, consequentemente, não é responsável por impactos nas variações de volume de água do rio".

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