Protesto
Cegos fazem Marcha das Bengalas contra falta de repasse da prefeitura
Associação de Cegos do Rio Grande do Sul teme fim dos repasses da prefeitura
Motivados pela informação de que não receberiam mais uma verba trimestral da prefeitura de Porto Alegre, integrantes da Associação de Cegos do Rio Grande do Sul (Acergs) fizeram a Marcha das Bengalas pelas ruas centrais da Capital, nesta tarde, para chamar a atenção da administração municipal. Segundo a associação, não haveria garantia de renovação do contrato anual que prevê o pagamento de profissionais para o trabalho de reabilitação e habilitação de pessoas cegas.
Pioneira na prestação deste serviço na Capital, a Acergs tem 50 anos de existência. A entidade atua no acolhimento, reabilitação, qualificação profissional, paradesporto e cultura de deficientes visuais. Mensalmente, a entidade atende a cerca de 800 pessoas. De acordo com o presidente da Acergs, Gilberto Kemer, o convênio foi firmado no ano passado com a extinta Secretaria Municipal de Acessibilidade e Inclusão, absorvida pela Secretaria de Desenvolvimento Social, e prevê o repasse de um valor trimestral de R$ 26.249,31.
– Recebemos a informação de que estaria em risco este convênio, que estabelece os serviços de orientação e mobilidade, atendimento psicológico, ensino do braille e aulas de informática para a população com deficiência visual. Por isso, resolvemos nos mobilizar – explica Gilberto.
Preocupados com a possibilidade da suspensão do serviço, participantes das atividades desenvolvidas na Acergs fizeram questao de participar da Marcha. Evelyn Pereira, 18 anos, do Bairro Ipanema, frequenta há dois anos a entidade e teme o fim dos cursos de informática oferecidos na associação.
– Me tornei uma pessoa mais independente desde que comecei a cursar dança, informática e orientação e mobilidade na Acergs. Imaginar que ficaremos sem isso é uma tristeza – disse, antes do início da caminhada.
Assim como Evelyn, a ex-diarista Clenir Rodrigues, 59 anos, moradora de Guaíba, utiliza todos os serviços da entidade. Desde que perdeu a visão, em 1999, Clenir dependia do marido, o auxiliar de manutenção Paulo Oliveira, 59 anos. Há cinco anos, ela conheceu a Acergs.
– Voltei a ter confiança e me reabilitei. Agora, eles estão me ensinando a discar no celular. Se estes cursos forem cancelados, não sei como ficará a minha vida –desabafou.
Resposta da prefeitura
A Marcha das Bengalas terminou em frente ao prédio da prefeitura, onde uma comissão foi recebida pelo vice-prefeito, Gustavo Paim, pelo o secretário da Fazenda, Leonardo Busatto, e pela secretária de Desenvolvimento Social, Maria de Fátima Zacchia Palludo.
– Foi com surpresa que recebi a informação de que havia uma manifestação da Acergs. Tinha me reunido com representantes da Associação em três oportunidades, e em nenhuma delas foi abordada a questão – ressaltou a secretária.
Maria de Fátima destaca que o convênio firmado com a gestão anterior, de julho de 2016 a julho de 2017, não preveu no orçamento deste ano as duas das quatro parcelas trimestrais de R$ 26.249,31, cada. Por isso, a secretária precisou fazer um trâmite burocrático que permitisse o repasse.
– Reconheço o atraso da terceira parcela, que venceu há menos de um mês. Mas o decreto deve ser assinado nos próximos dias liberando o valor. O mesmo ocorrerá com a quarta parcela. A questão é que ainda não terminou o convênio. Voltaremos a discutir o tema no tempo certo, no final do próximo mês –garantiu a secretária.
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