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Conheça o piloto da "máquina que faz estrelas": o funcionário mais antigo do Planetário da Ufrgs

Completando 45 anos na função, foi ele quem auxiliou na montagem do projetor alemão SpaceMaster, que funciona até hoje 

06/06/2017 - 06h00min

Atualizada em: 10/11/2022 - 18h26min


Aline Custódio
Aline Custódio
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Mateus Bruxel / Agencia RBS
Ary Nienow, 66 anos, está completando 45 anos na função

A bordo de uma máquina que só funciona quando não há qualquer luz ambiente, há 45 anos o físico Ary Nienow, 66 anos, conduz crianças e adultos a milhões de quilômetros de distância. Quatro vezes por semana, ele alcança as estrelas, percorre planetas e ainda tem o poder de retroceder ou avançar no tempo. Funcionário mais antigo em atividade no Planetário Professor José Baptista Pereira, conhecido como Planetário da Ufrgs, em Porto Alegre, Ary é um especialista na manutenção do projetor alemão SpaceMaster, ou a máquina que faz estrelas, como ele mesmo a identifica.

No Planetário desde antes da inauguração, ocorrida em novembro de 1972, Ary foi selecionado para atuar ao lado dos engenheiros alemães responsáveis pela instalação dos equipamentos. Em junho daquele ano, o jovem estudante do segundo semestre de Física, natural de Dois Irmãos e que falava fluentemente a língua alemã, tornou-se o intérprete da equipe estrangeira. Ele recorda que, na época, não imaginava o que vinha a ser um planetário. A resposta surgiu ao entrar na cúpula em construção e deparar com os engenheiros montando o SpaceMaster. Por ter acompanhado todo o processo, o físico acabou se especializando na montagem do projetor.

– Considero como um filho meu. É bem sensível e tem suas manias. De vez em quando, encrenca e dá problemas. E, mesmo trabalhando nele há 45 anos, ainda vejo que o SpaceMaster tem os seus mistérios – comenta o físico, enquanto alisa com cuidado a aparelhagem disposta no centro da cúpula.

Paixão

Antes de atuar no planetário, Ary não lembra de alguma vez ter contemplado as estrelas. A admiração veio ao projetar pela primeira vez as imagens que saíram do SpaceMaster.

– Foi uma coisa fantástica ver o céu como se a gente estivesse lá fora, numa noite bem escura e sem poluição. Era só ficar sentado na poltrona confortável, e olhando para cima. Aquilo me agradou muito – conta.

Cada vez mais fascinado pela possibilidade de percorrer o espaço, Ary dedicou-se a montar programas que pudessem se aproximar do público visitante. Hoje, 21 gavetas da sala administrativa contêm as histórias que são passadas de acordo com a idade dos visitantes. As sessões das terças-feiras, por exemplo, são gratuitas, dedicadas aos pequenos de escolas públicas. Contam histórias com personagens infantis que apresentam os planetas e as constelações. As apresentações costumam durar de 30 a 50 minutos. Aos domingos, por exemplo, Ary ainda contempla os visitantes com explicações feitas ao vivo, depois da programação. É quando o físico costuma presentear as famílias respondendo curiosidades relacionadas à astronomia.

– Toda a sessão que a gente passa aqui é uma experiência nova. Porque uma sessão nunca é igual à outra. As crianças se divertem com os planetas, os adultos ficam boquiabertos ao verem a aurora boreal. E, com o tempo, decorei os programas e passei a aproveitar mais. Hoje em dia, é quase um hobby – declara.

Viajante intergaláctico

Durante anos, Ary foi o único técnico responsável pela manutenção dos equipamentos nos planetários localizados em Santa Maria, Goiânia, Brasília, João Pessoa e no Rio de Janeiro. Em Porto Alegre, ele ainda é a maior autoridade quando o assunto é SpaceMaster. Até por isso, e pela paixão declarada pelo local onde trabalha, que o físico vem prorrogando a aposentadoria. Ainda não há um substituto à altura de Ary.

– É um projetor antigo, de 47 anos. A base eletrônica dele é totalmente diferente do que é ensinado hoje, dos atuais recursos. Meu único temor é que ele venha a ser substituído por falta de um técnico – desabafa o físico.

À frente dos botões de controle do SpaceMaster, Ary se sente um viajante intergaláctico. Morador da cidade onde nasceu, ele costuma dizer que visita mais vezes o espaço do que outros lugares na Terra. E apesar de toda a admiração pelas constelações, o físico surpreende quem o questiona sobre o lugar que mais deseja conhecer. Não é a lua ou Júpiter, o maior planeta do Sistema Solar. Ary tem o sonho de visitar a empresa fabricante do SpaceMaster, localizada na Alemanha.

SpaceMaster

Mateus Bruxel / Agencia RBS

/// O SpaceMaster foi doado pelo Ministério da Educação e Cultura.
/// O projetor se comporta como se fosse a Terra, simulando os movimentos de rotação, translação, precessão dos equinócios.
/// Ele também possibilita a mudança de latitude, possibilitando o deslocamento sobre o globo terrestre para ver o céu de qualquer parte do mundo.
/// Ele ainda projeta os planetas, as estrelas, as constelações e as linhas de orientação.

Planetário

/// Endereço: Avenida Ipiranga, 2.000, Porto Alegre. Telefone (51) 3308-5384.
/// O Planetário tem sessões abertas ao público aos domingos. Informe-se em www.ufrgs.br/planetario.
/// Escolas devem agendar participação pelo número (51) 3308-5384.
/// O Planetário surgiu a partir da doação do SpaceMaster.
/// O nome é uma homenagem ao professor de Engenharia José Baptista Pereira, que prestou serviços à astronomia no Rio Grande do Sul.
/// A Ufrgs e a prefeitura firmaram um convênio que permitiu a instalação da máquina.
/// A administração municipal ficou responsável pela construção do prédio e a universidade, pela administração.
/// Um mês antes da inauguração, os astronautas norte-americanos James Lovell e Donald Slayton visitaram o local.
/// O prédio, projetado pelo arquiteto Fernando Gonzalez, sugere uma nave espacial.
/// Na cúpula de 12m de diâmetro podem ser projetadas 8 mil estrelas e todos os planetas.



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