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Viamão 

Moradores contam como é morar ao lado de um parque eólico

Moradores dos arredores do primeiro parque eólico da Região Metropolitana de Porto Alegre contam a experiência de viver ao lado dos aerogeradores

23/08/2017 - 07h00min

Atualizada em: 23/08/2017 - 07h00min


Aline Custódio
Aline Custódio
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Célia divide a cerca com o parque

Acostumados com a paisagem repleta de pássaros silvestres, bois e cavalos nas pastagens, moradores da região da Lagoa do Casamento, zona rural de Viamão, passaram a conviver com vizinhos gigantes que trabalham dia e noite. São 25 aerogeradores distribuídos em três hectares e que, juntos, produzirão energia suficiente para abastecer 140 mil casas, ou cerca de 320 mil pessoas, mais do que toda a cidade de Viamão – que tem 240 mil habitantes. O Complexo Eólico Pontal Enerplan é o primeiro implantado na Região Metropolitana de Porto Alegre.

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Paisagem mudou na região

Carinhosamente chamadas de cata-ventos por aqueles que acompanharam a movimentação nas estradas empoeiradas do interior da cidade, ao longo dos últimos anos, as torres de 145m de altura têm admiradores no entorno. Moradora da região há 18 anos, a comerciante Luíza Pereira Barbosa, 52 anos, proprietária de um pequeno comércio nas margens da Estrada da Pimenta, por onde passaram as peças, fotografou todo o processo com a intenção de "guardar para a história". Desde o começo dos trabalhos no parque eólico, Luíza tem novo programa nas noites sem nuvens. Distante 9km da área, costuma seguir até o ponto mais alto do terreno da família para observar ao longe o que define como "olhos vermelhos". São as luzes sinalizadoras no alto de cada máquina que as identificam no escuro.

– Gosto de ver as torres daqui. As luzinhas ficam brilhando. É muito lindo. Espero que, com o tempo, este lugar se torne um ponto turístico, pois ajudaria o comércio local – comenta.

Luíza gosta de ver as luzes à noite

O Complexo Eólico Pontal Enerplan é dividido em três parques, com capacidade total de produção de 204,5 mil MWh por ano, e tem a estimativa de evitar a emissão de até 108.380 toneladas/ano de gás carbônico. A energia produzida no complexo será oferecida a 24 distribuidoras no país, sob coordenação do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). A implantação dos parques consumiu R$ 330 milhões em investimentos e contou com financiamento do BNDES e do Badesul. A expectativa da Enerplan é chegar a cinco parques, atingindo um investimento total de R$ 600 milhões. As linhas de transmissão possuem 44km construídos pela Enerplan, já prevendo a futura expansão do complexo.

Para a vizinha que divide a cerca com o parque, Célia Abreu Lopes, 52 anos, proprietária do camping Lagoa do Casamento, a expansão será importante para a preservação do meio ambiente:

– Não faz mal a ninguém. Pelo contrário, só ajuda a preservar. Gosto de levantar pela manhã, abrir a janela e olhar para eles funcionando. Não preciso mais da biruta para saber de qual lado está o vento. Eles me indicam.

Durante a instalação do parque, Célia chegou a alugar quartos do camping para biólogos, geólogos e outros funcionários da empresa responsável pelos aerogeradores. Célia vive desde a infância nas margens da Lagoa e acostumou-se ao Nordestão se arrastando por até 15 dias e à ventania arrancando árvores e telhados vizinhos. Não foi surpresa para ela, uma defensora da natureza, a instalação do parque numa área onde o vento reina o ano inteiro. Pelo contrário, comemorou:

– Sem luz, não podemos viver. Esta é a melhor forma de gerar energia e não –prejudicar o mundo.

Mas ao contrário dela, o marido, José Carlos de Abreu Fraga, 46 anos, reclama do som produzido pelos aerogeradores. Principalmente, nos dias mais silenciosos.

– Toda a vez que uma das pás passa pela torre, vem um som como se algo estivesse sendo cortado. E isso é durante as 24 horas. Ainda não acostumei _ revela José Carlos.

– Que nada! Depois da chuva, quando tudo fica calminho, é igual ao de uma onda quebrando no mar. Melhor som para relaxar. Me sinto mais próxima do oceano – rebate Célia, encerrando o assunto.



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