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FUTURO DO TRABALHO

Da Filosofia ao comércio, a tecnologia abre caminho para a reinvenção profissional

Estudante criou canal no YouTube para ensinar a disciplina e empresário investiu em loja virtual e já emprega 10 pessoas

27/04/2018 - 15h06min

Atualizada em: 27/04/2018 - 15h41min


Erik Farina
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Leandro Rodrigues
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Alysson Augusto, 24 anos, aproveitou a oportunidade do projeto PUC 360º – projeto da PUCRS que oferece certificações complementares ao currículo ligadas à tecnologia, à inovação e ao empreendedorismo. Estudante do penúltimo semestre do curso de Filosofia, ingressou na certificação de Formação em YouTube – que ensina os alunos a produzirem conteúdo para vídeo, criar um canal e analisar casos de sucesso de influenciadores digitais. 

– Até poucos anos atrás, o mercado para filósofos se restringia à atividade como pesquisador acadêmico ou professor, o que inclusive passou a ser ameaçado com a mudanças na base curricular (a Base Nacional Curricular flexibilizou o ensinamento de Filosofia no Ensino Médio). Com a tecnologia, esse mercado se expande: é possível fazer vídeos e desenvolver aplicativos – exemplifica.

Augusto já tem um canal no YouTube, no qual procura traduzir e simplificar assuntos como direitos humanos, liberdade de expressão e princípios da economia. Com as aulas eletivas, aprimorou a técnica de seus vídeos, aprendeu a medir os picos de audiência e passou a usar redes sociais como o Instagram para divulgá-los. A meta do futuro filósofo youtuber após se formar é mesclar a atividade acadêmica com a produção desse tipo de conteúdo – ganhando dinheiro com financiamento coletivo ou publicidade.

– Os vídeos possibilitam falar diretamente para um público que curte filosofia mas não teve oportunidade de estudá-la mais a fundo – projeta ele, que, em um prazo mais longo, planeja desenvolver um aplicativo de audiolivros para os clássicos da filosofia.  

Novas oportunidades em negócios antigos

A tecnologia derruba fronteiras para a atividade que, desde que a primeira moeda foi cunhada, é uma das maiores empregadoras do planeta: a de vendedor. O comércio eletrônico (e-commerce) tem se tornado um importante vetor de contratações no Brasil. Em 2017, havia mais de 70 mil lojas virtuais, e o setor gerava quase 720 mil empregos. No Rio Grande do Sul, conforme a Loja Integrada, uma das plataformas mais populares para criação de novos e-commerces, foram criados 6,5 mil novos negócios no ano passado, salto de 13% na comparação com 2016.

É a lógica de que as abelhas voam para onde está o néctar: em 2017, as vendas via comércio eletrônico cresceram seis vezes mais (12%, de acordo com a Associação Brasileira de Comércio Eletrônico) do que no comércio físico (2%, diz o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). 

Atento a essa tendência, em 2016, ao planejar uma loja de itens de decoração, o empresário Paulo de Morais, 53 anos, preferiu o formato digital. Ele já mantinha um comércio de atacado e pretendia iniciar as vendas diretamente para o consumidor. 

– É um modelo de loja mais barato, sem o custo do ponto, e mais ágil, pois recebe os pedidos automaticamente e já os encaminha para a entrega – explica Morais.

Sua loja virtual emprega 10 funcionários e pretende vender 20% a mais em 2018. Em apenas dois anos, a Craft Decor já despachou suas fitas decorativas, cortinas em fio e saquinhos organizadores para todos os Estados, a clientes que a encontraram via redes sociais e mecanismos de busca da internet.

– O comércio virtual elimina fronteiras territoriais para a venda, então oferece mais chance de crescimento – raciocina.

O caso da Craft Decor exemplifica como inovações tecnológicas estão mudando o mercado de trabalho. Morais não chegou a sair de sua área de atuação, mas se adaptou. Toda a sua experiência em vendas não foi perdida, e agora se torna mais importante do que nunca para mantê-lo no jogo da inovação. É isso que a economista italiana Glenda Quintini, da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), identificou em seu recém-lançado estudo sobre o impacto da inteligência artificial no trabalho: a transformação.

– Nossa projeção é de que 32% dos empregos vão mudar significativamente em duas décadas devido ao avanço da automação. Estimamos que 14% dos postos de trabalho correm risco de desaparecer – diz ela.

Toda carreira pode ter um app 

Em meio à transformação, o corretor de seguros Miguel Rafael Cardoso, 35 anos, foi buscar inovação para uma atividade bastante tradicional. Ele acabou apresentado a uma plataforma focada no desenvolvimento de soluções para seu trabalho. A Clic Corretores está em desenvolvimento no Centro de Empreendimentos em Informática da UFRGS, em Porto Alegre, e Cardoso não é apenas usuário. Ele ajuda com a prática no aperfeiçoamento da iniciativa.

– Adquiri uma franquia e passei um ano atuando da forma tradicional como corretor, com base em vínculos de amizade e por meio de indicações. Com a Clic, tive acesso a uma ferramenta de gestão, na qual acompanho todos os negócios aos quais estou dedicado. E, agora, estamos trabalhando juntos para utilizar outras formas para captar clientes novos – diz Cardoso.

Na outra ponta do formato de negócio, o fundador da Clic Corretores, Luís Felipe Evers, 32 anos, identificou um padrão de crescimento entre os profissionais da área: indicações e visitas a potenciais clientes. Com a plataforma, ele aposta em um novo caminho.

– Hoje, há formas de venda muito mais atuais, como enviar conteúdos que o cliente consome e, com isso, oferecer ao corretor a possibilidade de customizar a oferta de produtos. É possível gerar campanhas no Facebook e mapear quais clientes se interessaram, por exemplo. As principais empresas do mundo fazem isso – afirma Evers.

Iniciativas com essa colocam na rota de profissionais de todos os ramos, a partir de agora, a necessidade de, em um futuro próximo, lidar com ferramentas digitais e desenvolver aplicativos. Especialistas apontam esse vibrante mercado de startups e aplicativos como um dos mais promissores. 

E há de se convir que, antes que um aplicativo passe a rodar, são equipes que fazem pesquisas de mercado, analisam parâmetros de aplicação e matutam sobre funcionalidades. No darwinismo tecnológico, o ser humano ainda é capaz de avaliar oportunidades como ninguém. 

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