Coluna da Maga
Magali Moraes e o Advogado do Diabo
Colunista escreve às segundas, quartas e sextas-feiras no Diário Gaúcho
Ele não fez faculdade de Direito e não tem carteira da OAB. Mas como trabalha o cidadão! Nunca vi seu rosto, mas seguido ouço a sua voz. Na verdade, o Advogado do Diabo pode ser homem ou mulher. Pode ser qualquer um de nós. É só chegar dizendo, em tom solene, "eu vou fazer o papel do Advogado do Diabo". Pronto! Já assumiu o cargo. Parabéns! O problema é que o Advogado do Diabo tá sempre procurando problemas. Lá vem bomba. Ou ele não falaria em nome do capeta.
Ser Advogado do Diabo é uma expressão comum em diversas profissões. Em reuniões de trabalho, sempre tem um que pega pra si essa tarefa. Antes ele até pergunta (com carinha de anjo) se pode ser o Advogado do Diabo. Quem sou eu pra impedir? Daí começam as perguntas desestimulantes. "E se o cliente odiar?" "E se der tudo errado?" O Advogado do Diabo, por definição, não é nada otimista. O tipo de pessoa que ama procurar cabelo em ovo. Coisa ruim. Belzebu de crachá.
Do contra
Fui pesquisar a origem desse termo e descobri que lá nos antigamentes existia mesmo o cargo. O Advogado do Diabo era contratado pela Igreja Católica pra questionar os pedidos de canonização e beatificação. O papel dele era ser do contra. Impedir o candidato de virar santo, jogar areia, atrapalhar a vida, complicar ao máximo. Literalmente, o Advogado do Diabo infernizava. Tadinho do Promotor da Fé, trabalhando do outro lado pra reconhecer os milagres. Em 1983, o Papa João Paulo II acabou com isso. Será?
Com tanta gente desempregada, olha que bela oportunidade abrir vagas pra Advogado do Diabo! Já imagino uma grande fila de candidados. Pré-requisitos: ser bem crítico, levemente inseguro, caçar erros e encher o pessoal de dúvidas. Talvez o Advogado do Diabo só queira parecer mais inteligente que os outros. Não tenho a menor vocação. Inclusive sempre levanto a sobrancelha quando algum deles abre a boca. Agora se for pra gerar empregos, paciência. Eu aguento os demônios.