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A cor da discórdia: veja o que pensam taxistas sobre a troca do vermelho pelo branco nos táxis da Capital 

Reportagem ouviu 50 taxistas na manhã de ontem na Estação Rodoviária e na Avenida Borges de Medeiros, dois dos mais movimentados pontos, e identificou uma tendência contrária à nova cor

09/05/2018 - 07h00min

Atualizada em: 09/05/2018 - 09h22min


Jeniffer Gularte
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Mateus Bruxel / Agencia RBS
Está nas mãos de Marchezan sancionar ou não a mudança que divide opiniões em Porto Alegre

A característica mais tradicional dos táxis da Capital pode deixar de existir. O vermelho ibérico — também conhecido como laranja — dos carros usados para o serviço em Porto Alegre dará lugar ao branco, caso o prefeito Nelson Marchezan sancione a mudança da cor aprovada pela Câmara de Vereadores no final de março. O projeto deve chegar na prefeitura até amanhã. A categoria, que segundo uma pesquisa do Sintáxi está dividida — 51% favoráveis ao laranja 49% à cor branca —, dá sinais de resistência à mudança. 

O Diário Gaúcho ouviu 50 taxistas na manhã de ontem na Estação Rodoviária e na Avenida Borges de Medeiros, próximo ao Largo Glênio Peres, dois dos mais movimentados pontos da Capital, e identificou uma tendência contrária à nova cor. Dos ouvidos pela reportagem, 42 apoiam a permanência do vermelho ibérico e apenas oito defendem o branco. 

Entre os argumentos para a continuidade da cor, o mais repetido é a identidade que o passageiro criou com essa característica. Outros pontos levantados se referem à segurança e ao possível avanço da ilegalidade. Os motoristas dizem que o roubo a carros da cor atual é menor e defendem que o branco aumentaria a brecha para carros clandestinos ganharem espaço no mercado.

— É difícil para o ladrão esconder um carro vermelho. Se ele for revender, terá que pintar. Muito desmanche ilegal nem aceita peças de táxis — lembra Luciano Gomes Gil, 45 anos. 

A taxista Jane Marcos, 58 anos, diz que, após ser roubado, seu carro foi localizado mais rapidamente por ser vermelho:

— É um retrocesso mudar. 

Mateus Bruxel / Agencia RBS
Jane acredita que mudança seria um retrocesso

Como quase todas as tentativas de mudança no serviço, o assunto gera muita polêmica na categoria. Enquanto a reportagem ouvia os motoristas na Estação Rodoviária, as discussões que brotavam entre eles evidenciavam o embate e as diferenças de ponto de vista também.  

Os favoráveis à cor branca ressaltam a chance de economia ao comprar ou trocar o veículo, já que, se a mudança for aceita, não será mais necessário pintar ou envelopar o veículo com o vermelho ibérico. O próprio Sintáxi, entidade que representa permissionário e auxiliares, recomenda que a cada dois anos o veículo seja trocado.

— Na hora de negociar o carro, vai valer a pena ele ser branco — lembra Paulo Roberto da Rosa, 68 anos.

— A pintura original é faz toda a diferença. Dura muito mais e o branco tem um aspecto de novo — compara Nei Oliveira, 59 anos. 

Dilema entre as entidades

A reportagem submeteu o resultado das enquete às duas entidades que representam a categoria na Capital. O presidente da Associação dos Permissionários Autônomos de Táxi Porto Alegre (Aspertaxi), Walter Luiz Rodrigues Barcellos, defende a troca da cor como uma necessidade real em um cenário onde a quantidade de corridas caiu 50% com a chegada dos carros por aplicativos de celular:

— Não tem porque comprar um carro e mandar colocar outra cor. Não estamos ganhando mais, então, temos que gastar menos, para sobrar mais dinheiro. Tem muito taxista trabalhando de dia para comer de noite. Quem é contra as mudança são os auxiliares, que não gastam com nada, não compram carro. É o permissionário que tem essa despesa.

Quanto ao problema de identificação, levantado por quem quer a permanência do vermelho ibérico, defende que o prefixo luminoso não confundirá o passageiro:

— Hoje, não existe mais essa coisa de atacar o táxi com o braço na rua, as pessoas vão no ponto fixo ou chamam por aplicativo. 

O diretor administrativo do Sintáxi, Adão Ferreira de Campos, é mais cauteloso. Acredita que, se realmente o prefeito sancionar a cor branca, a mudança pode ser usada de forma positiva, para qualificar mais o serviço e reconquistar o passageiro:

— A cor hoje não importa muito, achamos que não seria necessário mudá-la nesse momento, mas, se mudar, estamos orientando os motoristas a transformar essa situação em algo positivo.

Definição nos próximos dias

Mateus Bruxel / Agencia RBS
Prefeito aponta a cor tradicional como um diferencial histórico

A Câmara aprovou em 28 de março uma emenda que prevê a mudança da cor dos veículos para o branco ao projeto do Executivo que estabelece novas regras para o serviço. A proposta é dos vereadores Moisés Barboza (PSDB), Ricardo Gomes (PP) e Comandante Nádia (PMDB). A assessoria de imprensa da prefeitura informou que ainda não recebeu o projeto. A previsão é de que chegue até amanhã e, a partir de então, Marchezan terá 15 dias para vetar ou sancionar a nova cor. 

O prefeito já manifestou que a cor laranja é um diferencial histórico, uma marca do serviço na Capital. A assessoria de imprensa, porém, não adiantou sua decisão e disse que ela será baseada em uma avaliação jurídica do projeto. Se aprovado, os motoristas terão dois anos, a partir da publicação da lei, para se adequar. 

CONFIRA OS ARGUMENTOS 

Contra a mudança

/// Cor é uma referência para o passageiro.

/// Pode ser identificada de longe.

/// Em caso de roubo, tem menos saída no mercado ilegal. Pode facilitar o mercado clandestino.

/// É uma identidade de Porto Alegre, diferente de outras cidades.

A favor da mudança

/// Despesa menor na hora da compra, pois não precisa mudar de cor.

/// Valoriza o carro na hora da venda.

/// Pintura original tem mais durabilidade.

/// Identificação ficaria prejudicada, já que manteria prefixo luminoso.

FALA, TAXISTA!

Contra

— Essa é a identidade de um veículo que presta um serviço para Porto Alegre. É um padrão. Carros brancos podem dar margem para clandestinidade. Zeno Lopes, 61 anos, taxista há 23

— A cor é um patrimônio da cidade e todo mundo sabe que é essa a cor do táxi. É a referência do passageiro. Arthur Costa, 47 anos, taxista há cinco

A favor

Mateus Bruxel / Agencia RBS
Ao aprovar o branco, Dirceu pensa na valorização do carro na hora da venda

— Evita a despesa de colocar a cor na hora da compra. Essa cor desvaloriza o carro. Com o branco, vamos ganhar na hora da revenda. Dirceu Almeida, 64 anos, taxista há 42

— Será mais barato na hora de comprar e trocar o carro. É algo que vai facilitar para o taxista. Alexandre Batista, 47 anos, taxista há 20



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