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PROCURA-SE EMPREGO

Drama de um desempregado: "Não ter renda é desesperador"

Diário Gaúcho acompanha a saga de sete pessoas que lutam para voltar ao mercado de trabalho.

19/09/2018 - 09h00min


Felipe Bortolanza
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Isadora Neumann / Agencia RBS
Luiz mora numa peça construída no pátio da casa da irmã, em Alvorada

Chega ao segundo mês a série sobre desemprego, publicada pelo Diário Gaúcho, a partir de pessoas que estiveram na fila do Sine Municipal na fria manhã do dia 9 de julho. Dos sete entrevistados, apenas um conseguiu emprego com carteira assinada. Nesta página, contamos a história de um homem de 52 anos que já acumula cinco meses sem renda mensal fixa. Seu relato ilustra o drama pelo qual passam, atualmente, cerca de 13 milhões de pessoas no Brasil.

Luiz perdeu o direito de escolher

A cada início de noite, ele vive a mesma expectativa.

_ Mana, alguém telefonou para mim?

_ Ninguém.

A expectativa, então, dá lugar à frustração. Tem sido assim a vida de Luiz Martins Porto nos últimos cinco meses. Aos 52 anos, pela primeira vez, está há tanto tempo sem carteira assinada. Os bicos são raros e rendem pouco. 

Tamanha é a dureza que nem celular ele tem. Por isso, depende do telefone da irmã. É o número de Águida Rejane que ele usa no currículo que distribui entre o centro de Porto Alegre o bairro Maria Regina, em Alvorada, onde mora.

Na verdade, quem mora na casa são a irmã, o marido, dois filhos e uma nora. Luiz está lá desde que foi demitido. Por isso, todos os dias, é o mesmo diálogo (e a mesma decepção) com Águida, que atua como segurança, na volta do serviço:

_ Graças a ela, não estou morando na rua. 

À noite, outra rotina de Luiz é checar no computador da irmã se alguma oferta de emprego chegou no e-mail dele. Ele busca trabalho como porteiro ou frentista. Mas já ampliou suas buscas para qualquer área. No currículo, se orgulha do curso de computação.

_ Perdi o direito de escolher. Não ter renda é desesperador.

Na conversa que teve com a reportagem na varanda da casa, Luiz repetiu a palavra "desesperador" inúmeras vezes. Ela ilustra a rotina de um dos 13,5 milhões de desempregados no Brasil. Durante o dia, Luiz corre rua com seu currículo. Quando acabam os papéis, o apelo é verbal:

_ Só em postos de gasolina, já larguei cem currículos entre Alvorada e a Avenida Farrapos, em Porto Alegre. Ultimamente, fico só na redondeza. Já tenho vergonha de pedir o dinheiro da passagem para meus familiares... Ida e volta dá R$ 10,60.

Luiz consultou o INSS para projetar sua aposentadoria. Outra má notícia. Seu tempo de contribuição não é suficiente para garantir uma renda por tempo de serviço. Só quando atingir a idade:

_ Quando peço emprego, perguntam  "quantos anos o senhor tem?". Sinto preconceito com pessoas acima dos 50.


No puxadinho, sonhando com fogão

Isadora Neumann / Agencia RBS
Luiz está há cinco meses sem trabalho com carteira assinada

Quando não está buscando vaga, Luiz passa as horas sozinho no puxadinho construído no pátio da casa da irmã. Numa peça com cerca de 10m², há uma cama, um banheiro e um roupeiro. Um aparelho de som, sintonizado em uma rádio sertaneja, é seu principal passatempo:

_ Isso é tudo que tenho na vida hoje. Esse cantinho, algumas roupas. Menos mal que tenho uma família que se importa comigo, me dá comida.

Assim que conseguir um emprego, o porteiro já tem um sonho. Quer comprar um fogão, para poder fazer sua alimentação:

_ Não posso mais depender dos outros. Amo muito minha irmã, mas é constrangedora minha situação. Quero retomar minha vida, encontrar uma nova companheira...

Luiz tem um filho, Paulo Ricardo, 31 anos, fruto do primeiro casamento. Ele e a mãe moram no interior do Paraná. Há dois anos não os vê, mas têm boa relação. Bem diferente do segundo relacionamento, que durou seis anos e terminou coincidindo com o início de sua atual fase de desempregado. Caso já foi até parar na Justiça.


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