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Ciclistas com deficiência visual passeiam de bike por pontos turísticos da Capital

Integrantes do grupo são conduzidos por um ciclista guia, em bicicletas de dois lugares

26/08/2018 - 15h10min


Jeniffer Gularte
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Jeniffer Gularte / Agência RBS
Passeio é feito com bicicletas de dois lugares, chamadas Tandem

O bom humor e a disposição dos integrantes do passeio ciclístico promovido pela Associação de Cegos do Rio Grande do Sul (Acergs) deixou o frio deste domingo (26) em segundo plano. O grupo se concentrou na Redenção desde as primeiras horas da manhã e partiu, pouco depois das 11h, para um trajeto de 15km pela Capital.

O passeio é feito com bicicletas de dois lugares, chamadas de Tandem. Nelas, o ciclista com deficiência visual vai na parte de trás e é conduzido por um ciclista guia, que conduz a bicicleta ao mesmo tempo em que descreve as paisagens e o trajeto.

Jeniffer Gularte / Agência RBS
Grupo se concentrou na Redenção e após passou por outros pontos turísticos da Capital

O percurso incluiu o Túnel e Viaduto da Conceição, Cais do Porto, orla do Guaíba, Avenida Ipiranga, Avenida João Pessoa e retorno ao Parque Farroupilha (Redenção), no sentido do Espelho d'Água. O evento integra a programação da 21ª Semana da Pessoa com Deficiência.

Coordenador do passeio ciclístico, Rafael Martins dos Santos afirma que a iniciativa começou em fevereiro de 2016, com o objetivo de integrar os deficientes visuais à sociedade e ocupar espaços públicos. A atividade ocorre pelo menos uma vez por mês para os ciclistas se manterem motivados. O grupo conta com 60 participantes, entre deficientes e não deficientes. 

"Com força de vontade, a gente consegue tudo"

A aposentada Santa Marta Nunes, 59 anos, aprendeu a andar de bicicleta há dois anos. Até então, tinha medo de se arriscar no veículo. Neste domingo, era uma das mais animadas durante a concentração:

– Com força de vontade, a gente consegue tudo. Quando não saio para pedalar, parece que está faltando alguma coisa. 

Jeniffer Gularte / Agência RBS
Santa Marta se preparando para pedalar, atividade que aprendeu há dois anos

Janete Silva, 51 anos, também superou a si mesma. Aprendeu a usar a bike em dezembro do ano passado e, desde então, participa de todos os passeios:

– Sempre tive vontade de andar de bicicleta e me permiti aprender. 

Janete sofre com descolamento da retina, possui baixa visão e está perdendo gradativamente o pouco que ainda lhe resta. Com uma rotina ativa, ela conta que todos os dias se prepara para o momento em que ficará totalmente sem visão:

– Se a doença quiser me pegar, vai ter que correr atrás. Não é porque temos dificuldade que a vida acaba. Hoje, temos liberdade e podemos sair de casa sem ser vistos como coitadinhos. Este tipo de evento mostra que o deficiente visual pode andar de cabeça erguida.

Jeniffer Gularte / Agência RBS
Janete é conduzida por Jorge no percurso de 15km

Integração entre os guias e os ciclistas com deficiência

Natural de Laguna, em Santa Catarina, Jailton Borges Goulart, 49 anos, vive há quatro anos em Porto Alegre e está descobrindo a Capital por meio do ciclismo. Junto com a dança, esta é a sua atividade favorita:

– Para uma pessoa com deficiência visual, andar de bicicleta é uma sensação de liberdade muito boa. E vamos a lugares que eu não conheceria se não fosse em passeios ciclísticos. Quando estamos passando pela orla, os guias contam como é a paisagem, é muito bom.

Ele também aproveita a integração entre o grupo e a troca de experiências. Organizados, possuem um grupo no WhatsApp no qual combinam as próximas pedaladas.

O representante comercial Jorge Batista, 61 anos, é um dos guias do passeio e acredita na importância da inclusão e dos vínculos humanos que se fortalecem por meio do ciclismo:

– É muito importante o guia ter bom humor e espírito de parceria para um passeio como esse. Queremos começar a atrair mais jovens e adolescentes para essa função, para que haja mais integração entre eles e os deficientes visuais.


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