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Papo reto

Manoel Soares: "Eu não quero ser igual ao playboy, quero ter a mesma oportunidade de acesso que ele"

Quando vejo que em escola particular não tem crianças negras, que nas direções de empresas não tem negros, fico mordido

04/11/2017 - 07h00min

Atualizada em: 04/11/2017 - 07h00min


Lauro Alves / Agencia RBS

Neste mês de novembro, vamos falar um pouco do povo negro, já que o dia 20 é referência da consciência negra. Para ter consciência, é necessário conhecimento, e conhecimento é sair da ignorância, mas isso dói. Quando deixamos de ser ignorantes, nos damos conta de que um jovem negro no Brasil vive o mesmo que um escravo viveu há 300 anos. 

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Ler estatísticas e pesquisas é outra fonte de desespero, porque crianças negras são menos adotadas, as loiras são as mais desejadas. Ter uma grana para pegar um avião na primeira classe te faz ver que  você é o único negro ali, e te perguntam sempre se você é jogador de algum time. Ser negro sem acesso à educação nos faz sofrer menos com o racismo porque, às vezes, achamos que ele nem existe, entendemos que é normal a pessoa clara ter dinheiro e estudo, enquanto a negra não tem. 

Não somos iguais

Muitos vão ler esse texto e dizer: "que coisa chata esse papo de novo, poxa, Manoel, vira o disco!". Eu confesso que tento virar, mas quando vejo que em escola particular não tem crianças negras, que nas direções de empresas não tem negros, fico mordido. Das duas uma: ou os negros são uns vagabundos que não querem nada com nada, ou existe um apartheid velado. Ficar dizendo que somos todos iguais é repetir uma mentira. Não somos iguais e temos que lutar não para sermos, mas para sermos respeitados mesmo sendo diferentes. 

Eu não quero ser igual ao playboy, quero ter a mesma oportunidade de acesso que ele. Para isso, preciso sair da minha ignorância, mas quando me dou conta de como dói não ser ignorante, tenho até medo de abrir um livro.



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