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Concluída mas sem uso, maternidade do hospital de Guaíba volta a ser promessa 

Prédio precisa de reformas que custam mais da metade do investimento já realizado 

11/07/2017 - 08h00min

Atualizada em: 11/07/2017 - 15h06min


Aline Custódio
Aline Custódio
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A população de Guaíba voltou a ouvir a promessa de abertura de um dos setores do hospital da cidade – concluído há quatro anos, mas praticamente sem uso. Pelo menos, a maternidade com dez leitos 100% Sistema Único de Saúde (Sus) deve ser inaugurada no primeiro semestre de 2018. Quem prevê o fim dos corredores vazios em parte na área de 1.965 metros quadrados é o secretário municipal da Saúde, Itamar José da Costa. Por ano, são mais de mil partos de filhos de guaibenses realizados em outras cidades do Estado.

Desde o fechamento do Hospital Nossa Senhora do Livramento, em julho de 2015, Guaíba conta apenas com a estrutura de dez unidades de saúde e de um Pronto-Atendimento, que atende num único dia 800 pacientes vindos de mais de dez municípios da região. Depois de um processo arrastado durante toda a gestão passada, sem final positivo, o prédio substituto da entidade privada fechada segue praticamente fechado. Apenas a área frontal foi aberta neste ano para receber o setor de radiologia e dois especialistas. Ao todo, município e Estado já investiram R$ 5,1 milhões no prédio com 72 leitos hospitalares, bloco cirúrgico e ala de internação. O DG acompanha a situação desde julho de 2015.

Exigências custarão milhões

Para a maternidade ser aberta, o prédio inteiro precisa de reformas, exigidas pela Vigilância Sanitária ainda em abril de 2015. Ao todo, são 58 exigências constatadas depois da conclusão da obra e que custarão quase o valor do investimento já realizado: R$ 3 milhões. Foram estas mudanças necessárias, como a colocação de torneiras automáticas nos sanitários e reconstrução da área de esgoto, as responsáveis pelo impedimento da abertura do hospital na época. Agora, Itamar garante já ter a verba necessária, vinda de uma empresa privada – é o valor de uma compensação social por ela ter ampliado a planta de trabalho em Guaíba.

– Para mantermos a maternidade aberta, precisaremos de R$ 400 mil mensais. O Estado demonstrou interesse em dividir os gastos com o município. Mas, se não ocorrer a parceria, a prefeitura vai arcar sozinha com os custos. Não podemos mais esperar – afirma o secretário.

Por enquanto, a possibilidade de abertura do hospital inteiro está mais distante. Itamar calcula a necessidade de mais R$ 1,6 milhão mensais para cobrir todos os custos – o município não dispõe do dinheiro, pois já mantém sozinho o Pronto-Atendimento, cujos gastos mensais chegam a R$ 1,1 milhão.

As negociações com o Estado continuam, mas não há nada concreto. Por meio da assessoria de imprensa, a Secretaria Estadual de Saúde informou que "a obra está em andamento e a SES deverá repassar recursos financeiros para colaborar na continuidade e conclusão da mesma". Porém, não forneceu como será esta parceria.

Para ter uma contrapartida financeira da União seria necessário duplicar a quantidade de leitos. Neste caso, o município arcaria com 50% dos gastos, e a outra metade seria dividida entre o Estado e o Governo Federal. Por enquanto, esta possibilidade está descartada pela prefeitura.

– Nossa meta inicial é abrir a maternidade. Há muitos casos de mães ganhando na estrada, em partos arriscados. Em março deste ano, fizemos dois partos de risco aqui no Pronto-Atendimento. Precisamos acabar com esta dificuldade – afirma Itamar.

"Segurar o filho" até o hospital mais próximo

Verônica teve o filho em Porto Alegre

Casos relatados pelo secretário continuam sendo comuns em Guaíba. No mês passado, a dona de casa Verônica Silva Vaz, 24 anos, viveu a experiência de "segurar o filho" até o hospital mais próximo. Moradora de Guaíba, e usuária do Sus, ela passou os nove meses de gravidez se preparando psicologicamente para a hora do parto. Sabia que enfrentaria mais de 30km até uma maternidade, em Porto Alegre. Foram duas idas de emergência até a Capital, a primeira delas numa ambulância fornecida pela prefeitura e que a deixou na esquina mais próxima do Hospital Fêmina. Acabou retornando para casa por falta de dilatação.

Na segunda, ficou sem ambulância e precisou pedir a ajuda de um familiar para chegar a tempo. João Victor nasceu logo depois de a mãe dar entrada na instituição.

– Morri de medo de ter o meu bebê dentro do carro ou de encontrar a ponte erguida antes de chegarmos em Porto Alegre. Nenhuma mãe merece passar por esta situação. Minha sorte é que deu tudo certo, e o João Victor nasceu logo depois de entrarmos no hospital – recorda.

Referência para a região

Numa região com cerca de 400 mil habitantes, onde o déficit de leitos chega a 470, o hospital de Guaíba seria a salvação da lavoura para 19 municípios das regiões Carbonífera e da Costa Doce. É com base nestes dados que o secretário municipal da Saúde acredita numa saída breve.

– Já temos quase todos os equipamentos instalados nas salas do prédio. Queremos fazer deste hospital uma referência na região e no Estado. Chega de ficar no papel – afirma Itamar.

Somente em equipamentos a prefeitura gastou mais de R$ 1 milhão. Na futura maternidade, os quartos semi-privativos terão apenas dois pacientes e as camas hospitalares se somam às poltronas reclináveis, pensadas para as futuras gestantes. Por enquanto, os berços seguirão guardados numa única sala, à espera dos pequenos guaibenses.

O que o hospital deverá oferecer

Primeira etapa – 1º semestre de 2018
– Com a maternidade aberta, poderão ser realizados 200 partos mensais.

Segunda etapa – Final do 2º semestre de 2018
– Com o restante do hospital em funcionamento, poderão ser feitas 200 internações clínicas e cirúrgicas mensais.
– Cirurgias de pequeno porte, como retirada de apêndice e de pedra na vesícula.
– Internações clínicas, como de pacientes com pneumonia.



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