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Abono de Natal

Saiba como usar bem o 13º, que começa a ser pago neste mês

Primeira parcela do abono natalino será paga até o dia 30. Se depois de quitar dívidas atrasadas sobrar dinheiro, a recomendação é fazer uma reserva.

07/11/2018 - 07h00min


Leandro Rodrigues
Leandro Rodrigues
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Julio Cordeiro Agência RBS
Antes de definir o destino do dinheiro, as famílias devem fazer um diagnóstico da situação financeira

Quando foi criado, em 1962, o 13º salário – que tem o nome oficial de Gratificação Natalina – tinha como objetivo melhorar as festas de final de ano dos trabalhadores, garantindo um momento especial para as famílias. Mais de 56 anos depois, não está proibido manter o mesmo princípio, mas especialistas recomendam uma avaliação atenta do orçamento. Se há dívidas em atraso ou por chegar em breve e o salário do mês não dá conta, estas devem ser as prioridades para o 13º.

– Claro que as dívidas em atraso devem ser o primeiro destino do 13º salário. Do contrário, aumentarão ainda mais com os juros. Mas muita gente acha que, se não há conta atrasada, não precisa se preocupar. Por isso, é preciso olhar meses adiante. Dívidas em atraso podem estar a caminho – alerta a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti.

Quem pensar bem verá que as contas não dão trégua. Logo após a euforia de Natal e Ano-Novo, IPTU, IPVA e matrícula escolar batem à porta. Sem contar os gastos chamados "sociais", que quase ninguém considera, mas que sempre pesam: amigo-secreto no trabalho, na faculdade, presentes para familiares e aquele final de semana na praia. Quem não tiver as contas em dia poderá acabar apelando para um empréstimo.

– Se possível, guardar parte do valor é interessante. Até porque temos uma troca de governo pela frente. Não temos indicação de que vá piorar a economia, mas sempre é bom ter cautela – lembra Marcela.

Se sobrar, invista

A recomendação é que, antes de definir o destino do dinheiro, as famílias façam um diagnóstico da situação financeira. A condição das contas domésticas – se em atraso, em dia com ou sem folga no salário _ deve determinar o uso mais sábio do 13º. E se for possível usar o dinheiro em algo além de quitar pendências, a indicação da Associação Brasileira de Defesa do Consumidor – Proteste é pensar em algo realmente importante.

– Se meu sonho é fazer uma viagem, o ideal é ter disciplina e não usar o dinheiro que entrou agora para comprar roupas, por exemplo. É focar os esforços para alcançar os objetivos, mesmo que sejam de longo prazo, e investir o dinheiro para concretizar algo que, realmente, trará felicidade – explica a técnica e representante da Proteste Verônica Dutt-Ross.

E quando se fala em investimento, saber o que quer e quando é fundamental. Verônica acredita que, se o consumidor precisa de liquidez (dinheiro disponível para qualquer hora), parte do que se tem deve ir para aplicações de saque rápido. Nesse caso, a Poupança segue como uma opção pela facilidade de depósito e simplicidade de retirada – ideal para ser uma reserva a imprevistos domésticos, como a quebra do telhado. Mas é uma opção indicada para períodos curtos de investimento. Para prazos mais esticados, Certificados de Depósito Bancário (CDBs) e Tesouro Direto Selic surgem como alternativas seguras.

– O ideal é conseguir economizar, mensalmente, pelo menos 10% do salário. Recebeu o salário, investe pelo menos 10% para o futuro e então vai pagar a conta de luz, o aluguel, etc. Então, se o 13º está sem um destino importante, como zerar dívidas, investir todo ele é uma ótima decisão – orienta o CEO da Warren Investimentos, Tito Gusmão.

Quantia para colocar em dia o IPTU

Morador de Viamão, o motorista rodoviário José Carlos da Silva Salerno, 53 anos, é um entre milhões de brasileiros que usarão o abono de Natal para colocar as contas em dia. Nas viagens de ônibus pela Expresso Palmares que faz entre a Região Metropolitana e o Litoral Norte, uma pendência não sai de sua cabeça: o IPTU deste ano.

Tadeu Vilani / Agencia RBS
José Carlos da Silva Salerno, 53 anos, decidiu: 13º será para colocar em dia o IPTU

– Tenho que tirar (o imposto) da frente o quanto antes. Porque tem a ver com o imóvel, né? É um patrimônio da família, precisa ser preservado. Sempre esteve em dia, mas, neste ano, a coisa foi puxada. Tudo ficou mais caro, o combustível, o gasto com saúde – conta o motorista.

Salermo recorda que, há alguns anos, o 13º era para contas que ainda viriam nos meses seguintes. E sobrava para ir a novas compras. Agora, a realidade é se usar o valor para quitar aquisições feitas ao longo do ano e ainda pendentes. O rodoviário não tem muita esperança sobre a possibilidade de sobrar alguma parte do abono para investir.

– Ah, para todo mundo, vai sobrar muito menos neste ano. E, no meu caso, não deverá sobrar, não. Mas, se desse, seria ótimo quitar o IPTU e já conseguir adiantar umas parcelas do imposto de 2019, e aí é com desconto – projeta Salermo, que mora com a esposa, técnica de enfermagem.

Mas, apesar da crise, o motorista percebe a vantagem que tem e que muitos colegas de profissão não compartilham: a certeza de receber o 13°:

– A empresa, nisso, é exemplar, sempre pontual, tudo certinho. Por isso, eu posso fazer as contas, decidir para onde vai o dinheiro. Infelizmente, não é bem assim por aí.

ENTENDA O 13º SALÁRIO

Quem tem direito
O 13º salário é um direito de trabalhadores do mercado formal, nos setores público e privado, inclusive empregados domésticos. Também recebem os beneficiários da Previdência Social e pensionistas. O não pagamento ou atraso é considerado uma infração e pode resultar em multas pesadas ao empregador aplicadas pelo Ministério do Trabalho.

Prazo para o pagamento
Os empregadores têm até o dia 30 de novembro para pagar a primeira parcela. A segunda parcela deve ser paga até 20 de dezembro. Cada parcela corresponde à metade do valor devido. 

O cálculo do valor
– Quem trabalhou o ano todo na empresa recebe um salário inteiro a mais. São incluídos no 13° valores referentes, por exemplo, a adicional noturno, periculosidade, insalubridade e horas extrar habituais. Mas as parcelas não são iguais.
– Na primeira, se recebe valor equivalente à metade do salário do mês anterior, sem descontos. Se foi contratado no meio do ano, o 13º será proporcional. Para conhecer a primeira parcela se deve dividir o salário por 12 e multiplicar o valor pelo número de meses trabalhados.
Exemplo: Começou a trabalhar em julho com salário de R$ 2 mil. Esse valor dividido por 12 (R$ 166,66) e multiplicado por seis meses é igual a R$ 1 mil, o 13º desse trabalhador. A primeira parcela será de R$ 500.

Em uma só vez é possível
– Desde que o pagamento total do 13º seja até dia 30 de novembro. O pagamento em uma única parcela em dezembro é ilegal.

Descontos
Virão na segunda parcela, paga até 20 de dezembro, e basicamente são Imposto de Renda, FGTS, INSS. Fique atento, o valor da segunda parcela será menor do que o da primeira.
– Quem paga pensão alimentícia ou tem crédito consignado também terá o desconto na segunda parcela.
– Trabalhadoras em licença maternidade recebem o 13º normalmente, assim como quem se afastou por auxílio-doença ou acidente de trabalho. Mas no caso de auxílio doença ou acidente de trabalho, os meses correspondentes ao afastamento são pagos pela Previdência Social, e os demais meses, pela empresa.
Fonte: Carolina Mayer Spina, advogada especialista em Direito do Trabalho

O MELHOR USO PARA CADA PERFIL FINANCEIRO
Endividado e com contas atrasadas
O 13º é uma ótima oportunidade para pagar as dívidas em atraso, começando por aquelas que cobram os juros mais altos, como as do crédito rotativo do cartão ou o cheque especial. Atenção! Não faça pouco caso do condomínio, essa inadimplência pode implicar na perda do imóvel.

– Com dinheiro na mão, negocie descontos que possibilitem o pagamento à vista, sempre pedindo descontos. Dê preferência, ainda, ao pagamento de débitos que permitam que seu nome seja limpo em cadastros de inadimplentes.

Endividado, mas sem prestações atrasadas
– O dinheiro pode ser uma boa ocasião para antecipar o pagamento das faturas, negociando com o banco ou a loja algum abatimento nos juros e se livrando de vez da dívida.
– Se o dinheiro não for suficiente para pagar todo o carnê, opte por quitar as parcelas com vencimento mais distante, pois incorporam um juro mais pesado.

Sem dívidas, mas orçamento do mês não está folgado
Que tal olhar para o futuro, alguns meses adiante? Pode ser a oportunidade para usar a primeira fatia do 13º para pagar com desconto impostos como IPTU e IPVA e arcar com os gastos com matrícula e material escolar.
– Com este valor separado, são menores os riscos de estourar o orçamento naqueles meses de maiores gastos.

Sem dívidas e com o orçamento mensal com folga
O merecido uso de parte do 13º para o lazer da família deve estar no radar, em particular para quem não tem contas em demasia e que está bem encaminhado para quitar aqueles compromissos de final de ano.
– Nesse caso, utilizar o 13º para garantir as férias pode abrir caminho para hotéis e passagens aéreas mais em conta, uma vez que o verão ainda não começou e ainda há pacotes baratos.
– É indicado, mesmo assim, guardar e investir uma parte do abono de natal. Há investimentos adequados para cada objetivo. Um deles pode ser, simplesmente, uma reserva a mais para imprevistos.
Fontes: Marcela Kawauti, economista-chefe do SPC Brasil 

SIMULAÇÕES DE INVESTIMENTO COM O QUE SOBROU DO 13°
Segundo especialistas, o destino do investimento deve ser decidido a partir do que se quer fazer com o dinheiro, independentemente do valor que se tem. Para isso, é preciso planejar e tomar decisões. Abaixo, confira três cenários possíveis com o que sobrar do 13º deste ano.

Curto prazo (1 ano): reserva para para imprevistos
Poupança
R$ 1 mil _ Rende R$ 45,10
R$ 3 mil _ rende R$ 135,31
R$ 6 mil _ rende R$ 270,63

Médio prazo (2 anos): para adquirir bem em um futuro recente, por exemplo
CDB – que pague 92% do DI (Depósito Interbancário)
R$ 1 mil _ rende R$ 101,38
R$ 3 mil _ rende R$ 304,13
R$ 6 mil _ rende R$ 608,26

Longo prazo (a partir de 3 anos): sem previsão de uso, pode ser até o reforço da aposentadoria
Tesouro Direto Selic
R$ 1 mil _ rende R$ 172,10
R$ 3 mil _ rende R$ 516,30
R$ 6 mil _ rende R$ 1.032,61
Fonte: Samy Dana, economista


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