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Dia das Mães: mãe e filho relatam experiência de serem colegas em sala de aula

Moradores do bairro Restinga, em Porto Alegre, eles deverão ser formar no Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS), no final deste ano

12/05/2018 - 07h00min

Atualizada em: 13/05/2018 - 12h23min


Aline Custódio
Aline Custódio
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Carlos Macedo / Agencia RBS
Peterson e Lisandra escolheram o mesmo curso

Quando a dona de casa Lisandra Soares da Silva, 42 anos, propôs ao filho Peterson William Silva de Oliveira, 20 anos, que voltasse a estudar onde moram, no bairro Restinga, em Porto Alegre, o jovem relutou com o convite. Na época com 17 anos, Peterson repetia o primeiro ano do Ensino Médio numa instituição do centro da cidade e queria abandonar a escola. Preocupada, a mãe pesquisou oportunidades que despertassem a atenção do filho e acabou encontrando o técnico em lazer, ofertado no campus Restinga do Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS). Lisandra não imaginava que despertaria nela própria a vontade de estudar, mesmo distante dos livros há mais de 20 anos. 

— Perguntei ao meu filho se ficaria incomodado com a minha presença na instituição. Ele negou e ainda sugeriu fazermos o mesmo curso para economizarmos no material didático. Fomos aprovados na seleção e nossas vidas tomaram um novo caminho — relata Lisandra. 

O jovem credita à mãe o retorno dele aos estudos:

— Fiquei dois anos sem frequentar o colégio, só queria jogar bola e ouvir música. A mãe me resgatou.

Carlos Macedo / Agencia RBS
Os dois costumam estudar juntos

Lisandra teve o primeiro dos três filhos (os outros dois têm cinco e 25 anos) aos 17 anos e perdeu a conta das vezes em que tentou voltar à sala de aula depois de ser mãe. Fez, inclusive, o ensino à distância. Não passou dos primeiros meses de curso em nenhuma das tentativas, por isso, se impressiona de ainda não ter desistido. A formatura deve ocorrer no início de 2019.

Carlos Macedo / Agencia RBS
Biblioteca é o lugar favorito de mãe e filho

— Tive muita dificuldade de estudar com os filhos em casa. Sozinha sempre foi pior. O apoio do Peterson foi fundamental para eu ter chegado até aqui. Ele está sempre me incentivando — emociona-se Lisandra.

Saia-justa

Para o filho, o significado de ser colega de aula da própria mãe só surgiu quando os primeiros colegas perguntaram se ele não ficava incomodado com a presença de Lisandra na sala. 

— Só caiu a ficha porque estranharam eu a chamando de mãe na aula. Somos colegas, mas sigo sendo o filho dela e não sei chamá-la pelo nome: é mãe! – afirma Peterson. 

É Lisandra quem ri das situações que já ocorreram durante as aulas. No primeiro ano, confessa, era comum comentar com os professores e com os outros estudantes momentos curiosos da infância do filho, deixando-o encabulado.

_ Cometi cada gafe, mas ele sempre levou na boa. Só o tempo me fez perceber que aquele ambiente não era a nossa casa e eu precisava respeitar o espaço dele. Hoje, temos grupos diferentes dentro da sala de aula, mas seguimos juntos estudando e fazendo os trabalhos escolares _ comenta a mãe. 

As únicas vezes em que se afastam são nas divergências de pensamentos. Se isso ocorre, eles preferem mudar de grupo de estudos para dar "uma arejada". Nada que algumas horas depois já esteja esquecido. Neste semestre, Lisandra pensou em desistir do curso por temer o trabalho final. Peterson tem estimulado a mãe a seguir em frente. 

Carlos Macedo / Agencia RBS
Peterson agradece à mãe por levá-lo para o IFRS

"Isso não tem preço!"

O "filho da Lisandra", como é conhecido pelos colegas no IFRS, garante sentir orgulho do apelido.
— Em aula, passamos por muita coisa juntos — lembra Peterson.
— Um turbilhão de emoções — completa Lisandra.
— Ter minha mãe como minha colega é o ápice da nossa relação! — destaca o jovem. 

E a formatura? Os dois se olham, e é Lisandra quem resume a expectativa:
— O normal seria eu estar lá prestigiando o momento dele. Mas será diferente porque mãe e filho estarão prestigiando um ao outro. Isso não tem preço!

Carlos Macedo / Agencia RBS
Lisandra agradece ao filho pelo apoio

O afeto é o mais importante

Bruna Porciúncula
bruna.porciuncula@zerohora.com.br

Dizem por aí que os filhos são para o mundo. As mães sabem, mas nem por isso o caminho que seus rebentos vão seguir tem de ser, necessariamente, distante dos olhos maternos. Há famílias em que esses laços se firmam de tal forma que a trajetória de mães e filhos se confunde, em um estilo de vida compartilhado, do gosto por um esporte à dedicação a uma arte, e também profissionalmente. 

Quando isso acontece em harmonia, toda a família ganha, daí a importância de valorizar essa relação com muita empatia pelo outro. A psicopedagoga especialista em família Sandra Guimarães alerta que, para que essa parceria perdure, é importante que mães e filhos se afastem da tendência de exercer o controle, de julgar ou de se isentar de responsabilidades.

– Se a mãe (ou filho) criticar, julgar e condenar de qualquer modo, erguerá uma barreira e, por mais que você deseje esquecer, e sem se dar conta, aquilo que rejeita ficará em sua consciência como base para conflitos futuros, que crescerão e, por fim, importarão mais do que o afeto. 

Sandra também afirma que essas parcerias devem se estabelecer de maneira natural e no tempo de cada indivíduo, sob o risco de, se automatizada, causar dependência de um em relação ao outro.

— Quando experimentamos aspectos dos quais acreditamos somente para a aprovação do outro, corremos o risco de reprimir valiosas características que possuímos e nos sentenciamos a levar a vida como a sombra do outro — pondera.



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