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Seu Problema é Nosso

Após vencer competição de muay thai na Tailândia, Simoni retorna com planos para o futuro 

Simoni dos Santos, que cresceu na Bonja, alcançou o pódio de campeã mundial de Muay Thai. A lutadora foi recebida com festa no aeroporto de Porto Alegre 

27/03/2019 - 10h51min

Atualizada em: 27/03/2019 - 10h59min


Mateus Bruxel / Agencia RBS
Medalhista, agora em busca do Bolsa Atleta

— Parabéns, Simoni! 

É o que mais se ouve quando ela sai na rua. Com um sorriso no rosto e uma medalha de campeã mundial de muay thai no pescoço, Simoni dos Santos, 32 anos, está de volta à Vila Nova, na Capital

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A história da lutadora foi contada na edição de 22 de fevereiro. Simoni conquistou medalha de ouro na categoria Sênior 60 quilos no torneio da World Muay Thay Organization (WMO), em Bangcoc, na Tailândia. Antes, arrecadou o valor da viagem por meio de vaquinha online, venda de rifas e apoio da academia em que treina. 

— Foi tudo maravilhoso. Não acreditava que tinha vencido. Vivi um sonho. É tudo tão diferente, a comida tem muita pimenta e, para mim, foi fácil perder peso. O que mais senti falta foi do feijão — relata a atleta, que, antes da viagem, conhecia apenas Porto Alegre e Canoas. 

Marco Favero / Agencia RBS
Chegada no aeroporto: com toda a família

A chegada no Aeroporto Salgado Filho ocorreu na sexta-feira passada. Ela foi recebida com flores, balões, cartazes e a emoção da família. O momento de reencontro com o marido, os quatro filhos e a prima foi de muita alegria. A lutadora também foi recepcionada com festa na academia onde treina. 

A atleta conta que sua rotina não sofreu alterações após a luta. 

— Fui campeã, e o que mudou? Nada. Estou com contas para pagar, tenho que trabalhar, dar atenção para minhas crianças e limpar a casa — afirma Simoni, de forma descontraída, sobre o retorno. 

Contudo, os treinos não param. Entre os planos para o futuro, Simoni passará a dar aulas de lutas marciais e têm objetivos maiores: 

— Vou focar no MMA (artes marciais mistas) e tentar chegar ao UFC (Ultimate Fighting Championship), que é o sonho de todo lutador. 

O título do torneio que lutou concede a Simoni chances de concorrer a uma vaga no Bolsa Atleta, programa do governo federal que patrocina atletas brasileiros de alto rendimento em competições nacionais e internacionais. O trâmite é de responsabilidade da Confederação Brasileira de Muay Thai.

Nocaute técnico  

Simoni teve três lutas, pois foi cabeça de chave na categoria — quando atletas com melhor colocação não fazem as primeiras lutas para não serem eliminados no torneio. Ou seja, no caso dela, ela foi cabeça de chave por sorteio e passou direto para as finais. A final foi contra uma lutadora da Alemanha, em 18 de março, às 9h (pelo horário de Brasília): 

— No primeiro dia, fiquei muito nervosa, pois as atletas são maiores que eu. Na final com a alemã, eu deixei ela dar dois socos para sentir o peso da mão. Vi que ela só tinha tamanho, mas o soco não era tão forte. Aí, soltei a minha mão nela. 

Ela finalizou no segundo round com um nocaute técnico — quando o juiz decide que não é seguro continuar a luta. Segundo ela, um sangramento no nariz da opositora foi o fator da declaração do nocaute.   

Mateus Bruxel / Agencia RBS
Faixa abençoada participou da luta

Confiança apesar do medo

— Quando o medo vinha, eu entrava no banheiro, me ajoelhava e dizia: “Deus, não me abandona”. Ele me respondia. Apesar do medo, eu estava confiante. No final da luta, agradeci a Ele — relata Simoni. 

Um acessório especial fez parte do confronto. Ela enrolou na mão um lenço que foi abençoado na igreja que frequenta, e, por cima, colocou a luva. 

Nascida e criada no bairro Bom Jesus, a vida de Simoni foi de muita dificuldade. A paixão por lutas existe desde os sete anos, quando ela fugia das aulas de balé em um projeto social na UFRGS para praticar judô. No mesmo período, por causa da condições familiares, ela cuidava de carros e pedia dinheiro em semáforos. Se afastou do esporte na adolescência, quando descobriu a primeira gravidez. 

Mateus Bruxel / Agencia RBS
Lutadora, mãe e campeã: Simoni está de volta em casa

Quase dez anos depois, a reaproximação dos tatames veio como forma de superar a depressão advinda da perda de dois irmãos. Após conseguir bolsa em uma academia, Simoni conquistou primeiras colocações em oito campeonatos em solo gaúcho. Na Copa RS de Muay Thai, foi classificada para participar do mundial em Bangcoc. 

Diferença 

Competir só foi possível graças a uma rede de solidariedade, que somou cerca de US$ 1 mil (R$ 3.870) para o custeio de hospedagem e alimentação. 

— Há dois anos, se me vissem na rua, pensariam: “é só mais uma brasileira sofrida”. Mas o muay thai entrou na minha vida e fez muita diferença como mãe, pessoa, lutadora, colega, como esposa para meu marido. Tudo mudou e, por isso, devo muito a Deus — finaliza.  

Produção: Caroline Tidra

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