Transporte Público
Em quatro meses, empresas de ônibus da Capital receberam 929 notificações por descumprimento de horários
Carris é a que recebeu mais avisos: 434 no período
A sensação de estar tempo demais esperando pelo ônibus pode ser mais do que uma mera impressão. Entre janeiro e abril deste ano, a Carris e os quatro consórcios que operam em Porto Alegre receberam 929 notificações por descumprirem os horários determinados pela EPTC. O valor da multa é R$ 496,16 por autuação.
Cada ônibus que circula na cidade tem uma tabela de horários elaborada pela EPTC. Os horários, disponibilizados no site da prefeitura, devem ser seguidos à risca. Entretanto, o número de notificações aplicadas demonstra que isso nem sempre acontece.
A campeã de notificações por descumprimento de horários é a Carris, que opera 33 linhas. Entre janeiro e abril, a empresa recebeu 434 alertas por não estar seguindo as tabelas de horários. Em segundo lugar, estão os consórcios Via Leste e Mais, que operam 110 linhas e receberam 300 notificações pela mesma razão. Apesar de serem dois consórcios, a EPTC considera os dados juntamente por eles operarem na mesma bacia, que é a da Zona Leste. O consórcio MOB, que opera 118 linhas, recebeu 174 autuações. Com 21 notificações, o consórcio Viva Sul ocupa o quarto e último lugar do ranking dos atrasos. O consórcio Viva Sul é o que mais opera linhas na Capital: são 164 itinerários.
Durante a semana passada, motivado por diversas reclamações de leitores, o Diário Gaúcho acompanhou a saída de ônibus da Carris em terminais da região central e da Zona Sul. Entre as linhas observadas, estão a T1, T1D e T3. Em dois dias, dos 32 horários observados, em seis nenhum ônibus partiu na hora em que deveria.
Fadiga
A Carris garante que possui veículos suficientes para o cumprimento de suas tabelas. Entretanto, a empresa assume que “em decorrência da fadiga dos veículos, da falta de manutenção preventiva em anos anteriores e de faltas e/ou atrasos de colaboradores, podem ocorrer situações de não cumprimento de horários”.
Leia também
Ônibus novos da Carris devem começar a rodar no segundo semestre
Prefeitura aumenta vida útil de ônibus que estavam "vencidos"
Risco de extinção de carreira de cobrador desafia trabalhadores a planejar o futuro
Nesta terça-feira, a reportagem flagrou o motorista da linha T3 colocando água no radiador do ônibus para conseguir seguir o itinerário. A Carris anunciou a compra de 87 novos ônibus para sua frota. Os veículos devem chegar no segundo semestre.
Extinção de linhas é descartada
Diversos relatos sobre o fim de linhas que operam na Capital chegaram à reportagem nas últimas semanas. Entre os itinerários citados estão o T1D e o T3, da Carris. Além disso, também são citadas as linhas TR62 (Troncal Baltazar) e 631 (Parque dos Maias), do consórcio MOB. Conforme a EPTC, não há nenhum pedido da Carris em andamento para extinção de linhas. A companhia pública de ônibus também confirmou que não está em seus planos pedir à EPTC alteração ou extinção de alguma linha.
Entretanto, em relação às linhas TR62 e 631, a ETPC confirmou que o consórcio MOB fez um pedido de readequação dos itinerários. A empresa responsável pela gestão do transporte na Capital diz que a requisição “está em avaliação, mas não deve ser atendida, pois não cumpre requisitos do edital, em relação ao atendimento da demanda de passageiros”.
A EPTC reforça ainda que “este tipo de solicitação de readequação de linhas de ônibus, por parte dos consórcios, é rotineiro”. Porém, a maioria dos pedidos não é aceita. A possibilidade de requisição está prevista em contrato e ocorre em razão de fatores como a concorrência dos aplicativos ou a diminuição de passageiros.
Passageiros relatam rotina de atrasos e superlotação
Quem está nas paradas espalhadas pela Capital sente os efeitos do descumprimento de horários. Para os passageiros, o maior problema é nos horários de pico. A cada ônibus que deixa de aparecer, aquele que está cumprindo a tabela fica ainda mais carregado. É o que observa a enfermeira Adriana Maicá, 45 anos. Para ela, a superlotação torna o trajeto complicado:
– De manhã, é difícil para entrar no ônibus. Às vezes, preciso esperar passar dois ou três até chegar um que eu consiga entrar.
Para a estudante Andrielle Ribeiro, 18 anos, os atrasos viraram rotina. Usuária do T3, ela conta que até se habituou a sair mais cedo de casa para evitar atrasos nas aulas. Mesmo assim, conta que a situação acaba se repetindo em alguns dias.
– Depois de enfrentar a batalha que é entrar no ônibus de manhã, preciso contar que ele vá chegar ao destino na hora. Só que isso nem sempre acontece.
O plano de sair mais cedo de casa também é seguido por Carlos Augusto Conceição Ribeiro, 25 anos. Operador de loja no BarraShopphingSul, Carlos costuma se dirigir à parada por volta do meio-dia. Sua entrada no serviço é apenas às 13h30min.
– Nesse ano parece que piorou, está demorando ainda mais – conta ele.
Para Carlos, a situação fica mais complicada ainda no retorno para casa. Ele deixa o serviço depois das 22h, mas só consegue pegar um ônibus perto das 23h.
– Quanto mais tarde, menos horários tem. E no inverno vai ser complicado ficar na parada com o frio e a chuva constante – confessa.
Como reclamar
/// A EPTC pede que usuários do transporte coletivo urbano de Porto Alegre façam o registro de reclamações e sugestões. O contato é via telefone 118.
/// Pessoalmente, o atendimento é na Avenida Erico Verissimo, 100, de segunda a sexta-feira, das 9h às 16h.
/// É possível reclamar pela internet, no site: eptc.com.br/eptc–118/reclamacoes.asp