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Festival Gaúcho de Chula evidencia criatividade e concentração de competidores infantis

No 4º Fegachula, realizado em Canoas durante o final de semana, as crianças deram show de postura e habilidade

14/10/2018 - 16h36min

Atualizada em: 14/10/2018 - 16h43min


Jeniffer Gularte
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Lauro Alves / Agencia RBS
Competidores se apresentam para jurados na categoria infantil

Considerada uma das mais desafiadoras danças tradicionais da cultura gaúcha, a chula valoriza a criatividade e a concentração do competidor. No 4º Festival Gaúcho de Chula (Fegachula), realizado no Centro Olímpico Municipal, em Canoas, neste final de semana, chuleiros de todas as idades se desafiaram, mas foram os crianças que surpreenderam pelo foco e pela disciplina. 

Enquanto o chuleiro sapateia ao som da gaita, encara o adversário o tempo inteiro. Além da boa desenvoltura nos pés, a postura do concorrente é que dá o tom da apresentação. Após o sábado de eliminatórias, na final, realizada neste domingo, os competidores, divididos nas categorias infantil, mirim, juvenil, adulto e veterano, precisaram apresentar cinco passos diferentes. 

Um dos coordenadores da Fegachula, Marcelo Rosa, explica que cada um deles deve ser diferente do outro, sem se parecer com o do concorrente:

– O chuleiro tem liberdade para criar o passo que quiser, e aí está o grande mérito dele. Copiar de outro colega não é bem visto e pode fazer ele perder pontos. 

Lauro Alves / Agencia RBS
Jurados avaliam critérios como postura, criatividade e proximidade que os passos têm da lança

O corpo de jurados, formado por sete avaliadores, leva em conta critérios como dificuldade do passo, criatividade, postura, respeito ao concorrente e a proximidade que os passos têm da lança.

– Não pode bater na lança, por isso, quando mais próximo dela ele sapatear, mais ele estará se desafiando. Isso aqui é como uma Olimpíada pra eles – compara Marcelo, que no ano passado foi vencedor na categoria veterano. 

O maior desafio

Um consenso entre os chuleiros é o passo mais desafiador: dar um giro e meio sobre a lança, sem, por óbvio, encostar nela. É difícil, mas o pequeno Diego Israel Gomes Pezzinatto, oito anos, conseguiu executá-lo. Integrante do CTG Vaqueiros D'Oeste, de Chapecó, em Santa Catarina, o menino pratica a dança há dois anos e já acumula vários prêmios. Os méritos, porém, não chegaram de graça: treina no CTG duas vezes por semana e diariamente no tablado que tem em casa. É incansável.

Lauro Alves / Agencia RBS
Diego se apresenta sob o olhar do adversário Miguel

A mãe, a costureira Veronice Gomes da Silva Pizzinatto, 48 anos, explica que o filho é obstinado e persegue a perfeição dos passos, além de ser vaidoso com própria vestimenta. O garoto confirma e ensina que para ser um bom chuleiro é preciso ter muita persistência:

– Em casa eu treino o tempo todo e fico criando passos. Tenho muito cuidado para não tropeçar na espora da bota. Achei que me saí bem na apresentação de hoje, mas meu concorrente também era muito bom. 

O adversário de Diego foi Miguel Bonoto Nunes de Souza, nove anos. Integrante do CTG Laço da Amizade, de Gravataí, o pequeno já pratica a dança há três anos. Ainda assim, admitiu a reportagem que ficou nervoso na apresentação:

– O segredo para se sair bem é bater forte com a bota no chão e olhar fixo para o concorrente – diz ele, que conta que repete os passos quantas vezes for necessário até que o sapateado esteja irretocável. 

Influenciado pelo irmão e pelo pai, também pratica em casa e confidencia:

– Quando mais velha a bota, melhor para sapatear. 

Lauro Alves / Agencia RBS
Miguel,nove anos, do CTG Laço da Amizade, de Gravataí, participa da competição

Apoio das famílias

As famílias costumam ser as maiores incentivadoras dos pequenos chuleadores. Além de praticamente não piscarem os olhos enquanto os filhos se apresentam, os pais se orgulham da disciplina que o dança emprega na vida dos pequenos:

– Quando coloquei meus filhos na dança, queria que eles tivessem uma atividade social, ficassem longe das ruas, mas a chula é muito mais do que isso. Eles aprendem a ter coragem, a nunca fugir de um desafio, a ter respeito pelo adversário – avalia o supervisor de transportes Adalberto Latroni, 38 anos. 

Lauro Alves / Agencia RBS
Junior, oito anos, segue os passos dos dois irmãos mais velhos na chula

Os três filhos de Adalberto dançam chula. O caçula, Junior, de oito anos, também disputou a final neste domingo pelo CTG Aldeia dos Anjos, de Gravataí. Após sua apresentação, contou que postura e sorriso no rosto conquistam os jurados:

– Não dá para ficar olhando o tempo todo para o chão, tem que encarar o adversário e mostrar segurança. 



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