Futuro transformado
Projeto oferece aulas gratuitas de judô em escola do Rubem Berta
Crianças que praticam o esporte já venceram até campeonatos estaduais
A Escola Estadual de Ensino Fundamental Bento Gonçalves, no bairro Rubem Berta, zona norte da Capital, tem um motivo para se orgulhar que vai além do que os alunos aprendem em sala de aula. A instituição é um celeiro de judocas campeões. Atualmente, 12 crianças têm aulas gratuitas do esporte no colégio _ destas, quase metade já foi campeã estadual do esporte em diversas categorias. O projeto, idealizado pelo segurança Paulo Ricardo Machado Batista, 41 anos, um ex-aluno da instituição, existe há cerca de um ano e meio. Quem ministra as aulas voluntariamente é o sensei (em japonês, mestre) Roberson dos Passos, 40 anos, membro da academia Ritmo Judô.
Segundo Paulo, a ideia surgiu em um grupo de ex-alunos que viam o ambiente escolar depredado. Depois de organizar um mutirão para a reforma de várias áreas da escola, o segurança encontrou os equipamentos esportivos por acaso enquanto explorava o espaço.
– Um antigo projeto da escola tinha terminado por falta de verbas. Mas ficaram os quimonos e peças do tatame. Então, pedi autorização da direção da escola e procurei o Roberson. Servimos junto no exército, ele topou na hora ministrar as aulas gratuitamente – recorda Paulo.
Consequência
Criador da academia Ritmo e também sensei, João Osório Marques Ribeiro, 67 anos, acredita que os títulos conquistados pelos alunos da escola Bento Gonçalves são uma consequência da dedicação da gurizada:
– O judô é um esporte para todos, o foco não é ganhar todas essas medalhas, mas sim dar oportunidade para todos que quiserem participar.
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O professor Roberson acredita que o esporte muda realidades, tirando os pequenos do convívio com cenas comuns da violência urbana que atinge bairros mais pobres da cidade. Paulo recorda que, inclusive, um dos alunos já agradeceu aos organizadores do projeto por terem salvo sua vida. Hoje, com 18 anos, Marco Aurélio Menezes Ferreira, recorda o caso:
– Teve um tiroteio aqui e morreram três guris. Eram pessoas com quem eu andava antes de conhecer o projeto. Possivelmente, eu estaria com eles se não fossem as aulas de judô. Por isso, sou grato pela existência desse lugar.
Padrinhos ajudam a tocar ação
Totalmente sob responsabilidade de voluntários, a ação conta com padrinhos para auxiliar nos custos de deslocamento para campeonatos e outras despesas. Atualmente, são 20 pessoas que fazem parte deste time de auxílio. A diretora do colégio, Rosane Rodrigues Beltrão, explica a importância dessas pessoas na continuidade do projeto.
– Muitos nunca vieram aqui, mas conhecem a iniciativa, por isso ajudam. É muito bonito ver as crianças conquistando títulos, mas precisamos sempre de auxílio para chegar nos locais das competições, que ocorrem em diversos pontos do Estado. Com o auxílio desses padrinhos, isso se torna possível.
O resultado do trabalho pode ser visto no ranking da divisão de acesso da Federação Gaúcha de Judô (FGJ). A equipe da Ritmo Judô, formada em boa parte por alunos da escola Bento Gonçalves, ocupa o terceiro lugar entre os 55 times presentes na tabela.
Orgulho dos pais
Aos nove anos de idade, André Luís dos Santos Boeira é um dos orgulhos da turma. Neste mês, o pequeno conquistou o título estadual na categoria infantil. Junto da mãe, a dona de casa Ana Carolina dos Santos, 29 anos, e da irmã Aline, de um ano e meio, exibe um quadro com as medalhas conquistadas. Tímido, ele só esbanja sorrisos quando é elogiado. A mãe é só orgulho.
– Fico muito feliz pelas conquistas dele. Está desde o começo aqui no projeto, e agora está colhendo os frutos do esforço dele – conta Ana.
Outros nomes de destaque no time são os irmãos Christofer, 15 anos e Rithyelen, 13 anos. Os dois são filhos de Paulo, idealizador do projeto, e da berçarista Jucélen Batista, 41 anos. Para a mãe, o judô mudou muita coisa na vida da família. Entre os fatores apontados por ela, estão o aprendizado da disciplina e o respeito com o próximo. Além disso, a melhoria do condicionamento físico também é um ponto positivo.
– As coisas ficaram bem mais calmas, eles estão menos agitados e muito mais respeitosos. Estão dando bem menos trabalho – brinca a mãe, orgulhosa, que veste uma camisa do projeto com a inscrição "mãe de atleta".
Como ajudar
/// Quem estiver interessado em apadrinhar o projeto de entrar em contato com o colégio pelo telefone (51) 3367-1442.
/// Também é possível entrar em contato com Paulo pelo telefone (51) 98524-5178.