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Dois professores

Alunos de escola da Restinga têm aulas de português e matemática pela primeira vez neste ano

Problema da instituição, porém, não está 100% resolvido

09/10/2018 - 08h00min


Jeniffer Gularte
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Tadeu Vilani / Agencia RBS
Profe Benny dá aulas de português

Quase sete meses de aula já se passaram na rede pública municipal de Porto Alegre, mas a segunda-feira teve cara de começo de ano letivo para 60 alunos do 6º ano e outros 90 do 7º ano na Escola Municipal de Ensino Fundamental Vereador Carlos Pessoa de Brum, na Restinga. Apenas ontem, na 30ª semana de aula, eles tiveram contato pela primeira vez com os professores de duas das mais importantes disciplinas do currículo escolar.

A vinda de professores para as turmas que estavam sem português e matemática desde o começo do ano – situação que o Diário Gaúcho denuncia desde 30 de agosto – ocorreu por meio de uma solução caseira da Secretaria Municipal de Educação (Smed). 

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A pasta, comandada pelo secretário Adriano Naves de Brito, determinou o fechamento de um laboratório de aprendizagem – usado como reforço de português no turno inverso para alunos de séries iniciais –  para a professora Benny Diefenthaeler assumir três turmas do 7º ano. Três laboratórios de aprendizagem já tinham fechado no turno da manhã e, com a mais nova realocação, fechou um também no turno da tarde. Formada em Letras pela FAPA, Benny fez concurso para dar aulas em Séries Iniciais (do 1º ao 5º ano) e está há quatro anos na escola: 

– Me sinto obrigada pela Smed a dar aula e a deixar um projeto que é também muito importante: o reforço escolar às crianças menores. Mas vou fazer meu trabalho. 

Não resolveu
Mesmo com a realocação da professora Benny, 60 alunos da 8º ano seguem sem aulas de português. Em 2 de outubro, a Smed chegou a designar outra professora de português que estava lotada na Assessoria de Relações Institucionais, setor ligado ao gabinete do secretário, mas a servidora entrou em licença saúde no mesmo dia da designação. A Smed, por sua vez, busca uma nova professora da área. 

À tarde, na primeira aula de português da turma C15 do 7º ano, a professora Benny tentou identificar as principais defasagens dos alunos. Propôs um questionário de apresentação já para verificar em que nível está a escrita dos estudantes:

– Minha intenção é conhecê-los melhor, bem aquilo que o professor faz no primeiro dia de aula. Vou tentar reforçar muito a parte da leitura. 

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E faz uma crítica na solução determinada pela Smed:

– Na verdade, não se está resolvendo o problema, está se tapando um furo e fazendo outro – afirma a professora, que trabalha há quatro anos na Escola Pessoa de Brum. 

A vendedora Ana Paula Coimbra Barreto Motta, 36 anos, sente-se aliviada pelo filho Kevyn, 13 anos. Segundo ela, em muitos dias o filho ia para escola e só tinha dois ou três períodos de aula.

– Nosso medo era acabar o ano e eles ficarem sem essa disciplina, que é a mais importante. Meu filho estuda desde o jardim nessa escola, mas este foi um ano cruel com eles – avalia a mãe.

Tentativa de transferência desde abril
O professor de matemática Eliezer André Vellar já dava 20 horas de aula para turmas do 8º e 9º ano e ganhou mais 10 horas na escola para atender duas turmas do 6º ano. Desde o começo do ano, Eliezer tentava transferência de horas para a Carlos de Brum. Formado em Matemática pela Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), dava aulas em três escolas da Restinga e solicitava à Smed que suas horas fossem todas transferidas para a Carlos de Brum para ter mais segurança, evitando o deslocamento a pé ou de ônibus entre as instituições do bairro. 

Tadeu Vilani / Agencia RBS
Eliezer já tonha pedido transferência

A direção, que tinha necessidade de professor de matemática desde a largada do ano letivo, apoiava a ideia. O primeiro pedido foi formalizado pela direção da escola em e-mail enviado à Diretoria de Recursos Humanos da Smed em 2 de abril. Não houve resposta. Apenas na semana passada o pedido foi atendido e Elieser deixou de dar 10 horas de aula na Senador Alberto Pasqualini, na Restinga, para atender a necessidade da Carlos de Brum.

– Sentimos muito que a solução chegou só agora. Se tivéssemos sido recebidos pela Smed, e se houvesse boa vontade, poderíamos ter construído essa solução muito antes – avalia a vice-diretora Adriana Braga.  

Na semana passada, a escola também recebeu professores de geografia, filosofia e de séries iniciais, mas segue com faltas nas áreas de supervisão, coordenação de turno e laboratório de aprendizagem. Na última semana de setembro, o secretário prometeu realocar professores para as salas de aula da Carlos de Brum que estavam lotados em outras secretarias _ entre elas Desenvolvimento Social, Planejamento e Saúde _ exercendo funções administrativas. 

Gritos de saudação
Ao entrar na turma B31, do 6º ano, logo após o recreio, Elieser ouvir gritos de "finalmente!", misturados a um "seja bem-vindo". Ainda suados e ofegantes após o recreio, ficaram quietos e atentos assim que o professor escreveu no quadro negro "1ª aula de matemática". Começaram a preencher a primeira linha do caderno que até então estava em branco enquanto o professor começou a rever conceitos das quatro operações básicas: adição, subtração, divisão e multiplicação.

– É complicado começar só agora e retomar o ano inteiro, mas, neste começo, vou sentir o que eles têm de base de ensino. Muitos conceitos vou ter que relembrar, já que eles ficaram muito tempo sem ter contato com a disciplina.

Hyago Lima Neves, 14 anos, e Guilherme Lopes de Melo, 12 anos, já nem acreditavam que teriam professor de matemática neste ano. 

– Sinceramente, achei que iam esquecer de nós e que ficaríamos sem essa aula – afirma Guilherme. 

_ É um conteúdo que vamos usar a vida inteira, ano passado tirava nota A em matemática. Agora, é tentar relembrar tudo _ avalia Hyago.


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