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Fé na comunidade

A história do frei que está há 33 anos no coração da Vila Conceição

Luiz Carlos Susin atua na comunidade da Vila Maria da Conceição, na Capital, há 33 anos, com uma mensagem de tolerância e aconselhamento

21/10/2017 - 07h00min

Atualizada em: 21/10/2017 - 07h00min


Jeniffer Gularte
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Rubens Monteiro / Divulgação
Presente e popular na comunidade do Bairro Partenon, em Porto Alegre

Quando foi designado pelas paróquias do bairro Partenon para trabalhar na Vila Maria da Conceição, em 1984, o frei Luiz Carlos Susin, hoje com 68 anos, não imaginava que sua relação com aquela comunidade da periferia da Capital iria durar tanto. Nem que seria tão forte. 

Junto à Pastoral da Vila Maria da Conceição e à Pequena Casa da Criança, o frei atua há 33 anos com trabalho social e de sacerdote em uma comunidade que ele acolheu e foi acolhido. Professor de Teologia da PUC/RS, acredita que na Maria da Conceição ele põe na prática o que ensina na teoria. É popular entre os moradores, participa das festas, reza missa aos sábados, encabeça oficinas de cinema e se tornou um conselheiro de quem precisa. Ao longo dos últimas três décadas, só ficou longe da vila nos períodos em que viajou para dar aulas na Universidade Franciscana de Roma, na Itália:

— E, mesmo fora, eu sempre me correspondi com eles, é uma ligação quase de família. Esse é meu lugar de chão popular. Temos aqui um contato humano, com pessoas que sentem, pensam e sonham.  

Rubens Monteiro / Divulgação
Ao dialogar com todas as religiões, frei atrai atenção dos moradores

O frei é conhecido por incentivar o diálogo entre as mais diferentes religiões, entre elas os ritos afro-brasileiros. Não à toa, caiu na simpatia dos moradores. Para a integrante da Pastoral da Criança na Vila Maria da Conceição há 36 anos e líder comunitária Sueli Farias da Silva, ele não é um frei comum:

— Eu sou um exemplo, sou umbandista. A maioria do povo da vila é de religiões afros e, para ele, tanto faz. Onde a gente está, ele está no meio e está feliz. 

O frei é tão popular que já desfilou três anos na Acadêmicos do Samba Puro, nos Carnavais de 2013, 2014 e 2015. Sempre no carro alegórico. 

— É visível a sensação de família que existe dentro da escola. O Carnaval é mistura de humor, brincadeira, samba, sem ser algo que negue o religioso— considera. 

Rubens Monteiro / Divulgação
Frei durante o Carnaval

Luiz Carlos explica que é importante trabalhar com questões de autoestima e de empoderamento dentro de uma comunidade carente e que sofre com a violência. Ao longo do tempo, tornou-se uma referência entre os moradores. E se orgulha toda vez que se referem a ele como "nosso padre".  

— Algumas coisas que são pequenos gestos para mim, eles veem como grandes. Se eu não fizesse isso, seria apenas um teórico. Preciso ter essa vivência para estar com os pés no chão — conclui o frei. 

"Esse é meu povo"
As três décadas de presença na comunidade também transformaram o frei. Ele conta que se tornou mais tolerante, mais paciente e que aprendeu a lidar com a própria frustração de não poder fazer mais. 

— A presença na vila me tornou um pouco da vila. Recebo muito carinho. A minha postura é de companheiro, não de autoridade. Tenho uma forma discreta de liderança. 

Rubens Monteiro / Divulgação

Para os moradores, porém, ele é uma referência, de tal forma que a líder comunitária Sueli o considera um morador da comunidade:

— Ele almoça com a gente, senta junto, se tem um sambinha, ele fica. E, quando vai em algum lugar, ele nos apresenta e diz: "Esse é meu povo".

Mesmo depois de tanto tempo de convivência, Sueli admite que ainda se surpreende com a relação que o frei estabeleceu com a vila:

— Pelo estudo que ele tem, pelos títulos que ele tem, ele participa de tudo com a gente, se a gente está dançando de pé descalço, ele tira o calçado também. E ele sempre pediu que não o tirassem da Maria da Conceição.




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