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Pesou no bolso e na mesa

Com dicas de donas de casa de Porto Alegre, saiba como sobreviver à cesta básica mais cara do país 

Diese aponta Capital gaúcha como responsável pelo maior preço da cesta básica no Brasil. O jeito é encontrar maneiras de economizar

10/05/2017 - 07h00min

Atualizada em: 10/05/2017 - 07h01min


Roberta Schuler
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Maria de Lourdes pesquisa item a item a lista do mercado antes de comprar para garantir o menor preço

A cesta básica de Porto Alegre, calculada pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), é a mais cara do país – passou de R$ 437,22 (março) para R$ 464,19 –, e abocanha metade do salário mínimo (R$ 937). Diante desta constatação e de um cenário de crise econômica, o Diário Gaúcho buscou, junto aos consumidores, as alternativas para fugir das altas. São procedimentos que sempre foram importantes para quem busca economizar, mas que, agora, são fundamentais para a manutenção do orçamento das famílias.

É anotando os preços de cada item do rancho que a dona de casa Maria de Lourdes Nogueira, 61 anos, vem tentando driblar os efeitos da cesta básica mais cara do país.

– O tomate é só para remédio! Fui criada no meio da batata, mas agora não dá para comprar – comentou a moradora da Lomba do Pinheiro enquanto fazia a compra do mês.

Vilões no prato

A dona de casa tem razão. O tomate e a batata dispararam de preço _ altas de 64,69% e 26,64%, respectivamente. Sabendo quanto o item custou no mês anterior, Maria de Lourdes consegue comparar os preços e buscar estabelecimentos que tenham produtos mais baratos.

Para Lizete, a saída é abrir mão das marcas mais caras e optar por outras com preços mais acessíveis

A saída encontrada pela aposentada Lizete Costa, 71 anos, do Partenon, é optar por marcas mais baratas quando o produto não tem possibilidade de substituição, como é o caso do café (alta de 2,9%), que está entre os oito produtos mais caros da cesta básica.

– Tenho a marca de café preferida, mas procuro um produto de menos valor – explica.

Já a cuidadora de idosos Roselena Bittencourt, 54 anos, mudou o hábito de consumo para tentar superar os aumentos de preços. O leite (2,03% mais caro), por exemplo, a família comprava duas caixas por mês. Agora, vem adquirindo apenas a quantidade necessária para consumo na semana, na tentativa de localizar locais que ofereçam o produto mais barato.

Roselena e a família trocaram a carne pelo peixe

– Lá em casa, o pessoal é bem carnívoro. Mas a carne está cara (aumento de 2,22%), então estamos substituindo por frango e peixe – ensina Roselena.

A auxiliar de serviços gerais Richele Silveira, 25 anos, acompanha os preços e abre mão dos produtos mais caros, ou faz substituições.

– Do tomate eu nem passei perto! Ia comprar a banana caturra (R$ 2,39), mas troquei pela catarina (R$ 3,39), que é menor e no fim vai custar menos.

Richele, agora, foge do tomate e escolhe a opção mais barata da banana

Cinco dicas importantes

1. Pesquisa de preços é fundamental. Anotar os preços pagos pelos alimentos é uma dica para não confiar apenas na memória.

2. Abandonar a preferência por marcas pode garantir economia. O mesmo vale por estabelecimentos.

3. A compra semanal pode permitir economizar, pois a variação de preços pode ocorrer no período.

4. A feira e, principalmente, a xepa, podem assegurar preços mais competitivos.

5. Atacarejos também podem ser mais uma alternativa.

Pesquisa e compra semanal

O presidente do Movimento das Donas de Casa e Consumidores do RS, Cláudio Pires Ferreira, avalia que as saídas adotadas pelas consumidoras ouvidas na reportagem são positivas para enfrentar uma crise persistente e prolongada.

– Continuamos recomendando a pesquisa para comparação de preços. A diferença chega a 20%, 30% e até 80% entre os estabelecimentos – observa.

Cláudio destaca a mudanças de comportamento dos consumidores diante de uma cesta básica mais cara: desapego das marcas e compras semanais, no lugar do rancho do mês.

– Semanalmente, há variações de preço e o consumidor está tentando se precaver.

O presidente também lembra as feiras e os atacarejos como outras opções para os consumidores. No caso dos atacados, porém, pontua que é importante observar quantidade e data de validade dos produtos para a compra valer a pena.

Por que é a cesta mais cara?

Uma das possíveis explicações para a cesta básica de Porto Alegre ser a mais cara do país – desde setembro de 2016 está no topo – está relacionada à carne. Conforme a economista Daniela Baréa Sandi, responsável pela análise da cesta mensal do Dieese, a carne é um dos produtos de maior peso na cesta, correspondente a quase 40% dos R$ 464,19. A carne gaúcha também é a carne de maior valor entre as 27 capitais, além de ter qualidade para concorrer com o mercado internacional.

O fato de a cultura da feira não ser ainda realidade para a maioria da população também pode contribuir para a cesta ser a mais cara, pois a compra fica concentrada apenas nos supermercados. Ainda no caso dos hortifrutigranjeiros, a questão geográfica do Estado também conta, pois boa parte dos itens vem do centro do país e há despesas com frete e transporte, que são consideradas na formação dos preços.

Números

/// O Dieese pesquisa um conjunto de 13 produtos todos os meses: carne, leite, feijão, arroz, farinha, batata, tomate, pão, café, banana, açúcar, óleo e manteiga./// Em Porto Alegre, a alta foi de 6,17% de março para abril.

/// Oito itens dispararam de preço: o tomate (64,69%), a batata (26,64%), o café (2,90%), a farinha (2,80%), a banana (2,62%), a carne (2,22%), o leite (2,03%) e a manteiga (1,45%).

/// Ficaram mais baratos: o feijão (-8,26%), o óleo de soja (-6,30%), o açúcar (-4,32%) e o pão (-0,47%).

/// No ano, a variação ficou em 1,13%. Em 12 meses, em 8,73%. É o dobro da inflação.

/// No topo da lista, Porto Alegre é seguida por Florianópolis (R$ 453,54), Rio de Janeiro (R$ 448,51) e São Paulo (R$ 446,28).



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