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Viamão

Para inibir violência, comunidade coloca guaritas em entradas de loteamento 

Moradores de loteamento de Viamão instalaram guaritas nas três ruas que dão acesso ao local, monitorando veículos

05/06/2018 - 09h54min

Atualizada em: 05/06/2018 - 09h56min


Jeniffer Gularte
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Tadeu Vilani / Agencia RBS
Desde 1º de maio, quando guaritas foram implantadas, nenhum assalto foi registrado

Cansados da criminalidade na porta de casa e da falta de segurança para fazer atividades banais, como cortar grama e lavar o carro, um grupo de moradores de Viamão decidiu controlar o fluxo de veículos do loteamento onde vive. Por conta própria, colocou guaritas e seguranças nas três ruas que dão acesso ao Residencial Três Figueiras, no bairro Santa Isabel, em Viamão: na Avenida Liberdade e nas ruas Palermo e Fiorentina. 

Cada uma das guaritas possui dois seguranças que fiscalizam o fluxo e anotam a placa dos carros. O investimento foi rateado entre os vizinhos. Foram R$ 5 mil gastos com a compra de guaritas e cones, além do gasto mensal da segurança privada. Ao todo, 150 famílias fazem parte da parceria – o que, segundo os moradores, representa mais da metade dos terrenos ocupados. 

Anna Fernandes / Arte ZH

A rotina de assaltos que inibia os moradores de andarem na rua culminou com um latrocínio de um dos vizinhos, na noite do dia 31 de março. O agente de segurança do Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região Wilson Pereira Moreira foi morto quando chegava em casa de carro.  Além disso, os moradores contam que a extensão da Avenida Liberdade, que faz conexão com Rua Palermo, apelidada por eles de "Rua do Lixão", virou local de crimes e desovas de corpos. A partir daí, os vizinhos se uniram para buscar formas de controlar o fluxo de veículos do local. 

A permissão para colocação das guaritas foi dada pelo prefeito André Pacheco em reunião no gabinete dele, no dia 30 de abril. De acordo com os moradores, o prefeito deu a autorização verbal, mas não quis assinar documento oficializando.  

Tadeu Vilani / Agencia RBS
Guarita no Residencial Três Figueiras

O comandante da Brigada Militar de Viamão, tenente-coronal José Carlos Pacheco Ferreira, admite que a região é vulnerável a ações de bandidos, mas frisa que não é a mais violenta da cidade:

– Viamão tem uma extensão territorial muito grande e a BM faz o policiamento na região na medida do possível. Em tempos de crise, tudo que vier para colaborar, não tem problema nenhum. Não vamos intimidar esse tipo de ação, se é para melhorar a segurança deles e sem impedir ninguém de circular nas ruas.

Tadeu Vilani / Agencia RBS
Segurança anota placa dos carros, mas não impede circulação

Prefeito permitiu 

Procurado pela reportagem, o prefeito André Pacheco admitiu que autorizou a colocação das guaritas. Segundo ele, por ser um loteamento, a área não pode ser fechada. O poder público, assim como a comunidade, precisa ter o direito de ir e vir mantido.

– Porém, a colocação de guaritas para cuidar da circulação de pessoas, é uma iniciativa bem-vinda. Achamos importante quando a comunidade se une para uma iniciativa que visa o bem comum. Somos favoráveis ao que for feito dentro da lei – afirma. 

Ele salienta que não é possível a implantação de cancelas porque o residencial não é um condomínio constituído, mas um loteamento.

Antes de procurarem o prefeito, os moradores do Três Figueiras protocolaram a sugestão de um projeto de lei na Câmara dos Vereadores que prevê o controle de acesso de veículos. O Plano Diretor do município prevê que ruas sem saída, sem impacto na mobilidade e que tenham graves problemas de segurança possam ter controle de acesso. O projeto está sendo avaliado pela Comissão de Transporte e Trânsito e aguarda parecer para seguir para votação no plenário.

30 dias sem ocorrências

Um mês após a instalação das três guaritas, os moradores comemoram os primeiros 30 dias sem ocorrências em nenhuma das 18 ruas do residencial. 

– Queremos a autorização para colocar cancelas, mas só de ter uma guarita ali, já impede a entrada de alguém mal- intencionado. Isso, para nós, é uma mudança radical, chegamos a ter cinco assaltos por dia – comenta um morador, que prefere não se identificar.

– Cheguei ao cúmulo de, enquanto cortava a grama da calçada, pedir para o meu marido cuidar o movimento da rua, para evitar que eu fosse assaltada. Teve morador que foi assaltado enquanto estava lavando o carro – afirma administradora Luana Ferreira, 36 anos, que vive no residencial há dez anos.  

Dados da Brigada Militar mostram que de janeiro a maio, 16 veículos foram levados nas ruas do residencial. No mesmo período do ano anterior, foram 15 e em 2016, nove.

Sem impedir passagem

Os moradores frisam que as guaritas não impedem a passagem de veículos. Os seguranças apenas anotam a placa dos veículos. Ninguém é impedido de entrar, mas o fluxo de veículos já diminuiu bastante. Enquanto a reportagem estava no local, alguns veículos quando se davam conta da guarita ao ingressar na Rua Palermo, recuavam e mudavam a rota. 

– Sofremos algumas críticas pela iniciativa, mas as pessoas que não moram aqui não imaginam como sofremos com assaltos. Aqui, depois das 21h, não temos nem como chamar carro por aplicativo pois é considerado área de risco – admite outra moradora, que prefere não se identificar. 

Os moradores também se prontificaram a assumir a limpeza das vias.

– Não estamos pedindo nada ao poder público, não queremos que paguem nada. Só precisamos regularizar essa situação. Estamos nos proporcionando uma segurança que o poder público não nos dá – afirma um morador. 

Relatos de medo 

Antes de colocar as guaritas, os moradores do Residencial Três Figueiras já contavam com segurança privada e alguns deles até pagavam escolta. É o caso da dona de casa Rose Guimarães, 52 anos. Há cinco anos ela paga escolta para as três filhas que voltam da faculdade após às 22h. O carro de segurança as espera na parada do ônibus e as leva até em casa. Um trajeto de três quadras.

– Pago R$ 200 a mais para ter essa segurança e ficar um pouco mais tranquila em casa. É horrível saber que as tuas filhas estão na rua até tarde num contexto de tanta violência – afirma.

A professora Solange Hoffmann, 50 anos, usa o mesmo serviço. Quanto está chegando em casa à tardinha, de carro, liga avisando os seguranças para lhe acompanharem. 

– Meu marido sofreu uma tentativa de assalto na saída de casa. Isso nos deixou muito assustados, o medo é muito grande. 

Assaltadas, cada uma, duas vezes, mãe e filha, Márcia e Andressa Dutra, ambas técnicas de enfermagem de 53 e 33 anos, respectivamente, já percebem outra rotina no bairro:

– Agora a gente já vê pessoas passeando com cachorro na rua, antes a rua era deserta – compara Márcia. Em abril do ano passado,  ela teve o carro levado quando estava saindo de casa.

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