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Coluna da Maga

Magali Moraes e a idade das palavras: jaqueta ou japona?

Colunista escreve às segundas, quartas e sextas-feiras no Diário Gaúcho

09/07/2018 - 21h43min


  

Já reparou que a língua portuguesa envelhece? Palavras que antes faziam parte do vocabulário cotidiano com o tempo somem de vista. Ficam esquecidas num asilo imaginário de vogais e consoantes. A coitada da japona é uma delas. Hoje em dia, quem se atreve a sair de japona? Se diz jaqueta, tá. Elas podem ser do mesmo tecido e cor. Jaqueta é como chama. E se falar japona, na hora nasce um tufo de cabelo branco. 

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Me criei usando japona e calça de brim (o famoso jeans). As amigas friorentas não esqueciam do gorro (mais conhecido como touca). Meu pai adorava carpim, enquanto o resto da família preferia meias. Nas festas de outrora (eita palavra velha), o DJ assumia as pick-ups (expressão que caducou). O DJ ainda existe, e pode ser residente. Ele não bota som, se apresenta. Festa também não se diz mais. Foi-se a balada. Agora é simplesmente noite. "Hoje tem noite". E não me pergunte se a noite for de dia. Prefiro dormir.

Desuso

No século passado, era chique ir a coquetel (não confunda com as palavras cruzadas). Até inventaram o traje coquetel. A palavra caiu em desuso, só sobraram os salgadinhos e docinhos. Assim como tailleur, que já foi chamado de conjuntinho e hoje é terninho. Cabeleireiro era coiffeur e trabalhava no instituto de beleza. Convenhamos: salão é uma palavra mais bonita. Chamar uma mulher de vistosa era supimpa. O mesmo não dava pra dizer de sirigaita e lambisgóia. 

O que envelheceu mais? O colar de pérolas ou quem diz uma pérola? O verbo pousar ficou gagá. Era comum pousar na casa de alguém. Eu era a neta mais feliz do mundo quando batia as asas do ninho, com pijama e escova de dentes, e pousava na vó. Outro verbo na melhor idade é indagar. Na minha família, ninguém indagava. A gente perguntava e pronto. Quando entrei pra família Moraes, descobri essa pérola (opa). Lá até os jovens indagam. Jovens. Como essa palavra envelheceu! Melhor parar, antes que as vírgulas se aposentem.



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