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Coluna da Maga

Magali Moraes: a vida pulsa nas ruas

Colunista escreve às segundas, quartas e sextas-feiras no Diário Gaúcho

23/10/2018 - 11h45min


Miguel Neves / Divulgação

Seu José entrou na minha vida por acaso. Eu estava indo pro hospital, onde a mãe se recuperava. Depois de semanas de muita tensão, finalmente havia motivo pra comemorar. A alta se aproximava. Lembro da vontade que me deu de agradecer. De retribuir e fazer algo bom pra alguém. O sinal fechou. Virei pro lado e vi um senhorzinho pedindo ajuda. O olhar dele me encantou. Um vovô que deveria estar no conforto de casa, bem tranquilo com a família.

Mas não. Ele e sua bengala caminhavam com dificuldade até os carros. Na mão livre, um cartaz mostrando nome e idade. Isso foi há mais de um ano. Perdi a conta de quantas vezes já passei por ali, sempre torcendo pro sinal ficar vermelho e eu entrar no campo de visão do seu José. Tem dias em que vou devagar e buzinando até ele me ver. Ajudo com dinheiro e algo valioso: atenção. Falo do tempo, pergunto da dor nos pés. Se conversar um pouquinho faz o meu dia melhor, imagina o dele. 

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Papelzinho

Semana passada, teve novidade. "Já te dei o papelzinho?" Ganhei algo parecido com um convite de aniversário. Ou um salve a data, pra não esquecer o 22 de outubro. Na última segunda, meu amigo fez 81 anos. A comemoração foi na esquina de sempre, pra poucos. Anotei na agenda e mudei o trajeto só pra encontrar o aniversariante. Pena que o sinal não fechou a tempo. Desejei feliz aniversário rapidinho (ele sorriu) e consegui entregar o presente. Mas não sei se ouviu o "Tá bonito hoje!!"

Agora vem a parte mais fofa da história. Seu José estava todo arrumado! De camisa azul claro e calça branca (em pleno areião). Em vez dos chinelos por causa dos pés inchados, sapatos. Ele se vestiu pra ocasião! Acho que gosta de fazer aniversário. Por mais difícil que seja a realidade, um novo ano é motivo pra celebrar. Se você cruzar com o seu José na Ramiro com a Protásio, pode abraçar atrasado. Essa coluna é pra lembrar que a gente não pode endurecer o coração. Tem vida pulsando nas ruas.     



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