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Coluna da Maga

Magali Moraes e o manequim de loja

Colunista escreve às segundas, quartas e sextas-feiras no Diário Gaúcho

12/05/2019 - 20h57min


 

Fernando Gomes / Agencia RBS
Magali Moraes

Enquanto você reclama da agitação do dia, ele está lá. Entediado até a raiz dos cabelos plastificados. Preso na vitrine com um sorrisinho amarelo, sabendo que nunca vai sentir o gostinho de menta da pasta de dentes. Vivendo uma rotina onde nada acontece, só vendo a vida dos outros passar. Ser manequim de loja é desumano. Olhando de fora, a gente acha que eles fazem companhia uns pros outros. Mas é só aparência. Ou você já viu dois manequins conversando animados?

Esse é outro problema. A frieza das relações. Manequins não cumprimentam, não correm pro abraço. O único contato físico é por motivo profissional. Alguém precisa vestir o manequim. E ele ainda é obrigado a trocar de roupa na frente de todo mundo. Privacidade zero. Arrancam seus braços pra enfiar uma camisa que ele não escolheu. Soltam o tronco das suas pernas pra vestir uma calça e nem adianta espernear. Azar se ele odeia pochete. Se tem pavor de canela de fora. Voltou a ser moda, volta pra vitrine.

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Compaixão

E o que a gente faz? Presta atenção no tecido, no caimento e principalmente na etiqueta de preço. Nenhuma compaixão com o manequim. Ficamos parados na sua frente fazendo contas e planos. Imaginando em que ocasião vamos usar a roupa e com quem. O coitado não fala, mas se sente excluído. Pior é manequim de loja esportiva, que usa tênis e não pode correr pra lugar nenhum. E manequim infantil? Que tristeza ver aquelas criancinhas paradas, num eterno brincar de estátua.

Agora o que me incomoda mesmo são as manequins, especialmente as de loja chique. Cada vez mais esqueléticas! Seus corpos envergam pra trás, de tão magros. Nenhuma barriguinha marca na saia. Braços finos como gravetos. Fiapos de pernas que mal param de pé. E elas, que teriam motivo pra sorrir, não conseguem. Qualquer roupa cai bem num cabide com pescoço e cabeça. Como alguma mulher de verdade vai se identificar? Depois a gente sofre na frente do espelho, e não sabe por quê. 


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