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Coluna da Maga

Magali Moraes: o caso Bernardo e o descaso com a infância

Colunista escreve às segundas, quartas e sextas-feiras no Diário Gaúcho

12/03/2019 - 10h40min


Fernando Gomes / Agencia RBS
Magali Moraes

Quanto mais eu leio sobre isso, mais revolta o estômago. E fico pensando se tudo não é uma questão de sorte ou azar. Por que algumas crianças tiram a sorte grande de nascer em ambientes cheios de amor, enquanto outras dão o azar de pertencer a um núcleo familiar doente e nocivo? Dá pra chamar de família um pai e uma mãe (ou madrasta) que envenenam o filho pra se livrar de um estorvo? Em que momento um casal se torna uma dupla de monstros e deixa a crueldade tomar conta?

Mas Bernardo Boldrini teve sorte, sim. Ao longo da sua curta infância, ele encontrou outras famílias que o acolheram em seus lares. Que prepararam lanche pra escola, deram remédio, roupa, cama quentinha e desejaram boa noite. Que mostraram a diferença que faz ter afeto e proteção. Carinho emprestado é sempre carinho. Li em algum lugar que ele gostava de abraçar. E deve ter sido bastante abraçado por todos aqueles que conquistou. Sem laços de sangue, com um vínculo muito maior.

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Bem-querer

Quem disse que família precisa ter o mesmo sobrenome que o nosso? Se tiver amor, respeito e um genuíno bem-querer é família e pronto. É ter pra onde ir, um colo pra se jogar, alguém pra nos ouvir (e receber de volta esse afeto). As outras mães e pais que Bernardo ganhou nessa triste jornada devem ter tentado suprir a falta de tudo que ele nunca teve. Tarefa difícil, que requer dedicação. Se a vida corrida às vezes nos impede de dar atenção aos de casa, imagina aos que surgem no meio do caminho.

Desde segunda-feira, quase cinco anos depois, está acontecendo o tão esperado julgamento. A gente só pede que haja justiça. Muita! Pelas pessoas de bem que acolheram o menino e vivem até hoje esse luto, dor e revolta. Por uma vida que poderia ter tido um destino mais feliz. Pelas crianças que não nasceram com a mesma sorte que os nossos filhos. Tantas notícias ruins endurecem o coração da gente. Nesse caso, é mais que um crime. É o descaso com a infância.



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