Solidariedade
Conheça a moradora que largou seu emprego para ajudar a comunidade
Dona Maria, que já trabalhou na faxina e na cozinha da Associação de Moradores da Vila Rio Branco, atualmente é presidente da instituição
Quando foi inaugurada, há 39 anos, a estrutura da Associação de Moradores da Vila Rio Branco, no Morro Santa Tereza, não passava de uma casinha de madeira. Nesta época, Maria da Graça Dias de Oliveira, hoje com 54 anos, trabalhava na limpeza do local. Foi aí que começou a relação da doméstica com a instituição.
– O entorno da casa era só barro e poucas crianças eram atendidas. Trabalhei na limpeza e na cozinha e, neste tempo, vi as coisas mudarem aos poucos. Enquanto isso, também lutei muito para conseguir coisas para as pessoas que vivem aqui – diz Maria.
Em 2014, depois de ver várias pessoas passarem pelo cargo, dona Maria decidiu lançar uma chapa para a presidência da associação. O desafio era gigante: ela não sabe ler e escrever.
– É claro que eu sabia que teria dificuldade. Pensei: como eu vou conseguir manter tudo o que é feito aqui? Como vou lidar com este dinheiro, que não é meu?
Mas o apoio veio da comunidade da Vila Rio Branco:
– Me disseram: “A gente sabe tudo o que a senhora vem fazendo na comunidade”. Acharam que eu era a pessoa certa. Fui eleita pelos moradores.
Futuro
Atualmente, a associação atende 60 crianças entre seis e 14 anos, no contraturno da escola. A sede tem cozinha, refeitório e duas salas de aula. Os alunos contam com TV, videogame, material para as atividades e duas refeições por dia. Tudo de graça. Ao todo, são cinco funcionárias (duas educadoras, uma coordenadora, uma cozinheira e uma funcionária da limpeza) trabalhando no local, todos pagos com recursos repassados pela Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc).
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Maria não ganha salário para ser presidente. Mais do que isso: largou seu último emprego, como doméstica.
– Falei para o meu marido (o marmorista Alexandre, 49 anos) que queria me dedicar mais. Estou aqui porque gosto do que faço, gosto da minha comunidade. Isso aqui é a minha vida – diz.
Para ajudar na renda, ela vende salgadinhos e bebidas pelo bairro. Mas até isso é usado em prol da associação:
– Vou guardando umas moedas ao longo do ano para comprar o que for necessário para a festa de Natal.
Para o futuro, dona Maria pensa grande:
– Não posso reclamar do que fazemos aqui, mas eu quero mais. Estou lutando para ter uma creche aqui. Eu sei que posso.
Entidade quer voluntários
Os maiores beneficiados, é claro, são os alunos atendidos no local.
– O trabalho aqui é desenvolvido para evitar que eles fiquem na rua. As educadoras ajudam nos temas, desenvolvem leituras e atividades artísticas – conta a coordenadora da associação, Roberta Cabelera.
Para diversificar as atividades, a instituição quer recrutar voluntários.
– Para contar uma história, fazer um atividade musical, passar uma tarde aqui. Queremos aumentar a autoestima deles – conta Roberta.
No dia da visita da reportagem, os alunos se dedicavam a fabricar e pintar enfeites feitos com garrafa pet para a festa de Natal, que será realizada no dia 8 de dezembro, para toda a comunidade. Pintura, aliás, é a atividade preferida de Derick Luis, sete anos, um dos alunos.
– Quando eu crescer, quero ser pintor, fazer quadros – diz ele.
Mycaela Celino Jardim, nove anos, curte brincar, dançar e aproveitar os dias de beleza promovidos eventualmente por lá.
– Todo mundo sai daqui bonito – conta, aos risos.
Interessados em ajudar podem ligar para 98580-7931.