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Papo Reto

Manoel Soares: "Deficiência é não ter nada que impeça e, mesmo assim, não ir à luta"

Colunista escreve nas edições de final de semana do Diário Gaúcho

30/03/2019 - 07h00min


Arquivo Pessoal / Arquivo Pessoal
Manoel pegou uma carona com Matheus

Tive a alegria de conhecer nesta semana um motorista de aplicativo que é surdo. Matheus tem 25 anos e é surdo desde os primeiros 10 dias de vida. Ele usa placas com frases de perguntas e respostas para se comunicar com os passageiros. A mãe dele, dona Lilian, me contou que antes de virar motorista de app ele estava em casa deprimido, há dois anos sem emprego. 

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Isso me botou para pensar como reduzimos pessoas com algum tipo de deficiência ao seu problema. Às vezes parece que eles não têm identidade. Olhamos e concluímos algo sem nem sabermos se é mesmo. 

Quando este rapaz surdo me contou que gostava de samba, tive a cara de pau de perguntar como ele sabia diferenciar samba e funk. Foi então que ele me contou que sentia a vibração dentro do carro. Eu nunca parei para pensar que, quando o alto-falante de toca uma música no carro, as vibrações do samba e funk são diferentes. 

 Eu não o chamaria de pessoa com deficiência, mas de eficiente, por ele e tantos outros conseguirem coisas que nós não conseguimos.  A audição dos cegos é mais apurada do que a de quem vê. Os braços de um cadeirante são mais fortes do que os nossos. O olfato de um surdo é mais apurado, e por aí vai. 

As pessoas com deficiência desenvolvem seus sentidos para compensar o que falta. Cegos são aqueles que não veem o potencial deles, surdos são os que ouviram milhares de histórias de sucesso e ainda os trata como coitadinhos, cadeirantes são os que podem andar e não fazem nada com essa possibilidade. Deficiência é não ter nada que impeça e, mesmo assim, não ir à luta.

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