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Namoro na escolinha? Psicóloga explica sobre as relações de amizade e amor entre crianças 

É muito comum pais depararem com filhos pequenos contando que estão "namorando" coleguinhas. Saiba como agir nestas situações. 

12/05/2017 - 07h01min

Atualizada em: 12/05/2017 - 07h02min


Cristiane Bazilio
Cristiane Bazilio
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Amiguinhos, não namorados

Quem nunca viu o filho pequeninho chamar um amiguinha de escola ou da vizinhança de namorada? Com as meninas, também é bastante comum. Se não aconteceu ainda com você, provavelmente, já ouviu relato semelhante de algum amigo ou familiar.

O fato é que pode até ser bonitinho ver o pitoco fazendo uma gracinha assim, mas não é saudável para a criança. De olho nessa prática, a Secretaria de Assistência Social do Amazonas lançou uma campanha na internet contra a erotização precoce na infância, com o slogan "Criança não namora, nem de brincadeira".

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A hashtag #criancanaonamora ganhou as redes sociais e faz parte de uma ação mais ampla do governo do Amazonas para mobilizar escolas, comunidades, psicólogos e pais contra a exploração infantil.

O Diário Gaúcho pega carona nesse tema que intriga muitos pais e mães para explicar, com a ajuda de uma psicóloga, o que passa na cabeça dos pequenos nesse momento de descobertas e como lidar com situações como essa.

Entendimento limitado

Segundo a psicóloga especialista em crianças e adolescentes Michele Scheffel Schneider, mestre em psicologia clínica e professora da Unisinos, é só a partir da puberdade, em média, por volta dos 12 anos, que o menino ou menina, já adolescente, vai ter entendimento sobre o que, de fato, representa um namoro ou um relacionamento.

No caso dos pequeninhos, até cinco anos, o momento é de descobertas, biológicas e anatômicas, mas sem nenhum entendimento sobre a sexualidade.

– A criança pequena tem afeto, tem afinidade, mas não quer dizer que seja amor, paixão ou qualquer interesse erotizado nessa criança. O que existe nessa criança é uma sexualidade de investimento afetivo. Por isso, é comum ela querer estar perto de um amiguinho de quem seja mais próxima, abraçar, até beijar, especialmente até os dois anos, quando ainda estão na fase oral – explica a especialista.

Michele destaca ainda que crianças pequenas agem muito por imitação, refletindo, em suas atitudes, o que vêem em seu convívio diário. E, nesse período, aquele empurrãozinho dos pais pode acabar forçando uma barra desnecessária.

– Ver o pai e a mãe juntos, casais de namorados, alerta para a questão de homem e mulher. E eles vão pela via da repetição, portanto, querem dar beijo, abraçar, mas isso não é desejo ou uma emoção muito clara. Só que os pais acham bonitinho e hiperestimulam a criança, pulando etapas.

O que os pais devem fazer

- Nunca mudar de assunto, não driblar a curiosidade da criança ou fingir que não notou o que ela está falando ou fazendo. Se não souber como agir, procurar ajuda de profissionais para lidar com essa situação.

- Perguntar para a criança o que ela entende por namorado, como é o que ela chama de namoro.

- Explicar que ela não tem idade para namorar, que isso não é coisa de criança. Que quando ela tiver do tamanho do pai e da mãe, aí, sim, poderá ter namorado.

- Demarcar funções e lugares dos pais e das crianças. Não acostumá-la a tomar banho com pai e mãe nem dormir na cama com eles.

- Evitar dar beijo na boca da criança, porque ela não sabe diferenciar.

- Manter sempre o diálogo aberto, tanto com o filho quanto com a escola para estar a par do que se passa no ambiente escolar e deixar claro como procede em casa.

Pais e escola alinhados

Diante de situações como essas em que as crianças começam a falar em namoro ainda tão precocemente, o ideal, segundo a psicóloga, é manter o diálogo aberto com o filho e explicar, claramente, quais são os lugares e papéis de adultos e crianças:

– As explicações, nessas situações, devem ser pensadas de acordo com a capacidade de compreensão da criança e não dos pais. No caso das menores, é importante explicar que aquela menina ou menino de quem o filho gosta é um amiguinho. Que criança não tem namorado, só os adultos. E nunca estimular pelo lado da erotização, mas, sim, do afeto. Na escola, é importante que os profissionais da instituição estejam alinhados com essa compreensão e reproduzam o mesmo discurso.

Além disso, aponta, Michele, é recomendado ficar atento quando a questão estiver em alta entre muitos alunos:

– Às vezes, a sexualidade surge com força em determinada turma, entre muitas crianças. Nesses casos, pode ser indicado fazer um trabalho com elas para falar sobre o assunto. Uma atividade lúdica, que trabalhe com o corpo e que traga informação, sempre respeitando o limite de idade e de compreensão dos pequenos. E no caso de alguma situação específica mais grave, é bom chamar os pais para uma conversa, até para entender o que está acontecendo em casa e orientá-los.

Estímulos na dose certa

Crianças de pouca idade costumam reagir aos estímulos dos adultos. Por isso, cabe aos pais dosar o que colocarão à disposição dos filhos nessa fase. Dar a elas acesso diário e repetido a filmes, novelas e programas com conteúdo adulto – e às vezes erótico, por menor que seja o teor – pode antecipar uma etapa que só viria a acontecer bem mais pra frente, de forma natural e mais saudável.

– Está no adulto e não na criança essa coisa de falar de namorado, de incentivar esses pensamentos e atitudes. Às vezes, a criança ainda não está com o corpo pronto, mas ela já está emocionalmente estimulada. As coisas estão se invertendo, e os processos sendo acelerados – lamenta Michele, que aponta prejuízos na firmação desse indivíduo:

– O excesso de erotização e estímulo cria uma agitação muito grande na criança, e isso pode ser entendido como hiperatividade, levando a criança a ser medicada. Mas, na verdade, ela está ansiosa e agitada por conta de um excesso de estímulo com o qual ela não sabe o que fazer.



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