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Seu Problema é Nosso

Moradores da zona leste de Porto Alegre reclamam sobre constante falta de água na região

Moradores da Lomba do Pinheiro, Bom Jesus, São José e Coronel Aparício Borges procuraram o Diário Gaúcho para relatar a situação

19/12/2018 - 11h37min

Atualizada em: 19/12/2018 - 11h39min


Leitor DG / Arquivo Pessoal
Alternativa para Ariane é buscar água a quatro quadras de casa

Falta de água é uma situação comum para quem mora na zona leste de Porto Alegre, de acordo com moradores dos bairros Lomba do Pinheiro, Bom Jesus, São José e Coronel Aparício Borges. Durante o verão, eles relatam que o problema é ainda pior. Com os canos e caixas d’água secos, baldes, garrafas, tonéis e panelas são utilizados pela população para armazenar água. 

Lavar louça e roupas só é possível quando a água vem pela torneira. Enquanto isso, as reservas são usadas para beber e preparar refeições, além da utilização do líquido para descargas e banhos improvisados. Quando os canos enchem, a rotina das casas volta ao normal por pouco tempo, porque logo irá faltar de novo.

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Sem banhos na Lomba do Pinheiro

Desde que passou a morar no bairro Lomba do Pinheiro, há cinco anos, a funcionária pública aposentada Rosane Ozório, 60 anos, lida com a falta de água. Ela tenta buscar soluções para o problema:

– As pessoas dizem que foi sempre assim e que não há o que fazer, mas eu não vou desistir. Nós pagamos, e é o nosso direito.

Na tarde de segunda-feira passada, por exemplo, Porto Alegre marcou temperatura de 36,8°C às 15h45min, com sensação térmica de 47,4ºC. Depois de um dia de intenso calor, Rosane voltou para casa e não tinha água:

– Cheguei toda suada, desesperada por um banho. E adivinha? Sem água. Eu brinco, mas é verdade: o ano tem 365 dias, e em 300 deles nós não temos abastecimento.

A família dela participa do programa Consumo Responsável, da prefeitura de Porto Alegre, e paga R$ 13 mensais pelo abastecimento. Ela relata que a ausência sempre aconteceu pela manhã e, ultimamente, começou também à noite.

– Parece que alguém corta nossa água. E é engraçado, porque essas coisas só acontecem nos bairros pobres, né? – questiona.

“É desumano” no Coronel Aparício Borges

Há quase 12 anos, a dona de casa Ariane de Oliveira, 32 anos, vive no bairro Coronel Aparício Borges, no Morro da Polícia. Desde a sexta-feira passada, ela está sem água. 

– A gente liga para o Dmae, mas ninguém nos atende. Não sabemos mais o que fazer – relatou ontem a moradora.

Para consumo próprio, fazer comida e tomar banho, Ariane e a família buscam água em residências a quatro quadras de casa, onde o abastecimento está normal:

– Temos que subir o morro com baldes e galões. 

Ariane conta que, antes, era comum faltar por um ou dois dias:

– Agora tá demais. São cinco dias sem água, é desumano.

Bom Jesus: no verão, um “inferno”

Moradora desde os nove anos do bairro Bom Jesus, a costureira Marisa Pulgatti, 56 anos, relata que sempre sofreu com falta de água. Segundo ela, no início da noite, o abastecimento é interrompido e volta somente pela manhã, depois das 7h. Aí, chega com força:

– A gente acha que vai estourar os canos. Já até estragou a torneira da pia. Temos que cuidar ao abrir o chuveiro, para não queimar. 

Durante o inverno, Marisa diz que o problema não é tão grave:

– Mas, no verão, isso aqui é um verdadeiro inferno. Tem vezes que não tem água pro banho. Imagina, ir deitar na cama limpa toda suada.

Por mês, a costureira paga cerca de R$ 70 ao Dmae. Ela conta que o que chateia é ser consumidora e não ter a água sempre disponível para consumo:

– A gente paga, acreditamos que vamos poder usar, e temos esse direito. Queremos usar. Mas, na prática, é diferente.

Para driblar a falta de abastecimento, a solução de Marisa é encher baldes e panelas com água para usar quando a caixa estiver vazia. Na urgência, o banho é tomado na bacia, por exemplo.

No São José, idoso evita cozinhar

O aposentado Raimundo Itamar Carneiro, 76 anos, mora no bairro São José há um ano. Seguidamente tem de lidar com a falta de água. Segundo ele, nunca há previsão de quando o abastecimento ficará normal.

– A gente não sabe quando volta nem quando vai terminar. Agora, por exemplo, acabou – disse, na segunda-feira, por volta das 15h, enquanto era entrevistado pelo Diário.

Nesse vai e vem de abastecimento, Raimundo chegou a ficar três dias inteiros sem água. Vizinhos relataram para ele que já passaram por mais de uma semana na seca. Para se prevenir, o idoso enche dois recipientes de 20 litros cada e guarda para consumo. Sem cozinhar, para não gastar a pouca água que resta, se alimenta de frutas e comidas prontas.

– Tem muitos erros por aqui, e ninguém quer consertar – desabafa Raimundo.

Dmae justifica problemas e promete obra para qualificar serviço

O Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) explicou que o endereço de Rosane, na Lomba do Pinheiro, é abastecido pelo sistema Belém Novo, que está no limite da sua capacidade. O órgão salientou que, em períodos de calor intenso, como nos últimos dias, qualquer interferência – como consertos ou falta de energia – pode desestabilizar o sistema e ocasionar falta d’água. 

Nos bairros São José e Bom Jesus, melhorias estão sendo feitas nas estações de bombeamento Cristiano Fischer e São Manoel. Segundo o Dmae, ainda irão ocorrer paradas operacionais para implantação de equipamentos. Além disso, é uma região alta da cidade, que pode demorar na recuperação do sistema.

Para qualificar o abastecimento de água nas zonas Leste e Extremo Sul, é necessário construir uma nova estação de tratamento de água. A prefeitura obteve liberação da Câmara de Vereadores, na segunda-feira passada, para contratar operação junto à União por meio da Caixa Econômica Federal. Assim, destinará R$ 220,7 milhões para o Sistema de Abastecimento de Água Ponta do Arado – no extremo sul da cidade. Enquanto a obra não fica pronta, o Dmae tem feito melhorias nas estações de bombeamento Cristiano Fischer e São Manoel, além da implantação de uma adutora na Estrada Antônio Borges, no bairro Belém Velho.

Produção: Eduarda Endler

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