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Mercado de trabalho

Tempo gasto na busca por emprego chega a quase um ano na Grande Porto Alegre

Mesmo com sinais de retomada da economia, obter colocação com carteira assinada na Região Metropolitana tem intervalo mais longo desde 2004

20/03/2018 - 07h24min

Atualizada em: 20/03/2018 - 13h32min


Leonardo Vieceli
Leonardo Vieceli
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Mesmo com sinais de retomada na economia após a recessão, a volta ao mercado de trabalho com carteira assinada exige paciência. Em janeiro, o tempo médio gasto na procura por emprego atingiu 47 semanas na Grande Porto Alegre. Ou seja, 10,44 meses – quase um ano. É o intervalo mais longo desde fevereiro de 2004. Na época, o indicador também havia marcado 47 semanas, mostra a Pesquisa de Emprego e Desemprego na Região Metropolitana (PED-RMPA).

O dado afeta tanto os gaúchos que, ao fim de um período, encontram ocupações formais quanto os  que desistem de procurá-las em razão da dificuldade. Trabalhadores que, enquanto buscam recolocação no mercado, apostam em atividades informais, conhecidas popularmente como bicos, também são considerados como desempregados pelo levantamento.

– A alta no tempo médio é um dos reflexos da crise que vivemos no país nos últimos anos. Muitos dos empregos que estão sendo gerados são de qualidade inferior, com salários menores. Tem gente que prefere esperar mais e acredita que encontrará oportunidades melhores lá na frente – avalia a economista Virginia Donoso, do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), um dos responsáveis pela pesquisa.

O período médio de busca por vagas na Grande Porto Alegre foi maior entre pessoas de 40 a 59 anos (50 semanas). O levantamento ainda detalhou que os homens procuraram oportunidades por mais tempo (47 semanas) do que as mulheres (46 semanas). 

José Carlos dos Santos, 50 anos, é um dos integrantes do exército de desempregados da Região Metropolitana, estimado em 227 mil pessoas em janeiro. Com experiência em atividades como pintura e reformas de residências, o morador da Capital procura recolocação no mercado há três anos.

– Não tinha vivido uma crise parecida – lamenta.

Na manhã ensolarada da última quarta-feira, estava sentado sob a sombra de uma árvore próxima ao prédio do Sistema Nacional de Emprego (Sine), no centro de Porto Alegre, onde buscava informações sobre processos de seleção. Por conta da escassez de vagas no mercado, revela que não tem mais preferência por área de atuação. Desde 2015, enquanto procura oportunidades em diversos ramos, realiza atividades informais, como consertos hidráulicos.

– Busco uma vaga com carteira assinada por conta da estabilidade, da segurança de que terei um salário fixo ao final do mês. Já participei de vários processos de seleção, mas não apareceu nada atrativo. Até agora, não valeu a pena trocar os bicos pelos salários que me ofereceram – explica Santos.

Tadeu Vilani / Agencia RBS
Em frente ao prédio do Sine, no centro de Porto Alegre, Santos conta que está há três anos tentando recolocação no mercado

Também moradora da Capital, Luci Rozane de Oliveira Pires, 57 anos, é outra que faz parte do grupo em busca de oportunidades. Sem carteira assinada há dois anos, considera que a sua idade é um obstáculo extra na procura por trabalho. 

– Estou desesperada atrás de emprego. Aceito o que aparecer – declara Luci, que nos últimos meses realizou tarefas domésticas de maneira informal.

Pelo fato de terem diminuído a produção durante a crise, empresas ainda conseguem operar sem fazer novas contratações, menciona Virginia, do Dieese:

– Há alguns sinais de retomada. Mas isso não quer dizer que os empregadores sairão contratando logo. Ainda existe capacidade ociosa nas empresas.


Importância da qualificação

Para quem enfrenta a penumbra do mercado, especialistas listam sugestões. Diretor-presidente da Fundação Gaúcha do Trabalho e Ação Social (FGTAS), Gilberto Francisco Baldasso afirma que há possibilidades de qualificação que não pesam no bolso do trabalhador:

– Existem cursos gratuitos que podem ser úteis. Há opções no Senac-RS, por exemplo. Não adianta esperar só pela qualificação oferecida pelas empresas.

Baldasso ainda recomenda cautela antes de o trabalhador especializado em certa área trocar de campo de atuação. 

– É preciso estar preparado e buscar aperfeiçoamento. Não dá para se aventurar – completa.

Virginia Donoso, economista do Dieese, projeta que, nos próximos meses, o tempo médio de procura por trabalho continuará elevado na Grande Porto Alegre. Para a especialista, a tendência é de que ocorram "pequenos sinais" de melhora no quadro do desemprego no curto prazo.

– Até o momento, existem apenas contratações marginais. Dentro das empresas, ainda há gordura para queimar antes da confirmação de novas contratações – comenta Virginia.

Ao analisar o cenário nacional para o mercado de trabalho, o pesquisador Fernando de Holanda Barbosa Filho, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas, adota tom mais otimista. A expectativa de nova alta no Produto Interno Bruto (PIB) alimenta previsões de criação de empregos mais consistente em 2018, diz.

– A fotografia do mercado de trabalho é ruim no momento, mas o filme tende a ser bom. 

Depois de recessão muito profunda, há uma recuperação cíclica na economia. Esse movimento deverá gerar mais empregos neste ano – menciona.

Apesar da perspectiva positiva, Barbosa Filho pondera que incertezas políticas poderão diminuir o ritmo da retomada econômica nos próximos meses e, consequentemente, respingar no número de contratações.

– É ano eleitoral. Dependendo do que acontecer, a recuperação do emprego poderá ficar aquém da esperada – ressalta.


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