Educação
Coral inclusivo de Viamão precisa de espaço maior para ensaios
Iniciativa de inclusão mostrada pelo Diário Gaúcho há um ano quase triplicou, e participantes buscam local mais amplo para ensaios
Criado pela professora Rosana Kasper para estimular a leitura e a desinibição em alunos com limitações como síndrome de Down, autismo e déficit de atenção, o coral da Escola Municipal de Ensino Fundamental Jardim Outeiral, em Viamão, quase triplicou de tamanho em pouco mais de dois anos. O grupo surgiu com 15 alunos em 2016 e hoje já tem 42 estudantes, reunindo não só crianças com dificuldade de aprendizagem, mas também alunos sem limitação, em um ambiente de inclusão.
Os ensaios ocorrem todas as quintas-feiras, em uma sala de música que está ficando pequena para o grupo. Dividido em turnos, os grupo ensaia em momentos separados, mas é quando ocorrem os ensaios gerais que o espaço aperta. O ginásio, único espaço amplo do prédio, não poderia ser usado devido à falta de acústica. A escola de 550 alunos de Viamão precisa de mais estrutura física para dar sequência ao crescimento do coral, que faz apresentações dentro e fora do município.
Na sala de 25 metros quadrados, os 42 alunos se apertam para cantar. Não há cadeiras para todos os estudantes que se dividem também no espaço ocupado pelos instrumentos.
Pequenos milagres
Se o espaço é pequeno, a força de vontade do pequenos cantores só aumenta. Ao longo de um ano, o coral renovou o repertório, fez novos arranjos e descobriu talentos dentro do grupo. Agora o violão, o teclado e o vocal principal de algumas músicas são feitas pelos próprios integrantes do coral. A música Era uma vez, de Kell Smith, é uma das que é interpretada por Maria Luiza Lucas Canabarro da Silva, 10 anos, do 5º ano. No refrão, a voz do coral entra com força total:
– O coral nos ensinou a aprender a pedir ajuda quando não entendemos a música, ou não entendemos algum assunto em sala de aula – conta a menina, que é afinada no microfone.
Entre os estudantes, o coral tem operado pequenos milagres. Além do ganho de autoestima, tem sido importante na evolução pedagógica da gurizada. Foi fundamental para que Marlon Dornelles Pereira, 18 anos, no 8º ano e com síndrome de Down, aprendesse a ler.
– Aqui é uma família. Eu amo o coral, amo a professora Rosana e o professor Maurício – afirma Marlon.
Para Miguel Vieira Marques, oito anos, aluno do 3º ano e que não tem limitações motoras, o coral possibilitou aprimorar o gosto pela leitura:
– Ele era uma criança agitada que hoje ajuda os demais colegas. Se tornou um colega atencioso – explica Rosana.
A prefeitura de Viamão informa que a Escola Jardim Outeiral, nos últimos meses, "obteve diversas melhorias na sua infraestrutura, como nova sala de aula e nova quadra poliesportiva com cobertura". A Secretaria Municipal da Educação comprometeu-se em verificar a situação do coral e as novas demandas da escola.
"Aqui, é proibido dizer que não consegue"
Para o professor de música e artes Maurício Machado, que é o maestro do coral, os alunos amadureceram no último ano. Estão mais concentrados e menos inquietos:
– Eles decoram as letras com muito mais facilidade, são muito carinhosos e sensíveis.
Cada apresentação fora da escola é um teste de nervosismo e autoestima. A maioria admite que ao estar em frente a uma grande plateia faz uma oração, outros têm seus próprios segredos.
– Respiro fundo, tomo uma água e vou – conta Everton Lima da Conceição, 10 anos, que tem uma doença conhecida como ossos de vidro.
– Fico olhando a profe Rosana e o profe Maurício, eles me dão confiança – afirma Anna Clara Guimarães Menezes, seis anos, aluna do 1° ano.
Alguns são mais intuitivos:
– Fecho os olhos e penso que vai dar tudo certo – ensina Maria Clara Lemos Menezes, seis anos, do 1º ano.
O tática de Maria Clara é uma das premissas básicas passadas durante os ensaios: a partir do momento em que se está no coral, ninguém é incapaz. Tanto que o pequeno Everton reforça que o segredo para ser bom cantor é um só:
– Tentar, muitas vezes, e praticar.
De tanto a professora Rosana insistir, e com o incentivo extra do maestro, os estudantes já internalizaram que eles não podem desistir. Determinação é uma regra:
– Aqui, é proibido dizer que não consegue – afirma Rosana.
Para conviver com as diferenças
O sucesso e a consolidação do coral também se deve ao empenho incondicional das mães dos alunos. Ao longo do ano, camisetas passaram a identificá-las como "Mães de apoio". Elas acompanham o grupo nas apresentações e ajudam a cuidar especialmente os alunos com necessidades especiais.
Dos 42 integrantes do coral, 15 possuem laudo médico de limitações físicas ou motoras. Para a doméstica Valéria Costa Rodrigues, 43 anos, o principal ganho da filha Sara, 11 anos, que é a tecladista do coral, foi aprender a conviver com as diferenças:
– Ela entendeu como é importante ter paciência com os colegas que tem limitação. Passou a ver essas crianças com outros olhos.
Mãe de Andriele, 16 anos, com síndrome de Down, a dona de casa Rudineia Feijó Barcellos, 42 anos, se emociona ao perceber como a filha é entrosada com os colegas:
– Todos querem cuidar dela. E em casa, cantar virou um hobby.
O que diz a prefeitura de Viamão:
Nos últimos meses, a Emef Jardim Outeiral obteve diversas melhorias na sua infraestrutura, como nova sala de aula e nova quadra poliesportiva com cobertura. Mas, neste momento, a diretoria da escola não encaminhou nenhuma solicitação de ampliação ao município. Com nas informações mostradas pela reportagem, a Secretaria Municipal da Educação se compromete em verificar a situação e novas demandas da escola.