Paredes também envelhecem, sabia? A tinta descascada. A cicatriz feita por um encosto de cadeira. O risco que ninguém lembra como apareceu. A umidade que chega de mansinho. Os gostos que mudam. A cor que perde a cor. Mas o que realmente mostra a passagem do tempo numa parede são os furos que ela ganha ao longo da vida. A menos que você nunca faça modificações em casa, suas paredes vão acumular furos. Alguns serão tapados e disfarçados. Outros vão ficar lá pra sempre. 

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A nova TV tem encaixes diferentes que a antiga, pode apostar. Até se for da mesma marca. É a lei da vida. Na hora de colocar a novidade no lugar, vem a constatação: precisa furar. Quanto mais as paredes ganham furos, mais as trenas e fitas métricas se sentem úteis e salvadoras. Buchas também adoram quadro novo em casa. É a chance delas (e dos parafusos) fugirem da caixa de ferramentas. A chave de fenda é solicitada. A furadeira vibra. Cadê o lápis pra marcar o furo? Riscar a parede está permitido. 

Confusão

Furadores solitários são grandes guerreiros. O resultado acaba sendo igual, se bem que a diversão não é a mesma. Ter ajudantes é garantia de confusão. De brigas e risadas. De momentos de tensão. O pessimista vai lembrar que pode ter um cano ali. A louca do paninho (eu) vai querer limpar tudo em tempo real. Dúvidas surgirão a cada minuto: será que tá reto? Tem certeza? Que maravilha é a sensação de vitória quando tudo dá certo. Que a família continue unida depois da função. 

Paredes alugadas são menos furadas. Serão mais felizes? Existem adesivos dupla face pra evitar furos. Mas alguma marquinha sempre fica. Paredes envelhecem porque se enchem de vida. Furos que sobram não se sentem abandonados. As buchas estarão lá, fazendo companhia. E perto dali, na vizinhança da parede, algum par de furos habitará o mesmo metro quadrado. Que venham mais quadrinhos de viagem pra pendurar. Os furos na parede formam um mapa de lembranças.