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Vila Liberdade

Famílias estão há mais de três anos em casas de emergência

Moradores atingidos por incêndio na Vila Liberdade, na Zona Norte de Porto Alegre, vivem em condições precárias em casas que deveriam ter sido só de passagem

21/06/2017 - 07h01min

Atualizada em: 21/06/2017 - 07h01min


Aline Custódio
Aline Custódio
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Issac e a mulher, Andreia, dividem casebre de um cômodo com os sete filhos

Espremidos num cômodo feito com material reciclado e madeira de reflorestamento, subdividido com o banheiro, cujo total tem 12,40 metros quadrados, vivem três adultos e seis crianças e adolescentes. Eles são uma das 89 famílias que moram nas casas de emergência erguidas no início de 2014 nas vilas Pampa e Mario Quintana, no Bairro Farrapos, Zona Norte de Porto Alegre, para abrigarem os atingidos por um incêndio na Vila Liberdade. Construídas pelo Departamento Municipal de Habitação (Demhab), as casas serviriam apenas pelos dois anos seguintes. O problema, porém, é que até hoje as famílias seguem morando em condições precárias, à espera de num novo loteamento jamais erguido no local.

Nem mesmo depois de mais de três anos quem vive nas casas de emergência não consegue se acostumar com ratos, cobras, vielas estreitas cobertas com esgoto e casebres se desmanchando. O desempregado Issac Antônio Nunes Sessimbra, 33 anos, a mulher Andreia de Oliveira Marcelino, 40 anos, e os sete filhos do casal, com idades entre um e 20 anos, que o digam. A mulher obrigou-se a colocar o guarda-roupa em frente ao que era a única entrada de ar na estreita peça, desde a queda da janela de ferro causada pela parede que está se desmanchando. Como não são os proprietários do imóvel, Isaac e Andreia não podem modificá-lo. Na tentativa de melhorar as condições da família, o desempregado ergueu um quarto com restos de madeira. No cômodo mais recente cabem uma cama de casal e um berço. No outro, ficam um beliche, um sofá, o guarda-roupa, um armário, a pia da cozinha, uma televisão e uma divisória para o banheiro – onde só se entra de lado.

Família mostra o corredor que separa as casas de emergência

– À noite, tenho que ficar tirando os ratos de cima do bebê. Minha filha de 17 anos teve parte de um dedo do pé arrancado por um deles, enquanto dormia. Não adianta tentar arrumar porque até o piso já cedeu – desabafa Andreia.

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Outro problema sinalizado por quem se obriga a viver nas casas de emergência é a fragilidade do telhado – feito com material reciclado. Arrancadas pelos vendavais ou destruídos pelo próprio tempo, as folhas estão desgastadas e na maior parte das casas chove como se estivesse na rua. Divididas em três áreas das vilas Pampa e Mario Quintana – 21 casas num terreno onde era um campo de futebol, 28 onde deveria ser uma praça e mais 40 em outro espaço –, as famílias acabaram construindo puxadinhos para todos os lados. Uma das casas, por exemplo, ocupa parte de uma rua da Vila Mario Quintana. O morador reconhece a situação, mas afirma não teria como criar os seis filhos num único cômodo.

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Prefeitura quer retomar construção
De acordo com o diretor-geral do Demhab, Mário Marchesan, a situação da Vila Liberdade é a grande preocupação da prefeitura na questão habitação. Mário afirma que foi retomado o projeto, em conjunto com o Estado, de construção de prédios para as 700 moradias necessárias.
– Já iniciamos a conversação com o secretário Fabiano Pereira (Secretaria Estadual de Obras, Saneamento e Habitação), pois a área é do governo do Estado, para que este processo seja retomado. Já encaminhamos o pedido também à Caixa Econômica Federal. É um projeto muito bonito, mas estava na prateleira – relata Mário.

A obra, prevista no governo passado, estaria parada por problemas legais na matrícula da área e que agora estão sendo corrigidos, garante o diretor-geral.
– Houve uma dificuldade do Estado para com o município relacionada a problemas de tributo, dificultando a transferência desta área para o FAR (Fundo de Arrendamento Residencial) e posterior construção do empreendimento Minha Casa Minha Vida. Depois, vieram problemas de orçamento – explica.

Apesar da situação crítica das casas, o diretor-geral não prevê a retirada das famílias das casas de emergência até que a situação seja resolvida definitivamente.
– Estas famílias foram colocadas em casas de emergência ou casas de passagem há quatro anos. Então, chega! Acho que as pessoas precisam de uma casa definitiva – afirma Mário.

Os números
* O incêndio ocorreu em 27 de janeiro de 2013. O principal foco foi em um beco atrás da Rua 6, próximo à Arena do Grêmio, junto ao Km 94 da freeway.
* 700 famílias moravam no local. 89 foram para casas de emergência nas vilas Pampa e Mario Quintana.
* 450 optaram pelo aluguel social de R$ 400, na época. Hoje, o valor é R$ 420 mensal.
* 161 permaneceram no local porque as casas não foram danificadas.






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