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Susto na tempestade

"Eu vou pular! Eu vou pular!", gritou operário preso em andaime durante temporal

Dois funcionários trabalhavam na reforma de um prédio no centro de Porto Alegre quando teve início a forte tormenta que fez o equipamento balançar e ameaçar a vida de ambos

12/02/2018 - 10h56min


Larissa Roso
Larissa Roso
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Gustavo Foster / Agência RBS
Alex (E) e Cristian (D) com o sargento Marcelo, que fez o resgate, em encontro promovido por GaúchaZH no sábado (10)

O temporal ainda parecia distante no horizonte quando os operários da construção civil Alex Sandro da Silva, 25 anos, e Cristian Zander Dutra, 24, rebocavam a parede do sexto andar no prédio do Ministério Público Federal (MPF), na Avenida Júlio de Castilhos, centro de Porto Alegre, na tarde da última sexta-feira (9). Por segurança, os colegas decidiram interromper o serviço, erguer o jaú (andaime) para guardá-lo no topo do edifício e fazer a pausa do café. Na altura do nono andar, teve início o pesadelo, gravado em um vídeo que viralizou nas redes sociais

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Passava das 16h quando uma forte rajada de vento fez com que o equipamento girasse duas vezes, trançando os cabos que o mantinham suspenso e impossibilitando que os funcionários o movessem para cima ou para baixo. 

Facebook / Reprodução

— Aí fechou o tempo. Começou a piorar, piorar. Começamos a voar. Eu fiz muita força — recorda Alex, morador de São Leopoldo, que sofreu escoriações leves e reclamava de dores nos braços na tarde deste sábado (10), durante a entrevista a GaúchaZH.

A tempestade avançou rápido e com violência, e pelos minutos seguintes os dois trabalhadores fizeram o possível para tentar estabilizar o andaime e assegurar sua sobrevivência. Funcionários da Construtec, ambos usavam acessórios de segurança — cinto, capacete, óculos e luvas —, alguns arrancados pelo vento. Eles se seguravam em uma corda e em um duto utilizado para descarregar a sujeira da obra até o chão. Alex pedia calma ao colega, paralisado de horror. 

— Cristian, olha para mim, Cristian! Calma, pelo amor de Deus! Segura na corda! Eu não vou largar. Pode deixar que eu não vou largar, vou fazer toda a força!

— Pelo amor de Deus, cara, não solta! — implorava Cristian.  

Alex rezava, rogando para que pudesse ver o filho, Rennan Augusto, de um ano e cinco meses, pelo menos mais uma vez. "Nós dois apavorados não vai dar certo. Eu não vou conseguir raciocinar", pensou. Cristian pedia perdão a Deus e proteção a sua família e a seus amigos.

— Senti que tinha acabado o mundo para mim. Achei que tinha chegado minha hora. Achei que ia morrer — lembrou Cristian, de Canoas, que teve arranhões e sente dores no peito. 

Nos prédios à volta e lá embaixo, pessoas acompanhavam o drama dos operários — nos momentos de maior tensão, quando o andaime balançava para longe e parecia que a dupla não resistiria, os espectadores chegavam a fechar os olhos. No auge do desespero, Cristian cogitou se atirar: 

— Eu vou pular! Eu vou pular!

Alex suplicou: 

— Não, cara, por favor, fica aí! Não me deixa sozinho, senão eu vou ficar mal. Fica comigo! 

Após a tormenta, Alex e Cristian foram resgatados, por rapel, pelo sargento Marcelo Rodrigues da Luz, integrante da Companhia Especial de Busca e Salvamento dos Bombeiros. Sentiam-se exauridos depois de tanto esforço. Ao chegar em casa, perto das 19h, Alex abraçou o filho e contou à esposa, Elisiana Dias, o sufoco que enfrentara. Teve conhecimento da gravação com milhares de compartilhamentos no Facebook apenas na manhã deste sábado (10). Levou um susto: "Não pode ser eu, não pode ser verdade", assistia, incrédulo. 

— Fico pensando que nós somos muito pequenos no mundo. É o que me passa pela cabeça. A natureza é imprevisível, a gente não é nada. Se é para acontecer, acontece — refletiu durante o depoimento a GaúchaZH.

Com anos de experiência em obras, os dois funcionários, que têm retorno previsto ao trabalho para a próxima quarta-feira, já haviam utilizado jaús em inúmeras ocasiões. Cristian agradece o apoio que tem recebido da empresa e pretende  solicitar à chefia um período afastado das tarefas no aparelho. Alex está disposto a encarar as alturas assim que for necessário:

— Se deixarem, eu subo.

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